regularmente huns pelos outros a 100$000 rs, correndo por conta do Armador o risco do folego, os Direitos, a despeza da negociação, e o sustento da escravatura, e forão em aquelles portos tantas as desordens, pelos annos de 1783, e 1784, que todos os navios Portuguezes, perde:do as despezas, os ge: neros, as soldadas, .os comestivos aos Senhorios, voltárão desolados sem negocio algum, como já se disse. Para se fornecer a negociação de vinte navios para aquelles portos Africanos, se deve fazer a conta á importancia de quarenta cascos, de 60$. Mangotes, de 10$. arrobas de carne salgada e secca, ao que lhe chamão do Certão, de 12$. alqueires de farinha de páo para a hida e volta, e para a sustentação da escravatura no retorno, e para o do costeio, e a 200 pipas de aguardente, posto que quarteadas para melhor effeito da negociação. BALANÇO DOS FUNDOS, Q* SÃO NECESSARIOS PARA EM CADA HUM ANNO SE MANDAREM DA BAHIA NEGOCIAÇÃO DE ESCRAVOS. 160:000S000 Importancia de 40 embarcações actuaes a 4:000$000 cada huma...... Costeamento de 20 navios em cada hum anno a razão de..... 8:000$ooo rs... Importancia de 60$. Mangotes a preço de 3S000 rs. cada 160:000 Sooo hum ..... 180:000$000 10:0009000 Importancia de 250 pipas de aguardente a 50$000 rs........... O resultado deste negocio vem a ser 6$. escravos entre pe quenos, e grandes, machos, e femeas, que se vendem na 600:0009090 Lucros....... 900:0009000 He, além de erro manifesto, hum absurdo o dizer-se que esta especie de negociação de escravos em aquella Cidade, e Comarca he tanto necessaria e precisa, como indispensavel para se acudir ás substituições dos que falecem, estando occupados em os serviços domesticos, famliares e caseiros, em todo o genero de lavra, e de agricultura, e em todo e qualquer fabrico, e manufacturas, até mesmo com comprehensão dos que são mandados para as Minas para as grandes fabricas da extracção, e invenção do ouro. He outro erro o dizer-se que alli se consome o tabaco do refugo, quando aliás segundo os interesses, e os subornos dos Inspectores, para alli vaio melhor de ordinario. Melhor se dissera que ella só se deve tolerar em quanto se adoptão com firmeza e estabelecimento outros principios de Economia mais uteis e mais interessantes á humanidade, e mais conformes á melhor razão. Todas as observações estão a favor, de que ella para sempre se finalize, se termine, se proscreva até com esquecimento da memoria dos homens. Todos os contratempos experimentados nas suas diversas épocas, parecem ter sido huns preludios, que afinando-a, estão prognosticando, e pedindo a sua extensão neste ultimo estado de ruina. Extraiamos os argumentos daquillo mesmo, que nós temos dito. Já dissémos que no principio, e florecimento desta especie de negociação se recolhia em aquella mesma cidade, e Comarca 10$. escravos dus quacs is. subião para as Minas annualmente, e que 6S. ficavão substituindo no supprimento a Cidade, e aos reconcavos. Observamos que, descendo a 6S. em os annos posteriores com maioria dos preços, tudo se remediára, sem que se tenhão parado, e extincto as Minas do ouro, que ainda hoje existem, sem que tambem nestes ultimos tempos tenhão dado baixa as plantações do assucar, e do tabaco, nem outras quaesquer ; mas antes sempre conservado tudo em o seu mesmo pé, como se vê em as relações respectivas, quando não queiramos entrar nas affirmativas, de que alguma cousa mais ellas neste meio tempo se tenhão augmentado. Em termos tacs, quando por huma hypothese se considerasse haver se faltado ás Minas do ouro com este supprimento, que prejuizo nisto teriamos quando vemos bem apezar do verdadeiro Patriota, que nesta especulação a ambição tem feito, com que se tenhão inutilmente gastado as forças, e hum immenso trabalho, sem que nada se ache, e quando se vem a achar, que o lucro nunca vence a despeza, e ao trabalho, que se tem despendido, sem que possa apparecer o desengano, e a certeza, de que não só he ouro o que se acha no centro da terra, o qual mesmo pelas nossas necessidades, a quem deveriamos primeiro acudir, vemos passar para as Nações estranhas. Ouro tambem he todo aquelle equivalente, de que estamos destituidos. Observamos mais, segundo os nossos principios, e as nossas deducções, que os navios, que forão para a Costa da Mina a fazer escravos em os annos de 1783, e de 