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verno occupados por ladrões conhecidos de antiga data, e por traidores, estes, para manterem a si e a actual forma de cousas, se vêem continuamente forçados a uma prodigalidade voluntaria e necessaria; voluntaria, criando novos empregos, impostos, e dando novos ordenados ou soldos para augmentar o numero de suas creaturas; necessaria, augmentando o numero das Tropas e armando Esquadras, para socegar commoções internas e fazer face á guerra externa. Ora, tudo isto é provado a posteriori: em 30 de Outubro, o Ministerio fez um grande despacho militar, e augmentou a despeza d'esta classe só no Rio de 30 contos annuaes, porque queria ter Tropas que o coadjuvassem na dissolução da Assembléa e deportação dos Deputados; depois d'este golpe d'Estado augmentou o soldo das Tropas e ordenados dos Magistrados, e encheu a Alfandega de immensos Empregados superfluos; o mesmo praticou nas secretarias e em todas as admi nistrações; sem nenhuma relação com os Estados da Europa, porque sua politica deve ser toda americana, sem nenhum commercio externo, e só com simples de cabotagem, tem povoado es portos da Europa de consules, e as capitaes de Agentes diplomaticos; agitado finalmente pelas desordens de Pernambuco, Ceará e outras Provincias, e ultimamente pela guerra com a Republica de Buenos-Ayres, o Ministerio tem creado differentes batalhões estrangeiros, augmentado as tropas nacionaes e armado novas esquadras, e d'est'arte esgotado os recursos nacionaes, e talvez tambem o emprestimo contrahido em Londres, o que se collige da falla do Throno na abertura das Camaras, reclamando a attenção das mesmas para as finanças do Estado. Pelo que fica dito, reconhece-se a impossibilidade do pagamento de similhante. divida, emquanto durar este estado de cousas, e emquanto elle durar se não deve contar com melhoramento algum na administração financeira, como requer o bem do paiz.

Accrescentamentos á minha biographia:

Nascido em Junho de 1775, por conseguinte com 51 annos já completos. Conhecimentos de linguas, seis, entrando a materna, a saber: Latina, Ingleza, Franceza, Italiana, Hespanhola e Portugueza.

Escriptos scientificos apresentados ao Governo, mas ainda não impressos: as minhas Viagens mineralogicas, que fizeram conhecer todos os productos naturaes da provincia de S. Paulo; uma Memoria sobre as Minas de ferro de Sorocaba, de onde nasceu a creação da actual fabrica de ferro do Ypanema; outra dita sobre os meios de civilisar os indios dos Campos de Guarapuava, na mesma provincia; advirta-se que este estabelecimento está já muito adiantado; outra dita sobre o aproveitamento das mattas naturaes da mesma provincia á melhoramento, e sobre a possibilidade e utilidade do estabelecimento de construcções navaes ao pé das ditas mattas.

borda d'agua, e seu

Podia ajuntar mais alguns outros trabalhos, mas, para quem não é nada vaidoso, basta o que tenho dito.

B. N.

Esta carta é commum ao amigo Sñr. Rocha; e por conseguinte acceite-a tambem por sua, e ambos recebam o coração saudoso

Seu am. fiel

Saudades aos Manos de um e aos filhos de outro.

M.

Meu caro.

Folguei muito com a sua chegada a essa Côrte, e estimo que chegasse de saude: tive igual prazer com o saber que seu Mano se acha livre e no goso do seu officio. Desejo agora saber o seguinte: 1° se a nossa pronuncia versa sobre os nossos escriptos no Tamoyo; 2o que é feito do Francinha e Marciano Carrão; 3° se é certa a prisão do Gervasio no Rio; 4° se da communicação com Thomaz Antonio poude colher alguma cousa, que roborasse as fortes probabilidades que todos nós temos do projecto, que a escuma dos Ministerios, digo o actual Ministerio do Brazil tinha de entregar-nos aos Portuguezes; 5o se Felisberto veiu para a Inglaterra em commissão e qual é esta; 6° quaes as Provincias que recusaram a actual Constituição; 7° se além de tudo isto sabe algumas novidades mais frescas do Rio. Eis os quesitos que por ora me lembram, e sobre os quaes desejava alguma resposta; se no correio de Pariz houver alguma carta do Brazil para Mr. André, faça favor de a tirar e de m'a remetter. Nós por ora não pretendemos sahir de Bordeaux, e só quando tivermos de partir para o Rio é que iremos a vêr essa Côrte. Ora, logo que vejamos o Brazil mais seguro e tenhamos mais confiança na sua administração, isto é, logo que vejamos nossa patria escapa aos ferros portuguezes, com que a pretendiam agrilhoar, partiremos immediatamente a defendermo-nos dos forjados crimes e accusarmos o Ministerio, etc., etc.

Meus irmãos recommendam-se muito e pedem que acceite esta por sua.
Recado do

Seu am.

M. F. R. D'ANDRADA.

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Accuso a recepção da carta de V. S., e respondo dando lhe os parabens por sabel-o escapo á cholera-morbus, que tantos estragos tem feito na velha Europa, ainda assim mais feliz do que o nosso Brazil, já quasi desmoronado ou cahido em pedaços.

