a mansa cerva está posta em seguro, de um ramo em outro ramo vão cantando, e o doce rouxinol d' outra ouviremos. Silvia soando irá na lira branda, soará Silvia na montanha dura, que sua dureza com teu nome abranda. Des que Ideixei de ver tua formosura ja o sol tres vezes alumiou a terra e outras tantas a deixou escura. Qualquer lugar que em si te esconde e encerra nunca o verei sem dor, nunca sem magua, ou seja campo ou bosque ou vale ou serra. Achei de duas rolas nesta fragua os tenros filhos sobre um freixo antigo com dadivas e rogos que lh' os desse : e outras cousas mais, com que t'espero que não abranda amor teu peito fero, bem fero e bem cruel mas bem formoso, pois sabe quanto peno e quanto quero. Mil vezes meu esprito saudoso de mim se parte e deixa o corpo frio, do que deseja mais mais duvidoso. Mil vezes de mil lagrimas um rio banhando vai a face descorada, outras tantas se falo desvario. De leves sombras fica salteada esta alma que lá trazes não sei onde, nos teus formosos olhos pendurada, quando chamo por ti, que me responde a mesma voz na vale onde em vão grito, cuido que outrem te chama e que s' esconde. Ali com nova força, novo esprito, com ira vou buscando quem nomea teu doce nome no meu peito escrito. Se com suave som brando menea um leve e brando vento a folha leve, se fere a onda crespa a branca area, ouvir-te me parece. Ah gosto breve! Eis este engano passa, eis n' outro caio: quem enganos de amor estranhar deve? Quando em bosque escuro um claro raio por entre a basta rama resplandece, ali me enlevo todo, ali desmaio: dos teus serenos olhos me parece aquela viva luz que se me nega, em cuja ausencia o sol se m' escurece. Envolto em laços d' outro amor m' entrega, aquele imaginar sempre sobejo ali vista me dá, ali me cega. Que planta posso ver, que pedra vejo, que lirio ou que rosa ou neve ou fogo' onde te não figure o meu desejo? Amor anda de mim fazendo jogo ; tu, Silvia, muito mais, pois te não movem tantas lagrimas tristes, tanto rogo. Tuas frias entranhas inda provem, porem mais brandamente, as chamas vivas que nestas minhas de contino chovem. Porque foges de mim, porque m' esquivas? que não ha cousa aqui que não te aguarde, té aguas deste rio fugitivas? Se tu viesses, Silvia, inda esta tarde verias lá no mar nuves rosadas por entre as quais o sol mais brando arde. verias destas humidas moradas sair as brancas ninfas saudosas de mil alegres flores coroadas, e qual de roxos lirios, qual de rosas esmaltaria teu puro e crespo ouro, tam ledas de te ver quanto invejosas. E eu veria os olhos por que moiro, veria esse coroado e alvo rosto, da maior formosura o mor tesouro. Se todo meu prazer, todo meu gosto depende de ti só que vas fugindo, não ves em qual estremo me tens posto? Não ves que vai a magua consumindo a vida em duvidosas esperanças? Ah doudo Alcido! Silvia está-se rindo, e tu de chamar Silvia inda não cansas ! 142. 143. Q A Nosso Senhor UANDO será, Senhor, que desatado que quem muito deseja muito alcança; TEMPO Descanso EMPO foi que pastava neste prado 1540-1619 |