1784, retornárão estragados sem haverem feito negocio algum, e sem que houvessem trazido escravos, e nem por isso com damnos se atrazarão os estabelecimentos daquella dita Comarca, fazendo-se sensiveis pela diminuição das suas producções, que certamente não houvera, e não existira, quando aliás por tres annos não se soccorrera com escravos importados da costa d'Africa. He verdade constantissima que em toda aquella Capitania da Bahia, a quem se suppre com a escravatura da Costa d'Africa, ha sem diminuição, mas antes com augmento, 200$ mil pretos escravos, ou pelo menos 200$ mil escravos. He outra verdade tanto mais constantissima, até demonstrada pelo incremento das povoações principiadas, o que nos dá experiencia, que a producção dos homens na ordem dos viventes sempre vem a vencer muito ao numero dos que falecem. Nos pais de familias achamos o exemplo, que, falecendo dois que são os chefes, deixão estes muitos filhos, e ainda netos. He hum impossivel, que havendo os necessarios matrimonios entre os 200$ mil escravos, e a outra economia de sereni assalariados os homens manumittidos, que, augmentando o numero, augmentão a propagação, que do remanecente já com o desconto aos falecidos, não se venha a apurar na liquidação hum equivalente de 6$. homens, que não só equilibre a perpetuidade dos escravos, e dos homens necessarios para o trabalho, mas tambem que estes cada vez mais se multipliquem, posto que insensivelmente com inteiro desterro da negociação de escravos da Costa da Mina, ficando esta tida e conhecida por desnecessaria para sempre. Do COMMERCIO DE ANGOLA, E DE BENGUELA, COM RESPEITO ÁQUELLA DITA CIDADE E COMARCA DA BAHIA. O Commercio em estes dois portos he todo feito por Portuguezes. Os generos, e as fazendas, que sempre o sortião e fomentavão, vinhão a ser todos aquelles, que são fabricados, e manufaturados na Europa; os que pertencem á quinquilharia, a toda a especie de bagatellas, e mais fortemente, e a maior parte em fazendas de Surrate, e Balagate, Uzuartes, Cormandeis, Cadeaz, folhinhas, borralhos &a, e tambem, e de mais se fornecia de muitos generos, que erão proprios, c privativos do Paiz, como vinhão a ser, farinha chamada de páo, aguardentes da terra, telha, tijolo, assucar, e outros mais generos. Até os annos de 1770 este dito Commercio se expedia, e se manobrava da Bahia para aquelles portos, e em razão desta expedição alli se compravão todos aquelles generos precisos, tanto Europeos, como Asiaticos. Como porém esta negociação se firmava, e vinhão a ser o seu forte os generos destas duas classes, desde 1770 entrarão a hir a este fim em direitura de Lisboa para Angola, e Benguela navios carregados, e abarrotados de generos desta ordem para alli serem negociados; assim como tambem da Bahia ficarão, ainda que em pequeno numero, sendo mandados, aquelles outros, posto que de menor lotação, carregados dos generos privativos daquelle paiz. Attendida a desmembração deste Commercio, que até alli andava unido, e que se expedia de hum só porto, qual o da Bahia, os navios, que de Lisboa hião assim carregados, no seu retorno vindo carregados de cera, e de escravatura pela maior parte são mandados a descarregar e a vender a escravatura em o Rio de Janeiro aonde ella tem boa extracção, e melhor commodidade para o supprimento das Minas, vindo tão somente para a Bahia algum destes por acaso, e muitas vezes inesperadamente, e com infallibilidade 4+ a A, B, e certeza só aquelles, que dalli partirá com os generos privativos do paiz, sendo este o estado actual daquelle Commercio e Navegação com respeito á referida Comarca da Bahia. DO COMMERCIO DE MOÇAMBIQUE, E DA NAVEGAÇÃO, QUE HOUVE PARA ESTE PORTO COM RESPEITO A COMARCA E CIDADE DA BAHIA, CONCLUINDO-SE COM O ESTADO ACTUAL DE HUA E OUTRA COUSA. Posto que actualmente se não permitta, e se não conceda licença, para que daquella Cidade, e Comarca da Bahia se negocèe, e navegue em direitura parao porto de Moçambique, comtudo revolvendo-se as memorias dos tempos passados, em peqnena e curta distancia se sabe, e se deprehende nos annaes desta historia abbreviada, e concisa, que em os annos de 1750 até 1760 se concedêra licença para este fim, e intento a húa galera, e a duas sumacas. Destas huma se perdeo na hida, e a outra alli se vendeo com toda a sua carga, cujo producto se passára