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2 vol., 8.o; a parte do Bulletin universel des sciences et de l'industrie, que trata das sciencias naturaes, que faz 3 volumes e custa 22 fr.; emfim os Elements de Minéralogie de Beudant, que estão a sahir da imprensa. Eu satisfarei isto do modo que me quererá indicar.

Adeus, meu bom amigo e companheiro de malheur; aceite o coração do seu

Bordéos, 1 de Setembro de 1824.

Verdadeiro Ven." e Brazileiro

J. B. DE ANDRADA.

Ill.mos Sñrs. Rocha e Menezes.

Meus bons amigos, esta carta vai commum de dous; e começando pelo Sñr. Rocha direi : Ill., Vossa Senhoria é como os oraculos do Paganismo, que emudeceram com a vinda de Christo; assim V. S. com a sua ida a Paris, ou Deus sabe se com os seus novos conhecimentos utriusque sexus. Quando vou as vezes á Bordéos, que não são muitas, pergunto sempre: Escreveu o amigo Rocha? Não senhor, é o que se me responde. Ora pois, é preciso que um preguiçoso como eu vá espertar outro. Muito folguei saber que o nosso Innocencio já está por essses mares de Christo; e espero a sua feliz viagem lhe seja proficua, a elle, a V. S. e tambem a mim, pois creio que só por sua actividade e zelo poderei cobrar alguma coisa da nossa pensão. Como agora circulam em segredo por aqui noticias ominosas do Brazil, é facil em Paris saber o que ha na materia; e portanto rogo que se communique quanto antes para meu governo. Passemos ao Sñr. Menezes.- Ill.mo, eu lhe agradeço muito a remessa dos livros, e tinha mais outra encommendinha a fazer-lhe ; mas antes d'isto cumpre que me diga o que importa a primeira e a quem devo entregar o dinheiro; demais convem que tambem calcule com a minha bolsa tisica. V. S. tem sido muito injusto em accusar os amigos de fraquezas da carne, quando por cá sôa que lá se gasta com cominhos ou confeitos de Endoenças. Item quanto ao que me diz sobre a carta anonyma; ainda persisto nas minhas suspeitas; pois a lettra, bem que disfarçada, é a mesma do sujeito em que fallei; e muito me peza que ella se trasmalhasse, porque lh'a remetteria a cotejar.

Quanto à minha nomeação para senador, confesso que me fez algum bem ao coração ver que os Bahianos não se esqueceram de todo de um homem, que tanto gritou e forcejou para que fossem .soccorridos contra os vandalos de Portugal; mas, como o que por ora ambiciono é ir acabar os meus cansados dias em um cantinho bem escuro e solitario da minha bestial Provincia; e portanto rogo a Deus que S. M. Imperial me queira preterir na escolha.

Quanto ao retrato, condescenderia de boa mente aos seus desejos; mas não me é possivel por ora, não só porque habito no campo, mas principalmente porque a magra bolsa não consente bazofias.

Saberão V. S." ambas que a solidão do campo me tem trazido de novo a mania antiga de poeta, com que espanco lembranças afflictivas, que de quando em quando me assaltam. Traduzi a 1.a Ecloga de Virgilio, e estou com a 2.a entre mãos ; tambem me abalancei ao trabalho herculeo de traduzir a Ode das Olympicas de Pindaro, apezar das falhas e mazellas da lingua portugueza, e estou com a 1. das Pythicas do mesmo autor. Quero que os nossos compositores de Odes pseudo-pindaricas leiam o que são as Odes verdadeiras de Pindaro. Tenho feito muitas outras coisinhas, como Odes Saphicas e Anacreonticas; tenho revisto as minhas antigas composições que destino para a impressão; e por fim, no mez passado, escrevi uma longa carta em verso a um sonhado amigo do Rio, que não me desagrada pelos rasgos de poesia e philosophia que encerra, e pela pintura da nossa viagem deportatoria. Logo que a tiver copiado em limpo, lhes enviarei com a promessa porém antecedente, de que não ha de sahir das suas mãos por ora, pois assim me convem.

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Recebi com muito gosto a sua carta tambem commum de dois de 6 do corrente, porque nella me dá V. S. esperanças de que bem cedo terei o gosto de abraçal-o nesta vinhosa cidade, ourinol do mundo; e para então guardo mostrar-lhe as minhas novas poesias, e principalmente a Epistola a

Lucindo; pois, além de as não ter ainda posto a limpo, não julgo prudente confial-as ao correio, de quem muito desconfio, segundo o que me avisa a este respeito. Se estivera em Paris, e com a bolsa menos magra, já as teria impresso, antes que levassem todas o mesmo caminho que já por tres vezes tiveram as outras. Aqui a impressão é mais cara; todavia, se receber algum dinheiro do Brazil, de certo farei imprimir duzentos exemplares para repartir com alguns amigos; que para los otros me cago io, como diria o castelhano com os santos que tinha mettido na monteira. Vamos aos livros: aqui darei ao Balguerie os 461, francos para que lh'os remetta; e, como não devo abusar da sua generosidade para o privar do dinheiro, que muito lhe será preciso em um paiz em que elle tanto vale, apezar da precisão da edição de Pindaro por Heine, V. S. o não compre, porque é assaz caro por 36 fr. As obras de Virgilio de Voss, em que me falla, será a traducção da Eneida, que não tem notas nem o texto ao lado; as outras obras são poesias de..... que tenho no Rio. Ora diga-me: como quer por ora que cuide da historia da Revolução do Brazil, cujus pars magna fui, nas actuaes circumstancias, sem documentos originaes, nem sequer Gazetas e impressos do tempo? Ainda peior é ler as mentiras do Annuaire historique e não podel-as confutar. O que me diz a respeito da infame aprehensão das cartas para o Brazil, tambem cada vez mais me convence da parte que teve na copia e remessa da carta anonyma; mas cumpre dissimular por ora. Como estou certo que os Bahianos me nomearão Deputado, apezar das ameaças da dita carta, estou resolvido a ir ao Brazil; e lá verei se devo ficar em tal Paiz, ou vender os meus tarecos e abalar para Colombia, paiz quente e proprio para um velho rheumatico, e sobre tudo paiz Americano e Livre. Sinto muito que tenha soffrido muito dos olhos; e, para os não fatigar com as minhas rabiscas, serei mais breve do que talvez seria nesta carta. Tornando outra vez á remessa de livros, rogo-lhe que assigne e me remetta a parte do Bulletin des sciences historiques, antiquités, philologie, etc., e veja entre os Livreiros de livros allemàes, se tem a obra de Mohs-Grundriss der Mineralogie - Fundamentos de Mineralogia, dois volumes em 8.o, caso estejam já completos neste anno.

