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Armadores por especulação, e aquelles, que menos podem perder, porque as costeião com dinheiro de risco, e nesta exposição assim formalizada, quando mal succedida, nada perdem.

Em os primeiros tempos esta expedição Africana em cada hum anno andava por vinte navios de duzentas a trezentas caixas de assucar; e para que os vinte navios deste lote successivamente partissem, e estivessem promptos, se fazião precisos outros vinte, que de sobresalentes já ficassem fabricando e costeando-se para o seguinte anno, tudo para o fim de que levando cada navio 48. Mangotes, negociando 500 escravos, pudessem no retrocesso annual fazer bons os nove a dez mil escravos, precisos na substituição dos falecidos para sortir em Minas as fabricas da extracção do ouro, e na Comarca, e Capitania da Bahia aos serviços domesticos, e a todo o genero de Agricultura. Hoje porém attentos os infortunios, e tão repetidas perdas, apenas se expedem doze navios, quando aliás são precisos vinte, os quaes, hindo a medo, só importão 6$. escravos que não chegão para estes supprimentos, e substituições.

Pelos annos de 1754 se regia esta negociação de escravos para a Costa da Mina em esquadras de cinco navios, dando humas ás outras tempo para que primeiro fizessem a sua negociação, e para que sucessivamente em aquella costa, e nos portos limitados estivessem sempre negociando navios Portuguezes, e deste modo assim se expedião em circulo annualmente os referidos vinte navios. Hoje porém são mandados avulsamente, e esta negociação desgraçada aproveita todo o genero de embarcações de 2$. a 3$. Mangotes. Desde os annos de 1754 até 1775 sempre se exportárão da Costa da Mina para a Bahia 10$. escravos para o supprimento de Minas, dos serviços particulares, e domesticos, de toda a Agricultura em geral, e dos muitos fabricos, que delles necessitão, e dependem, e do referido anno em diante esta dita negociação tem esfriado, e se acha reduzida a transportar tão somente 6$.

escravos.

A razão providente desta desanimação foi proveniente, de que dantes, e de primeiro em a Costa da Mina se negociava cada hum dos escravos de seis a dez onças, de seis a dez Mangotes na permutação, o que não deixava de fazer conta, havendo durado este preço até aos annos de 1775, o que não tem succedido assim dahi em diante, e esta alteração repentina foi proveniente, de que facultando-se posteriormente aos Francezes virem a Lisboa a tomar, e a fornecer-se de Mangotes para aquella especie de negociação, o que teve muito maior força dos annos de 1782 em diante, esta abundancia, e concurrencia de tabacos a hum tempo em os mesmos portos, fez com que a permutação de escravos subisse aos poucos de 1775 em diante de 10 a 14 onças, de 10 a 14 Mangotes, vindo a escravatura a ser tão cara em aquelles portos da Africa, por cada hum escravo feito vinha a importar em 140S000 rs. preço, porque elle pelo mais caro se venderia, e se compraria na Bahia, e

regularmente huns pelos outros a 100$000 rs, correndo por conta do Armador o risco do folego, os Direitos, a despeza da negociação, e o sustento da escravatura, e forão em aquelles portos tantas as desordens, pelos annos de 1783, e 1784, que todos os navios Portuguezes, perdendo as despezas, os generos, as soldadas, os comestivos aos Senhorios, voltárão desolados sem negocio algum, como já se disse.

Para se fornecer a negociação de vinte navios para aquelles portos Africanos, se deve fazer a conta á importancia de quarenta cascos, de 60$. Mangotes, de 10$. arrobas de carne salgada e secca, ao que lhe chamão do Certão, de 12$. alqueires de farinha de pão para a hida e volta, e para a sustentação da escravatura no retorno, e para o do costeio, e a 200 pipas de aguardente, posto que quarteadas para melhor effeito da negociação.

BALANÇO DOS FUNDOS, Q ̃ SÃO NECESSARIOS PARA
EM CADA HUM ANNO SE MANDAREM DA BAHIA
Á COSTA DE MINA VINTE NAVIOS A HIREM EFFEITUAR A
NEGOCIAÇÃO DE ESCRAVOS.

Importancia de 40 embarcações actuaes a 4:000$000 cada huma.......

160:000$000

Costeamento de 20 navios em cada hum anno a razão de...........

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Importancia de 60$. Mangotes a preço de 3S000 rs. cada hum....

180:000$000

Importancia de 200 pipas de aguardente a 50$000 rs.......................

10:000$000

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O resultado deste negocio vem a ser 6$. escravos entre pequenos, e grandes, machos, e femeas, que se vendem na Bahia, huns por outros a 100$000 rs.......

Lucros.......