para Goa, donde retornara para a mão do seu Senhorio, e Proprietario em a não de viagem, e a galera voltou á Bahia com trezentos escravos, e com buzio, ou caril, o que teve pouca acceitação. Emo anno de 1764 se concede licença mais a huma sumaca, que depois de andar navegando alguns annos pela Costa do Natal até Quilimane, levando dentro de si seu dono, que regia o seu Commercio, e a mesma navegação, este se recolheo á Bahia bastantemente rico, e a este exemplo parece-me que não seria desdita daquella Comarca que em cada hum anno regularmente se facultasse licença a huma destas sumacas, havendo quem a pedisse, visto que alli ha abundancia de generos de boa acceitação em aquelles paizes, sobre os quaes logo fallaremos, apontando-os simplesmente, o que não he de desprezar-se, e muito mais attenta a desordem, e a carestia da costa da Mina, sobre que já fallámos. Pelos annos de 1773, e 1771 se concederão licenças por duas vezes a huma mesma sumaca, que de ambas se recolheo á Bahia com boa negociação de escravos. Pelos annos de 1785 se concedeo licença para o mesmo fim a huma curveta, que para Moçambique navegára a titulo de hir levar passageiros, e prezos, e degredados, que na Bahia ficárão da não de viagem, cuja curveta se recolhera com transporte de escravos, a qual dera por noticia que em aquelle tempo e mesma occasião havião sahido daquelle porto de Moçambique dois grandes navios, Hollandez, e Inglez com 800 e 900 escravos. Aquella dita Comarca da Bahia abunda de muitos gereros proprios, que são do consumo da Praça de Moçambique, como são páos, taboados, e madeiras e de certas qualidades, que aquelles Nacionaes appetecem, e estimão para diversas obras ; como são carnes de cevados, todos os mais comestivos, que se não corrompão, solas dos Certões, aguardente da terra, assucar, doces feitos, e outros semelhantes generos, com os quaes lhes estão fornecendo de Tafelbay os Hollandezes e da Mauricia os Francezes. Do COMMERCIO INTRINSECO DAS MINAS DO OURO COM RESPEITO Á COMARCA E CIDADE DA BAHIA, DESCREVENDO-SE REDUZINDO-SE A QUASI EXTINCTO. a Quando aquellas preciosas Minas do ouro forão descobertas, quando successivamente outras muitas se forão descobrindo, quando ellas estavão mais ricas, quando finalmente a lavra deste genero era muito mais facil, porque tambem a invenção era muito mais prompia por dois principios: 1.0 porque este genero era achado á flor da terra, e não se achava tão entranhado, como hoje ; 2.o porque os lugares opportunos não estavão tão batidos; concorrendo para estes descobrimentos quasi todos os ambiciosos apressadamente, sendo promptos em acharem o precioso que buscavão, erão promptos tambem com franqueza a virem buscar á Bahia tudo quanto precisavão, entregando o ouro em pessoa por escravos e por fazendas. Como estavão ricos, erão lizos nos seus contratos, e houve então tanta concurrencia de ouro, de Commercio, e de permutações, que nessa época se Lançarão huns alicerces, que parecião de bronze, a muitas das casas de Commercio, que se engrossárão, e a outras que de novo se erigirão. Felizes tempos ! O ponto estava em que elles durassem! Homens houverão que invejando a fortuna dos outros, propondo-se a fazer huma especie de travessia a ouro, com bestas, escravos e fazendas o hião esperar ao caminho, sahindo-lhe ao encontro, assentando a Mascataria nas em buscadas do ouro, e nas encruzilhadas dos caminhos muito ao longe ; os que escapárão á desgraça, ficarão possuindo huma brilhante fortuna, do que ainda entre nós mesmos há vestigio, e alguns herdeiros. Porém como aquelles grossos alicerces erão assentados sobre o lodo das usuras, e dos contratos imperfeitos, abateo-se o templo da ambição, ficarão perdidos os que não escapárão á desgraça, ficando supplantados nas ruinas, que não deixará de ser communicadas aos que olhando para ellas a salvo fugirão ; porque a praguejada riqueza por maldição, tendo dentro de si o direito da restituição, posto que a principio se perpetuasse, não tem passado sem abatimentos das terceiras gerações, Em aquelles ditosos tempos, em que tudo corria bem, os contratos, e as permutações se aperfeiçoavão com o equivalente do ouro; as Casas das Moedas, e das Fundições com folhas dobradas batião de dia, e noite, e por muitos e muitos annos a da Bahia, salvando todas as suas exorbitantes |