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CARTA DO PADRE QUIRICIO CAXA, DA BAHIA DE 13 DE
JULHO DE 1565 QUE ESCREVEU AO PADRE DOUTOR
DIOGO MIRÃO, PROVINCIAL DA COMPANHIA DE
JESUS.

Depois de ter escripto a V. R. o irmão José das novas e bom successo do Rio de Janeiro, chegou aqui a nau capitanea, que lá ficara quando elle veiu, pera se concertar por estar muito desbaratada, na qual vieram muito boas novas e confirmação das passadas e de o Senhor ter por bem levar aquillo avante.

Bem parece ser obra que muito releva a gloria do Senhor, pois com tão poucas forças humanas se faz resistencia a tantas forças dos contrarios Tamuyas e Francezes peiores que elles. V. R. a deve mandar favorecer com as orações de todos os Padres e Irmãos, e com os mais remedios humanos que for possivel.

Ao tempo que o Irmão de lá partiu ficavam esperando por um combate mui grande de contrarios e Francezes que haviam de vir com elles em sua ajuda, pera o qual andavam lá appellidando toda a terra, parecendo-lhes que aqui não acabasse agora no principio quando as forças dos Christãos eram poucas, que nunca o acabariam. Juntou-se muito Gentio que seriam uns 3.000, que foi o que se poude saber, e vieram em 160 canôas com... espadas, espingardas e bombardas, que os Francezes lhes dão. E para mostrar Nosso Senhor mais o seu poder e mais lhes quebrar a elles os corações, ajuntaram-se com elles em sua ajuda tres naus francezas de Lutheros e Calvinos, as quaes elles foram appellidar ao Cabo Frio, onde ellas estavam, de modo que, uns por terra outros por mar, determinaram de concluir a que vinham; os Gentios em terra fizeram suas cercas o melhor que puderam pera offender aos Christãos e defender-se delles e pouco e pouco se vinham chegando até abalroarem com a fortaleza; os Francezes por sua parte determinavam fazer o mesmo por mar, e si Deus Nosso Senhor não os ajudára, cercados estavam elles de maneira que muito mal escaparam, quando viram as naus e reconheceram serem francezas, porque ao principio cuidaram que eram barcos da costa que lhes levavam mantimentos e soccorro.

Puzeram apontar uma espera e a primeira que chegou que era a capitanea, a qual ia mui soberba com estandartes e bandeiras de seda, pifaro e tambor de guerra, foi varada da pôpa á proa com a espera, com o qual recebeu muito damno, e sendo alguns mortos acudiram-lhe com outros e com elles, ou Deus assim quereria, foi dar a nau sobre uma lage que está á entrada

do Rio, onde correu muito perigo, mas foi ajudada dos Indios com suas canoas e com chalupas, e com a maré que enchia a tiraram fóra ; estando elles nisto chegou Estacio de Sá, que era Capitão-mór, com muitos frecheiros e não achando resistencial fez nelles muita destruição. As outras duas, que depois entraram, foram tambem salvadas... todavia entraram pelo Rio a dentro, que lho não puderam tolher os nossos, por não haverem tido logar pera apparelhar como convinha a nau capitanea e os demais navios; porém foram depois a ellas. matando-se quasi toda a gente da fortaleza a nau capitanea por o haverem de abalroar e pellejar com os Francezes, que eram muitos, chegando-se deu-lhes uma grande tormenta com que... defender-se o Senhor que tomou isto a cargo os não livrára... tiros da cidade e muito fogo e suspeitando o que podia ser fizeram signal aos navios de remos, que estavam mais perto dos Francezes e recolheram-se á cidade na qual os Indios por terra haviam dado com muita força, por lhes parecer que parecer que nella não achariam resistencia pelos poucos que haviam ficado, e que captivariam e comeriam as mulheres que nella houvesse; porém succedeu-lhes muito ás vessas, porque elles foram fugindo ficando muitos mortos e muitos dos que fugiram, quebrados os braços e pernas, e muitos mal feridos dos tiros. Reparando-se os nossos o melhor que puderam por mar e por terra, tornaram ás naus pelo Rio abaixo e surgiram de fronte do porto da cidade, e com elles 160 canôas dos Tamuyas, e começaram de se pôr em som de guerra e começando a atirar algumas bombardas, saltaram em terra o Gentio e Lutheros e chegando-se á cidade foram mui bem recebidos, muito ao contrario do que elles tinham para si, Vendo que não faziam fruito, antes recebiam muito damno, levantaram tendas e foram-se pelas tranqueiras e cèrcas que tinham feitas, e pegaram-lhes fogo e ficou o Gentio tão cheio de medo que não ousa apparecer por mar nem por terra, e ás suas mesmas aldeas vão já os mancebos a os matar e captivar.

As naus sahiram-se fóra, e querendo-as seguir o CapitãoMór ao outro dia, por aquelle ser tarde, ellas tomaram melhor conselho, e acolheram-se aquella noite ao mais fugir que puderam; não ganharam nada desta viagem, mataram-lhes muita gente, entre a qual foi o seu Capitão-Mór. Teve-lhes o CapitãoMór duas naus rendidas si não fugiram, alargando as amarras por mão e outras perdas que elles sentiram, do qual ficaram muito magoados e determinam de se vingar. Estão recolhendo muito Gentio e aguardando uma armada grossa de França, que

lhes ha de vir em soccorro pera Outubro, segundo o elles dizem; cousas são estas e pressas para Vossa Reverendissima os mandar encommendar ao Senhor e fazer com Suas Altezas todo o possivel que mandem soccorro áquella terra com muita diligencia, porque se não perca por negligencia e descuido o que com tantos trabalhos, como ca se sabe, se ganhou, e si os merecimentos dos Capitães fazem alguma cousa pera serem ajudados e favorecidos nas cousas arduas e grandes que emprehendem em serviço de seu Senhor e Rei, os de Estacio de Sá são taes quaes convêm a um Capitão afamado por sua prudencia e sizo pera detreminar-se e quando ha de accommetter, e seu animo e esforço e cosntancia pera acommetter, e seu animo e esforço e constancia pera acommetter e levar adiante o detreminado.

