Dai-me hũa lei, Senhora, de querer-vos De amor escrevo, de amor trato e vivo. De Babel sôbre os rios nos sentamos De cá, donde somente o imaginar-vos De frescas belvederes rodeadas
De mil suspeitas vãas se me levantão. De quantas graças tinha a natureza.
De tão divino accento em voz humana (*) De vós me parto, ó vida, e em tal mudança Debaixo desta pedra está metido Debaixo desta pedra sepultada Deixa, Apollo, o correr tão apressado Desce do ceo, immenso Deos benino . Despois de haver chorado os meus tormentos Despois de tantos dias mal gastados (**)
Despois que quiz Amor que eu só passasse Despois que vio Cibele o corpo humano (***) Diana prateada esclarecida
Ditosa pena, como a mão que a guia (†) Ditosas almas que ambas juntamente Ditoso seja aquelle que somente Diversos dões reparte o ceo benino Divina companhia que nos prados Dizei, Senhora, da belleza idea. Doce contentamento ja passado Doce sonho, suave e soberano Doces e claras agoas do Mondego. Doces lembranças da passada gloria
(*) Em resposta ao Soneto: "Quem he este que na harpa Lusitana.” (**) Bernardes imprimio este Soneto como seu e é o 77 nas suas Ri- mas, aindaque os seus mesmos contemporaneos o julgavão de Ca- mões, imprimindo-o na primeira ed. de suas Rimas.
(***) A D. Rodrigo Pinheiro, que foi Bispo do Porto, segundo conjec- tura Faria.
(4) A Manuel Barata, famoso professor de Calligraphia no seculo XVI, publicando a sua Arte de escrever em 1572.
Dos antigos Illustres que deixárão . Dos ceos á terra desce a mor belleza Dulces engaños de mis ojos tristes
Em Babylonia sôbre os rios quando Em flor vos arrancou de então crescida (*) Em formosa Lethea se confia
Em huma lapa toda tenebrosa
Em prisões baixas fui hum tempo atado Em quanto Phebo os montes accendia Em quanto quiz fortuna que tivesse En una selva al dispuntar del dia Erros meus, má Fortuna, amor ardente Esforço grande, igual ao pensamento (**) . Espanta crescer tanto o crocodilo
Esses cabellos louros e escolhidos Está o lascivo e doce passarinho Está-se a Primavera trasladando
Este amor que vos tenho limpo e puro Este terreste caos com seus vapores
Eu cantarei de amor tão docemente
Eu cantei ja, e agora vou chorando
Eu me aparto de vós, Nymphas do Tejo Eu vivia de lagrimas isento
(*) Á morte de D. Antonio de Noronha, morto em hum recontro com os Mouros, junto a Ceuta em 1553.
(**) A sepultura de D. Henrique de Menezes, septimo Governador da India, fallecido em Goa no anno de 1526.
Grao tempo ha ja que soube da Ventura Guardando em mi a sorte o seu direito. He o gozado bem em agoa escrito Horas breves de meu contentamento Hum firme coração posto em ventura (*) Hum mover de olhos brando e piedoso Huma admiravel herva se conhece
Illustre e digno ramo dos Menezes (**) Illustre García, nombre de una moza Imagens vãas me imprime a phantasia. Indo o triste pastor todo embebido
Ja a roxa e branca Aurora destoucava
Ja cantei, ja chorei a dura guerra Ja claro vejo bem, ja bem conheço Ja do Mondego as agoas apparecem (***) Ja he tempo, ja que minha confiança. Ja me fundei em vãos contentamentos Ja não sinto, Senhora, os desenganos Julga-me a gente toda por perdido
Las peñas retumbaban al gemido Leda serenidade deleitosa .
Lembranças de meu bem, doces lembranças
Lembranças, que lembrais o bem passado
Lembranças saudosas, se cuidais.
Levantai, minhas Tagides, a frente (†)
(*) Este he tambem hum dos Sonetos que Bernardes publicou por seus, e que Faria achou nos M. S. que continhão obras de Camões. (**) Diversos forão os cavalleiros deste apellido que servirão com distincção na India no tempo de Camões. Suppomos que o So- neto foi feito a D. Fernando de Menezes Baroche, que passou á India com seu Pae o Viso-Rei D. Affonso de Noronha, na mesma nao em que ia Camões, onde naturalmente contrabírão amizade; pois este fidalgo foi encarregado por seu pae no anno de 1554 de ir curzar com uma armada no Estreito.
(***) Tambem este Soneto anda nas Rimas de Bernardes. (1) A D. Theodosio de Bragança.
Lindo e subtil trançado que ficaste Los ojos que con blando movimiento
Mal, que de tempo em tempo vas crescendo
Males que contra mim vos conjurastes
Mi gusto y tu beldad se desposaron
Mil veces entre sueños tu figura
Mil vezes determino não vos ver Moradoras gentis e delicadas
Mudão-se os tempos, mudão-se as vontades
Na desesperação ja repousava Na margem de hum ribeiro que fendia Na metade do ceo subido ardia Naiades, vós que os rios habitais Na ribeira do Euphrates assentado. Não ha louvor que arribe á menor parte Não passes, caminhante. Quem me chama? Não vas ao monte, Nise, com teu gado Nas cidades, nos bosques, nas florestas Nem o tremendo estrepito da guerra N'hum bosque que das Nymphas se habitava N'hum jardim adornado de verdura N'hum tão alto lugar de tanto preço No bastaba que amor puro y ardiente No mundo poucos annos e cansados
No mundo quiz o Tempo que se achasse No regaço da mãe Amor estava No tempo que de amor viver sohia
Nos braços de hum Sylvano adormecendo Novos casos de Amor, novos enganos (*). Nunca em amor damnou o atrevimento
O ceo, a terra, o vento socegado O culto divinal se celebrava . O cysne quando sente ser chegado
(*) Tambem impresso entre os de Bernardes.
Oh como se me alonga de anno em anuo Oh quanto melhor he o supremo dia Oh quão caro me custa o entender-te Oh rigorosa ausencia desejada
Olhos, aonde o ceo com luz mais pura Ondados fios d'ouro onde enlaçado
Ondados fios d'ouro reluzente
Onde acharei lugar tão apartado
Onde mereci eu tal pensamento
Onde porei meus olhos que não veja
Orfeo enamorado que tañia
Ornou sublime esforço ao grande Atlante (**)
Os meus alegres, venturosos dias
Os olhos onde o casto amor ardia
Os Reinos e os Imperios poderosos (***) Os vestidos Eliza revolvia
Para se namorar do que criou Passo por meus trabalhos tão isento Pede o desejo, Dama, que vos veja Pensamentos que agora novamente. Pois meus olhos não cansão de chorar Pois torna por seu rei e juntamente (†) Por cima destas agoas forte é firme
(*) A D. Guiomar de Blasfet, Dama da Rainha D. Catherina, tendo cahido de hum castiçal nma vela accesa que lhe queimou o rosto.
(**) A D. João de Castro.
(***) A D. Theodosio de Bragança.
(+) A D. Luis de Ataïde, voltando pela segunda vez a governar a
India, no anno de 1577.
entre os seus.
Bernardes tambem metteu este Soneto
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