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A PALMEIRA.*

Do undante Nilo a rubida Pomona Houve um filho e uma filha, ambos d'um parto; Elle Oreno chamado, ella Palmira. No ponto do seu triste nascimento Sinistros corvos roucos grasnos deram, -Negro amentado lobo huivou tres vezes, E igneo meteoro ardeu sôbre seus lares: Os paes cheios de horror de agouros tantos, Querendo os fados precaver, consultam Sobre o destino dos recentes gemios. O equóreo vate que apascenta as focas. Este, depois que prêso em rijos laços Horriveis fórmas por soltar-se toma**,

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*Julgo que o leitor imparcial não achará nas minhas metamorphoses menos verosimilhança e invenção que nas de Ovidio; n'ellas involvo a moral mostrando o castigo da avareza, da indocilidade, da lascivia, do perjurio, e outros crimes tam nocivos á sociedade.

O AUCTOR.

**Est in carpathio Neptuni gurgite vates, Cæruleus Proteus, magnum qui piscibus æquor Et juncto bipedum curru metitur equorum.

Do nubloso futuro o veo rasgando,

A fatidica voz assim desata :

<< Se ha pouco os olhos no universo abristes,
Quaes vossos crimes são, tenros infantes,
Para o ceo contra vós chover desgraças!
N'um louco terno amor ardereis ambos,
Que além da morte passará comvosco :
Sustos, horrores, oppressões, desastres,
Nunca abater farão vossa constancia.
Fugi, fugi um do outro, ó desditosos!
Porque logo que virdes coroado
Vosso impudico incestuoso affecto,
O extremo golpe soffrereis da

parca,

E os proprios deuses mostrarão piedade,
De vosso triste desastrado termo. >>

Hie nunc Emathie portus, patriamque revisit
Dallenen: hunc et nymphæ veneramur, et ipse
Grandavus Nereus novit namque omnia vates,
Quæ sint, quæ fuerint, quæ mox ventura trahantur
Quippe ita Neptuno visum est, immania cujus
Armenta, et turpes pascit sub gurgite phocas.
Hic tibi, nate, prius vinclis capiendus, ut omnem
Expediat morbi causam, eventusque secundet,
Nam sine vi non ulla dabit præcepta, neque illum
Orando flectes: vim duram et vincula capto
Tende: doli circum hæc demum frangentur inanes.
Ipsa ego te medios cùm sol accenderit æstus,
Cum sitiunt herbæ, et pecorijam gratior umbra est,

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Disse, e escapando aos laços que o prendiam,
Per entre as vagas subito se esconde.
Os ternos paes de mágoa e dor feridos
Ouvindo a sorte dos gentis infantes,
As leis pretendem prevenir dos fados;
Esperam que dous lustros se completem,
E á casta Delia a tenra filha votam,

E o filho exulam para estranhos climas.
Mas quem foge aos decretos do destino?
Quem póde contra o fado oppor barreiras?
D'um sympathico amor victimas ambos,
Ambos feridos per crueis saudades,
Afim de se gozarem tudo emprendem.
A triste ausencia, das paixões verdugo,
Mais as chammas de amor Ihes sopra n'alma.
Quantas vezes Palmira n'alta noite

In secreta senis ducam, quo fessus ab undis
Se recepit; facile ut somno aggrediarejacentem.
Verum ubi correptum manibus, vinclisque tenebis,
Tum variæ illudent species, atque oræ fetarum:
Fiet enim subitò sus horridus, atraque tigris,
Squamosusque draco, et fulvá cervice leana;
Aut acrem flammæ sonitum dabit, atque ita vinclis
Exidet; aut in aquas tenues dilapsus abibit.
Sed quantò ille magis formas se vertet in omnes,
Tantò, nate, magis contende tenacia vincla ;
Donec talis erit mutato corpore, qualem
Videris, incæpto tegeret cùm lumina somno.
VIRGILIO, Georg. liv. iv.

Em busca do fraterno ausente amante,
Errando per medonhos densos bosques,
Foi dos lascivos satyros corrida !
Quantas vezes ligada a rijos troncos,
Sendo colhida na teimosa fuga,
Provava as íras da feroz Diana!
Ora exposta ao calor do intonso Phebo,
Quando aprumo dardeja os igneos raios;
E ora vendo rasgar seus alvos membros
Com flagellos de silvas espinhosas!
Ja suspensa nos ramos pelas tranças,
Ja cuberta de injúrias, e de affrontas!
Porêm seu genio indomito e constante,
Ao pêso sotopôsto dos tormentos,
Em vez de se abater, forças tomava.
Emtanto Oreno, de si proprio alheio,
Morto de amores, de saudades morto,
Ais impacientes com fervor soltava:
A um louco phrenesi de amor entregue,
Foge do lar que o exula* de quem ama,
E intenta prescrutar o mundo inteiro,
Até que a nympha, por quem arde, encontre.
A precipicios horridos exposto,

Exposto á furia de famintas feras,

Ja barreiras transpõe, montes alpestres,
Ingremes serras cruza, aridas brenhas,
Inhospitos sertões, areiaes ardentes,

* Desterra, expelle, etc.: vem do latim exul.

Até que as vagas por limite encontra :
Mas sem que ao pêso de oppressões se abata,
Fazendo a Venus sacrificios, votos,

Ei-lo em fragil baixel se entrega ás ondas :
Com longos remos fere o mar, levando

O acaso por governo, o amor por norte.
Denso negrume emtanto enlucta os ares,
Sôltas procellas furiosas bramam,
Rebenta o mar em flor na aguda proa
Do curvo lenho que os tufões sossobram,
E em negras rochas, onde as vagas fervem,
Em mil pedaços se lhe torna o lenho:
Mas sem que o triste na constancia afroxe,
A fragil vida salva sôbre um remo :
O vento o arroja sôbre as fundas praias
Que ás fugas do seu bem termo teem pôsto.
De novo cruza serranías arduas,

De novo arrosta ignotos precipicios:
Mas ja o ponto lastimoso chega

Escripto no volume da ímpia sorte,

Em que se hão de cumprir as leis do fado.
O louco amante, de si proprio alheio,
Tristeza e gôsto sente n'alma a um tempo.

Guiado pela mão do atroz destino,
Entra n'um verde solitario bosque
Onde Palmira fatigada á sombra
Da nova fuga descançava os membros.
Morpheu na ideia á misera pintava

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