CARTA DE BALTHAZAR FERNANDES, DO BRASIL, DA CAPI-
TANIA DE S. VICENTE DE PIRATININGA AOS 5 DE
DEZEMBRO DE 1567.

Partiu-se desta capitania pera o Rio de Janeiro, de onde tinhamos vindo com o padre Luiz da Grã e o padre Manoel da Nobrega, e o tempo que chegou a esta capitania vespera de Santiago, onde chegaram todos a salvamento; mas dahi, querendo partir pera a bahia de Todos os Santos e outras capitanias, tres vezes commetteram-n'o por mar, sem poderem passar Cabo Frio, com ventos contrarios e tempestades, e determinando-se a esperar pola monção que vem em Março, todavia o padre Ignacio de Azevedo tinha tão grandes desejos de passar, que mandou o Governador, que está tambem no Rio, fazer uns bordos a um caravelão que navega bem pola bolina, com 20 ou 30 remos, pera assim poder passar o Padre, e tambem pola necessidade que havia de passar este caravelão a dar rebate ás capitanias que acudissem ao Rio com mantimentos, por se começar a sentir falta delles.

Do estado em que o Rio está, creio que será V. R. sabedor por outras por isso não escrevo isso largamente. A somma disso é estar o Governador em paz com o Gentio da terra, e os Francezes estão botados já fóra della por guerra, ainda que todavia não deixam de vir algumas náus ao Cabo Frio a fazer suas fazendas e levar brasil, contra quem não póde ir a nossa armada (ainda que pequena) polos tempos contrarios. Faz na cidade do Rio quanto pode. Li em uma carta que de lá veiu, que havia já nelle

150 e tantos mercadores e que os mais delles tinham já suas mulheres. A terra é das boas que ha no Brasil; tem muito brasil, algodão e póde ter muito assucar como o prantarem, e muito mantimento, e muitos legumes, e muitas carnes, como gado vacum, que já ha principio delle, e tem muito pescado e bom, e tudo o demais que é necessario pera a vida, está em bom sitio e

tem bons ares.

ANNUAL DO BRASIL PARA A PROVINCIA TOLETANA E
ARAGONEZA, DO ANNO DE 1567, PELO PADRE

FRANCISCO GONÇALVES. 16 DE JANEIRO DE
1568 (TRADUCÇÃO DO HESPANHOL).

Cinco mancebos de boa vida e exemplo pedem ser admittidos na Companhia e porventura foram já todos recebidos por haver um anno que perseveram, si não foram dilatados pela vinda do padre Ignacio e do Padre Provincial, dos quaes temos novas que partiram de S. Vicente, mas por causa dos ventos contrarios arribaram ao Rio de Janeiro, onde está o Governador acabando a cidade de S. Sebastião, a qual, depois de vencer os Brasis e Francezes que alli havia e feitas pazes, mudou para outro logar mais forte e mais accommodado, como de lá mais largamente escreverão a Vossa Paternidade os nossos que ahi residem, onde, segundo nos dizem, está grande porta aberta para a conversão daquella Gentilidade, da qual temos noticia ser mais capaz de doutrina do que esta da Bahia.

Cartas dos Padres da Companhia de Jesus sobre o Brasil,
desde o anno de 1549 até ao de 1568.

Doc. n. 9112 do Cat. da Exposição de Hist. do Brasil.

(Interpretação ou traducção do prof. Capistrano de Abreu e
Alfredo do Valle Cabral para os Materiaes e Achégas

para a Historia e Geographia do Brasil. Ns. 7-8.)

RELAÇÃO dos actos que se referem a Mem de Sá ou

por este foram expedidos e que constam do Livro 1. do Registo dos Provimentos Seculares e Ecclesiasticos da Cidade da Bahia e Terras do Brazil.

Carta regia, pela qual Sua Magestade fes merce a Mem de Sá de Governador Geral das Capitanias do Brazil por 3 annos com 400$ rs. de ordenado. 23 de Julho de 1556.

Alvará, por que Sua Magestade fez merce ao Governador Mem de Sá de 200$ rs. mais, alem dos 400$ rs. do seu ordenado. 21 de Agosto de 1556.

--Carta Regia escrita ao Bel. Francisco Fernandes em que Sua Magestade lhe louva a sua conducta sobre o provimento das Couzas espirituaes, e em que lhe participa ter escrito ao Cabido, que no cazo de ser falecido o Bispo lhe dê a Comissão de Provizor e Vigario Geral do Bispado (e recommenda que nas cousas de mais substancia ouça o parecer de Mem de Sá que vai por Governador). 4 de Fevereiro de 1557.

Ordem regia para se dar ás seis orfans, que vierão ao Brazil, quanto fosse necessario para seu sustento, emquanto não cazassem. 20 de Abril de 1557.

Alvará por que Sua Magestade fes merce ao Ouvidor Bras Fragozo de Provedor mor da Fazenda do Brazil. 3 de Agosto de 1557.

Provimento do Governador Mem de Sá para Balthazar de Sá servir de Capitão da Galé Conceição. 13 de Janeiro de 1558

Provimento do Governador para Francisco de Moraes servir de Escrivão dos defuntos, e Alfandega, por ter cazado com hua das Orfans vindas de Lisboa. 27 de Janeiro de 1558.

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