Nós já não somos o que eramos; taboa por taboa tem sido arrancada do antigo edificio imperial, e é de temer que esta familia de innocentes orphãos não venha a ser victima, com o tempo, do furor de uns poucos de malvados empoleirados, apezar dos nossos esforços em querer salval-a. Monstros se apoderaram dos empregos, monstros que descaradamente tem exercído toda a especie de crimes. A capital não é mais a antiga cidade do Rio; a emigração a tem despovoado; o terror tem acabado com as reuniões e partidas, que concorriam a augmentar seus começos de sociabilidade; as lagrimas das familias, o sangue tantas vezes derramado, um enxame de espiões, as cadeias amontoadas de suspeitos e uma immoralidade sem freio, eis aqui os bens que descarregou sobre o Brazil uma administração de facinorosos, de ladrões e de estupidos. Tal é o quadro doloroso que eu posso offerecer á sua consideração. Longe da patria, seu coração se sangrará de dôr, mas não tanto como o meu, que nella existe.

Estou resolvido a não voltar ao Rio para a sessão futura, porque isto não tem remedio, porque quanto a mim, temos de passar por scenas ainda mais tristes que as dos nossos visinhos; portanto escreva-me para Santos, querendo, e creia que me suavisam suas lettras.

Eu acabo de escapar á morte, e sempre intrepido; José sempre debil, Antonio sempre forte, Gabriella boa, e os meus filhos de saude; todos nós enviamos a V. S. um sem numero de saudosas lembranças.

Adeus, meu caro amigo; viva mais feliz e tranquillo, e persuada-se da cordeal affeição com que sou

De V. S."

Am. fiel e saudoso
M. F. RIBEIRO D'ANDRADA.

Rio, 8 de Junho de 1832.

Ill.m mo Sñr. Antonio de Menezes Vasconcellos Drummond.

Meu bom amigo, accuso a recepção da carta de V. S.a e a ella respondo pelo portador da maior segurança e confiança, qual seu estimavel Mano e meu estimavel amigo. D'ante-mão lhe dou mil parabens por haver escapado aos estragos da cholera-morbus.

Nossa situação e a de todo o brazileiro honrado é a mais critica possivel; o Brazil se desmorona e cahe em ruinas. Eu seria demasiado extenso, se tentasse descrever o nosso estado; seu mano contar-lhe-ha por miudo as desgraças de nossa patria; e como bom cidadão terá de sentil-as.

Adeus, meu caro; viva mais feliz e tranquillo do que eu; dê-me sempre as suas ordens, emquanto me souber em vida, e persuada-se da sincera estima e cordeal veneração que tributa

Rio, 25 de Maio de 1833.

A V. S.

Seu am. certo e sempre lembrado

M. F. RIBEIRO D'ANDRADA.

mo

Ill. mo e Ex. Sñr. Antonio de Menezes de Vasconcellos Drummond. Pela sua carta, em data de Setembro, venho ao conhecimento de achar-se V. Ex. em Lisboa, e residente em um paiz theatro de centenas de desordens, e por isso não appetecivel. Agradeço o offerecimento de seus serviços, e desde já o acceito, encarregando-o da entrega com segurança da carta inclusa. Julgo superfluo fazer a V. Ex." um igual offerecimento, porque conhece a constancia do meu procedimento, e por isso não póde duvidar de que de longo tempo dispõe da minha vontade como propria.

Gabriella agradece os seus respeitosos cumprimentos, e lh'os retribue com identicos; e os meus dois pequenos, nunca olvidados do amor com que os tratava, o abraçam cordialmente.

Resta-me renovar-lhe os antigos protestos da consideração e estima com que fui, sou e serei eternamente

Santos, 28 de Dezembro de 1838.

De V. Ex."

Patricio honrado e velho amigo,

MARTIM FRANCISCO RIBEIRO D'ANDRADA.

P. S. Espero se não descuide de obter a certidão de uma pensão, que foi concedida a meu presado irmão José, hoje fallecido, na volta da sua viagem, sobre a qual seu irmão extensamente lhe escreveu por pedido meu.

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Agradeço a sua lembrança e respondo á parte da carta que se dirigia a mim. Só crianças é que podem esperar, no estado actual do Brazil, pelo levantamento do interdicto, que por aqui nos tem: desenganemo-nos; nós não podemos voltar se não quando o monstro ou tiver consolidado o seu despotismo, ou tiver sido botado fóra do paiz; qualquer d'estes casos pede bastante tempo, logo é loucura contar com o nosso prompto regresso; mas no caso de verificar-se, e consolidar-se o despotismo no Brazil, qual é o brazileiro livre e que trabalhou pela reforma e felicidade de seu paiz, que queira voltar a elle ? Não me obriga a rir sómente o Pedra-branca; todos os novos grandes do novo Imperio fazem rir; são de certo inferiores aos grandes do Rei Christophe. Basta por ora: o amigo Rocha acceite esta por sua; recommende-me a seu Mano, ao Innocencio e Juvencio, e por ultimo o coração saudoso de

Seu am."

M. F. R. D'ANDRADA.

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