600:000$000

900:000$000

He, além de erro manifesto, hum absurdo o dizer-se que esta especie de negociação de escravos em aquella Cidade, e Comarca he tanto necessaria e precisa, como indispensavel para se acudir ás substituições dos que falecem, estando occupados em os serviços domesticos, famliares e caseiros, em todo o genero de lavra, e de agricultura, e em todo e qualquer fabrico, e manufacturas, até mesmo com comprehensão dos que são mandados para as Minas para as grandes fabricas da extracção, e invenção do ouro. He outro erro o dizer-se que alli se consome o tabaco do refugo, quando aliás segundo os interesses, e os subornos dos Inspectores, para alli vai o melhor de ordinario.

Melhor se dissera que ella só se deve tolerar em quanto se adoptão com firmeza e estabelecimento outros principios de Economia mais uteis e mais interessantes á humanidade, e mais conformes á melhor razão. Todas as observações estão a favor, de que ella para sempre se finalize, se termine, se proscreva até com esquecimento da memoria dos homens. Todos os contratempos experimentados nas suas diversas épocas, parecem ter sido huns preludios, que afinando-a, estão prognosticando, e pedindo a sua extensão neste ultimo estado de ruina. Extraiamos os argumentos daquilo mesmo, que nós temos dito.

Já dissémos que no principio, e florecimento desta especie de negociação se recolhia em aquella mesma Cidade, e Comarca 10$. escravos dos quaes 48. subião para as Minas annualmente, e que 68. ficavão substituindo. no supprimento a Cidade, e aos reconcavos. Observamos que, descendo a 68. em os annos posteriores com maioria dos preços, tudo se remediára, sem que se tenhão parado, e extincto as Minas do ouro, que ainda hoje existem, sem que tambem nestes ultimos tempos tenhão dado baixa as plantações do assucar, e do tabaco, nem outras quaesquer; mas antes sempre conservado tudo em o seu mesmo pé, como se vê em as relações respectivas, quando não queiramos entrar nas affirmativas, de que alguma cousa mais ellas neste meio tempo se tenhão augmentado. Em termos taes, quando por huma hypothese se considerasse haver se faltado ás Minas do ouro com este supprimento, que prejuizo nisto teriamos quando vemos bem apezar do verdadeiro Patriota, que nesta especulação a ambição tem feito, com que se tenhão inutilmente gastado as forças, e hum immenso trabalho, sem que nada se ache, e quando se vem a achar, que o lucro nunca vence a despeza, e ao trabalho, que se tem despendido, sem que possa apparecer o desengano, e a certeza, de que não só he ouro o que se acha no centro da terra, o qual mesmo pelas nossas necessidades, a quem deveriamos primeiro acudir, vemos passar para as Nações estranhas. Ouro tambem he todo aquelle equivalente, de que estamos destituidos.

Observamos mais, segundo os nossos principios, e as nossas deducções, que os navios, que forão para a Costa da Mina a fazer escravos em os annos de 1783, e de 1784, retornárão estragados sem haverem feito negocio algum, e sem que houvessem trazido escravos, e nem por isso com damnos se atrazarão os estabelecimentos daquella dita Comarca, fazendo-se sensiveis pela diminuição das suas producções, que certamente não houvera, e não existira, quando aliás por tres annos não se soccorrera com escravos importados da costa d'Africa.

He verdade constantissima que em toda aquella Capitania da Bahia, a quem se suppre com a escravatura da Costa d'Africa, ha sem diminuição, mas antes com augmento, 200$ mil pretos escravos, ou pelo menos 200$ mil escravos. He outra verdade tanto mais constantissima, até demonstrada pelo

incremento das povoações principiadas, o que nos dá experiencia, que a producção dos homens na ordem dos viventes sempre vem a vencer muito ao numero dos que falecem. Nos pais de familias achamos o exemplo, que, falecendo dois que são os chefes, deixão estes muitos filhos, e ainda netos. He hum impossivel, que havendo os necessarios matrimonios entre os 200$ mil escravos, e a outra economia de serem assalariados os homens manumittidos, que, augmentando o numero, augmentão a propagação, que do remanecente já com o desconto aos falecidos, não se venha a apurar na liquidação hum equivalente de 6$. homens, que não só equilibre a perpetuidade dos escravos, e dos homens necessarios para o trabalho, mas tambem que estes cada vez mais se multipliquem, posto que insensivelmente com inteiro. desterro da negociação de escravos da Costa da Mina, ficando esta tida e conhecida por desnecessaria para sempre.

DO COMMERCIO DE ANGOLA, E DE BENGUELA, COM RESPEITO ÁQUELLA DITA CIDADE E COMARCA DA BAHIA.

