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151.

e sobre a fonte pura

passa a noite cantando
o rouxinol suave

com saudoso acento agudo e grave.

Diana mais formosa

sem ventos sobre as aguas aparece,
que noite airosa

e faz

tam clara resplandece

á vista das estrelas

que se envergonha o sol de inveja delas.
Tudo nesta mudança

tambem de novo cobra novo estado,
qual em sua esperança

e qual em seu cuidado
acha contentamento,

qual milhora na vida o pensamento.

Endechas

OFREI, coração,

SO

vosso sentimento,
vingai-vos dos olhos
que a culpa tiveram ;
quanto milhor fora

enganar ao tempo
que buscar ventura
em gostos alheos!
Para que são bens
que acabam tam presto?
Para que é buscâ-los
quem sabe perdê-los ?
Cuidados de longe
matam de mui perto,
que acorda a lembrança
contino o desejo;

amor tam constante
tam mal satisfeito,
fe tam mal pagada
ja agora quebremos:
seca a esperança
cansa o sofrimento,
fiz força atégora
mas ja não me atrevo.
Qualquer sombra van
engana o desejo,
e tudo são sombras,
porque amor é cego.
Ah quem nunca vira
por não ver tam cedo
quantos desenganos
vem sobre um receo.
Ai triste que canso
e não me arrependo
nem deixo meu mal

com quanto o pragueijo! Gostos, alegrias,

glorias, passatempos,

se vos não possuo

tambem vos engeito :

mais quero meu mal pelo bem que quero que a vossos enganos porque vos conheço; quero de meus bens

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152.

SOROR VIOLANTE DO CEO

Villancico

AUDADE minha,

Squando vos veria?

Ides-me fugindo,
deixais-me penando,
vos partis triunfando,
eu fico sentindo.
Partis-me partindo.
coração e vida ;
saudade minha,
quando vos veria ?
Quando meu cuidado
verei tam contente
que logre presente
quem choro apartado ?
Ai que alegre estado
eu convosco tinha!
Saudade minha,
quando vos veria ?
Quando minhas glorias
verei restauradas

sem as ter livradas

só nestas memorias ?

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1601-1693

153.

Mas se o ceo vos guarda

com tal companhia,

saudade minha

quando vos veria?

D. FRANCISCO MANUEL DE MELO

Soneto

1608-1666

Q

UANTAS vezes conheço o meu cuidado
e contemplo na duvida que o espera,
tantas e muitas mais dele quisera
antes ser despedido que enganado.
Torno a cuidar depois que inda apartado
quem me assegura a mi que o estivera,
se para sempre amar sempre é uma era,
para sempre temer sempre um cstado?
Ja propos
de passar o mundo a esmo
pois no tempo, lugar, fe, gosto e morte

a fraude é certa e nunca conhecida.

Vos que sabeis de mi mais do que eu mesmo
ensinai-me a viver com minha sorte,

fareis de todo vossas sorte e vida.

154. Responde a um amigo que mandava preguntar a vida que fazia na sua prisão.

C

ASINHA despresivel, mal forrada,

treva lá dentro mais que inferno escura,
porta só para entrar, logo fechada,
cama que é potro, mesa destroncada,
pulga que por picar faz matadura,
cão só para agourar, rato que fura,
candea nem com os dedos atiçada ;

155.

grilhão que vos asusta eternamente,
negro boçal e mais boçal ratinho,

que mais vos leva que vos traz da praça ;
sem amor, sem amigo, sem parente;

quem mais se
Tal vida levo

doi de vos diz: Coitadinho!

santo prol me faça !

D.

SOROR MARIA DO CEO

Dorotea a Teofilo

1658-1753 ?

ADONDE vas, o Filo sem ventura,
dize, por este campo descuidado?
T. Vou por aí a zombar de teu cuidado
quando te vejo nessa prisão dura.

D. Ó praza a Deus te piques entre as flores
porque saibas quais são os meus amores.
Adonde vas, pastor sem mais sentido
que o de não ser amante nem amado?
T. A ser na liberdade bem ganhado
por não ser nas flores bem perdido.
D. Ó

praza a Deus que aches entre as rosas
flores ferinas, setas amorosas.
Adonde vas, me dize, e sabe antes
que te murmura aquela fonte pura.
T. Vou a não ter mais fe nesta verdura
que a que ensinam as rosas inconstantes.
D. Ó praza a Deus te digam as boninas
os misterios da fe por rosas trinas.
Adonde vas, pastor sem lealdade,
como quem seu delito não recea?
T. Ao som que me faz uma cadea
vou a cantar de minha liberdade.

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