Como ainda ha muito papel em branco, que deve pagar ao correio, apezar dos seus olhos, vou copiar-lhe aqui a Dedicatoria, que hei de pôr ás — Poesias avulsas de Americo Elysio.

Brazileiros-Costumavam os Gregos e Romanos do bom tempo antigo dedicar suas obras a seus naturaes e amigos; porque a adulação e o interesse não aviltavam então as letras e as sciencias. Os validos da fortuna, a cujas abas se acoitam hoje os peralvilhos litterarios, se não tinham verdadeiro merito, não recebiam, nem pagavam louvores mentirosos. Mas, se no meio da corrupção moderna não pode obstar o escriptor que os escravos lisongeiros ou esfai

mados não enxovalhem a razào e as boas artes, ao menos deve alçar a voz para atacar o crime e ridiculizar o vicio; e, quando Apóllo o inspira, deve então em seus versos animar a virtude e deleitar o coração.

Que eu seja vosso amigo, ó Brazileiros, algumas provas tenho d'isto dado; e para as continuar d'aqui, onde minhas circumstancias me não permittem mais, ouso offerecer-vos estes poucos e desvairados versos — farpados restos do traquete roto-, que me ficaram de tres naufragios ou roubos successivos, que de todos os outros deram cabo. Nelles fui assaz parco em rimas; porque nossa lingua, bem como a hespanhola e italiana, não precisa, absolutamente fallando, do zumzum dos consoantes para fixar a attenção e deleitar o ouvido. Quanto á monotonica regularidade das Strophes ou Estanças, que seguem os Italianos e Francezes, d'ella ás vezes me apartei, usando da mesma soltura e liberdade, que depois vi abraçadas por um Scott e um Byron, cysnes da Inglaterra. Devo tambem prevenir-vos, para desencargo da minha consciencia, que se d'antemão não tiverdes saboreado os Psalmos, o Cantico dos canticos, o Livro de Job, alguns pedaços mais, que formam a parte poetica da Collecção Hebraica, a que damos o nome de Velho Testamento; ou folheado os Rithmos, metros da antiga Grecia e Roma, ou pelo menos os poemas da soberba Albion e da Germania remoçada, certo não achareis o menor sabor epico nos versos que ora VOS dedico. Quem folgar de Marinismos e Gongorismos, ou de pedrinhas no fundo do ribeiro-dos versejadores Lusitanos de freiras e casquilhos, fuja d'esta mingoada Rhapsodia, como de febre amarella. Deus vos ajude.

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AMERICO ELYSIO.

Aproveitemos o papel; e eis aqui vai uma Ode Saphica, que tem por scena o seu Rio de Janeiro.

Ode á rolla

Tu que te apressas desde longe ousada

Dize para onde, sacudindo, voas,

Tantos aromas de sabea origem,
Doce rollinha ?

Entre a plumagem de arroxadas côres,

Alegre trazes pallidas violas !

Porque no bico de romă tu levas

Jamins e rosas !

Ella responde: Vou seguindo, amigo,

Não meus caprichos, obedeço ao mando

Imperioso de meu caro Amo,

De Nize escravo :

Nize formoza, Nize que domina
Livres vontades, e com meigo riso
As iras vence de Cupido, e vence
Mortaes e Deuses.

Desd'os pendores da gentil Tijuca
Vim ao chamado do meu grão Poeta :
Meigo me trata; porém eu submissa
Senhor o chamo.

Elle me ordena, que á sua Nize leve
Carta nascida de seu brando peito,
Puro amoroso, cuja doce Musa

Canta suave ;

Quando entre as penhas resoando a Lyra,
Amor celebra em Catombi ditoso;
Ou nas sombrias sempre verdes margens
Do seu Cattête.

Jurou-me firme de outorgar-me agora
A liberdade, se esta carta entrego;
Mas eu que pezo com juizo as coisas,
Eu não a quero.

De que me serve combater c'os ventos,
Soffrer os frios da empinada serra;
Comer faminta, de bichinhos cheias
Bagas agrestes!

De que me serve recrear os Echos
D'essas montanhas com lascivo arrulho;
E em duras garras do gavião pirata
Perder a vida?

Mais vale escrava do meu bom Josino
Cumprir honrada e bem leal seus mandos;
E no seu terno bondadoso seio

Gemer suave.

Sentado á mesa elle commigo brinca,
Eu lhe arrebato o seu melhor bocado,
Eu pico os dedos, eu a mão lhe piso,
Beijo-lhe a boca.

Terno me anima: se doudices faço,

Não me castiga, nem se quer se enfada;

Antes em taça de Madeira loiro

Logo me brinda.

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