gisto da Casa da India, encontrou Faria e Sousa este assento com o titulo de Gente de guerra: « Fernando Casado, filho de Manoel Casado, e de Branca Queimada, moradores em Lisboa, Escudeiro. Foi em seu logar Luiz de Camões, filho de Simão Vaz e Anna de Sá. Escudeiro, e recebeu 2:400 como os demais.» Em outro Registo da Casa da India, copiado pelo Padre D. Flaminio, augustiniano, se sabe que d'este segundo alistamento ficou por fiador seu tio Belchior Barreto, cunhado de sua mãe. (1) Pelo Alvará de 7 de Março de 1553, fala-se em seu pae como morador em Lisboa; por tanto a sua ausencia seria occasionada por um dos motivos indicados. O embarque de seu filho foi desolador; na Carta da India, descreve em poucas palavras este adeos sem esperança: «E assi posto em estado, que me não via senão por entre lusco e fusco, as derradeiras palavras que na Náo disse, foram as de Scipião Africano: Ingrata patria non possidebis ossa mea.» E em outro logar da mesma Carta: «Emfim, senhor, eu não sei com que me pague saber tão bem fugir a quantos laços n'essa terra me armavam os acontecimentos...» (1) Jur., Obr. t. 1, p. 53. SEGUNDA ÉPOCA (1553 a 1569) CAPITULO V Partida de Camões para a India A viagem da nau S. Bento, segundo a Relação de Mesquita Perestrello. A despedida de Camões ás Damas de Lisboa. Autobiographia da Canção x1. - A passagem do Cabo da Boa Esperança descripta na Elegia ш. Impressões novas para a concepção do Adamastor. A tradição do naufragio de Sepulveda recolhida na viagem. Os cantos dos marinheiros. -Chegada de Camões a Goa: impressão produzida por esse centro de corrupção. Os parentes de Camões na India: João de Camões, Gonçalo Vaz de Camões, Gaspar Gil Severim, Antonio Gil Severim, D. Ignez de Camões, Duarte Frade de Faria. Revista passada por Camões aos valentões de Gôa. - Retrato grotesco das damas da terra. Os amores de Barbora escrava. Primeiro combate em que entra. Relações com o Vice-Rei D. Affonso de Noronha e com sua familia.. O Cruzeiro das Costas da Arabia, descripto na Canção x. — Primeiras noticias recebidas de Lisboa: a prisão de seu pae Simão Vaz de Camões em 12 de Agosto de 1553, a morte de D. Antonio de Noronha, a 18 de Abril de 1553, e do principe D. João. Das Cartas que escreveu Camões para o reino. - A successão de Francisco Barreto em 16 de Junho de 1555. Caracter integro d'este governador segundo Diogo de Couto e D. Alvaro da Silveira, amigos de Camões. - Camões toma parte nos festejos de Gôa, com o Auto do Filodemo.. Satyra aos vicios dos Fidalgos de Gôa. Francisco Barreto despacha Camões para a China com o cargo de Provedor mór dos Defunctos e Ausentes, para o livrar dos seus inimigos. No anno de 1553, apparelhou-se uma Armada para a difficil viagem da India, e foi entregue o commando 1 d'ella a Fernão Alvares Cabral.» (1) Era composta a Armada de cinco náos; a Náo Santo Antonio, que devia de ser commandada por D. Manoel de Menezes, queimou-se no Tejo, quando ainda estava recebendo carga. Partiram apenas quatro náos, nos dias 23 e 24 de Março de 1553, em um domingo de Ramos. Luiz de Camões ia na náo Sam Bento, commandada pelo Capitão-Mór Fernão Alvares Cabral. Na Relação de Perestrello, de que abaixo falaremos, se diz que a náo Sam Bento «era a maior e melhor que então havia na carreira, e levava por piloto Diogo Garcia, o Castelhano; por mestre, Antonio Ledo; e por contra-mestre Francisco Pires, todos homens muito estimados em seus cargos... Na torna-viagem, a Náo Sam Bento veiu a perder-se na Terra do Natal em 23 de Abril de 1554. O resto da Armada era composto da Náo Santa Maria da Barca, de que era commandante Ruy Pereira da Camara; a Náo Concepção, commandada por Belchior de Sousa Lobo, e Loreto, commandada por D. Payo de Noronha. (2) A impressão da partida acha-se admiravelmente recolhida nos Lusiadas: (Cant. v, est. 3) Já a vista pouco e pouco se desterra De Cintra; e n'ella os olhos se alongavam; (1) No Cancioneiro geral, t. 1, p. 119, encontra-se um poeta Fernão Cabral. (2) Luiz Figueiredo Falcão, Indice de toda a Fazenda, p. 165. Ficava-nos tambem na amada terra Não vimos mais emfim, que mar e céo. Embora pertençam estas palavras ao heroe da epopêa, ha aqui esse toque pessoal que só podia competir ao poeta; lembrava-lhe Cintra, onde passára a mocidade galanteando as damas da côrte, e era a ellas tambem que dirigia o Soneto CLVIII: Eu me aparto de vós, Nymphas do Tejo, Pequenas esperanças, mal sobejo, E da resolução extrema de saír de Lisboa, apesar de lhe facilitarem alguns dos impedimentos ao seu amor, declara no Soneto CXXXIX: Por cima d'estas aguas, forte e firme, Poucos dias eram apenas passados, quando começaram os temporaes que separaram a Armada; na Relação de Perestrello se conta isto, que falta nas Chronicas: «Partiram do porto d'esta cidade de Lisboa em Domingo de Ramos, 24 de Março do dito anno, e se 10- Toxo I. guiram sua róta alguns dias, assim em conserva, até que andando o tempo, succederam tão diversos acontecimentos, que foi forçado a apartarem-se uns dos outros, ajudando-se cada um do caminho que melhor lhe parecía, segundo a paragem em que se achavam, para salvamento das vidas e fazendas que levavam a seu cargo...» Em uma d'estas situações desesperadas da borrasca, é que escreveu Camões esse Soneto CXLIII, onde canta: Em uma Relação summaria da viagem que fez Fernão d'Alvares Cabral, desde que partiu d'este Reyno por Capitão-Mór da Armada que foi no anno de 1553 ás partes da India, escripta por Manoel de Mesquita Perestrello «que se achou no dito naufragio» (1) achamse interessantes noticias d'esta viagem de Camões, que faltam em Diogo de Couto. Aí diz das quatro náos que formavam a armada: «cujas viagens particularmente deixo de contar por não ser meu intento tratar mais que (1) Publicada por Bernardo Gomes de Brito na Hist. Tragico-Maritima, t. 1, p. 41. |