O Commercio em estes dois portos he todo feito por Portuguezes. Os generos, e as fazendas, que sempre o sortião e fomentavão, vinhão a ser todos aquelles, que são fabricados, e manufaturados na Europa; os que pertencem á quinquilharia, a toda a especie de bagatellas, e mais fortemente, e a maior parte em fazendas de Surrate, e Balagate, Uzuartes, Cormandeis, Cadeaz, folhinhas, borralhos &a, e tambem, e de mais se fornecia de muitos generos, que erão proprios, e privativos do Paiz, como vinhão a ser, farinha chamada de páo, aguardentes da terra, telha, tijolo, assucar, e outros mais generos.

Até os annos de 1770 este dito Commercio se expedia, e se manobrava da Bahia para aquelles pórtos, e em razão desta expedição alli se compravão todos aquelles generos precisos, tanto Europeos, como Asiaticos. Como porém esta negociação se firmava, e vinhão a ser o seu forte os generos destas duas classes, desde 1770 entrarão a hir a este fim em direitura de Lisboa para Angola, e Benguela navios carregados, e abarrotados de generos desta ordem para alli serem negociados; assim como tambem da Bahia ficarão, ainda que em pequeno numero, sendo mandados, aquelles outros, posto que de menor lotação, carregados dos generos privativos daquelle paiz.

Attendida a desmembração deste Commercio, que até alli andava unido, e que se expedia de hum só porto, qual o da Bahia, os navios, que de Lisboa hião assim carregados, no seu retorno vindo carregados de cera, e de escravatura pela maior parte são mandados a descarregar e a vender a escravatura em o Rio de Janeiro aonde ella tem boa extracção, e melhor commodidade para o supprimento das Minas, vindo tão sómente para a Bahia algum destes por acaso, e muitas vezes inesperadamente, e com infallibilidade

A. B.

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e certeza só aquelles, que dalli partirá com os generos privativos do paiz, sendo este o estado actual daquelle Commercio e Navegação com respeito á referida Comarca da Bahia.

DO COMMERCIO DE MOÇAMBIQUE, E DA NAVEGAÇÃO,

QUE HOUVE PARA ESTE PORTO COM RESPEITO

A COMARCA E CIDADE DA BAHIA, CONCLUINDO-SE COM O ESTADO ACTUAL DE HŨA E OUTRA COUSA.

Posto que actualmente se não permitta, e se não conceda licença, para que daquella Cidade, e Comarca da Bahia se negocèe, e navegue em direitura. parao porto de Moçambique, comtudo revolvendo-se as memorias dos tempos passados, em peqnena e curta distancia se sabe, e se deprehende nos annaes desta historia abbreviada, e concisa, que em os annos de 1750 até 1760 se concedera licença para este fim, e intento a húa galera, e a duas sumacas. Destas huma se perdeo na hida, e a outra alli se vendeo com toda a sua carga, cujo producto se passára para Goa, donde retornara para a mão do seu Senhorio, e Proprietario em a náo de viagem, e a galera voltou á Bahia com trezentos escravos, e com buzio, ou caril, o que teve pouca acceitação.

Emo anno de 1764 se concede licença mais a huma sumaca, que depois de andar navegando alguns annos pela Costa do Natal até Quilimane, levando dentro de si seu dono, que regia o seu Commercio, e a mesma navegação, este se recolheo á Bahia bastantemente rico, e a este exemplo parece-me que não seria desdita daquella Comarca que em cada hum anno regularmente se facultasse licença a huma destas sumacas, havendo quem a pedisse, visto que alli ha abundancia de generos de boa acceitação em aquelles paizes, sobre os quaes logo fallaremos, apontando-os simplesmente, o que não he de desprezar-se, e muito mais attenta a desordem, e a carestia da costa da Mina, sobre que já fallámos.

Pelos annos de 1773, e 1774 se concedèrão licenças por duas vezes a huma mesma sumaca, que de ambas se recolheo á Bahia com boa negociação de escravos. Pelos annos de 1785 se concedeo licença para o mesmo fim a huma curveta, que para Moçambique navegára a titulo de hir levar passageiros, e prezos, e degredados, que na Bahia ficárão da não de viagem, cuja curveta se recolhera com transporte de escravos, a qual dera por noticia que em aquelle tempo e mesma occasião havião sahido daquelle porto de Moçambique dois grandes navios, Hollandez, e Inglez com 800 e 900 escravos.

Aquella dita Comarca da Bahia abunda de muitos gereros proprios, que são do consumo da Praça de Moçambique, como são pãos, taboados, e madeiras e de certas qualidades, que aquelles Nacionaes appetecem, e estimão para diversas obras ; como são carnes de cevados, todos os mais comestivos, que se não corrompão, solas dos Certões, aguardente da terra, assucar, doces

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