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Padrão levantado por Vasco da Gama, proximo a Melinde, em janeiro de 1499, no regresso da sua viagem à India.

OS LUSIADAS

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CANTO TERCEIRO

I

Agora tu, Calliope, me ensina

O que contou ao Rei o illustre Gama:
Inspira immortal canto, e voz divina
N'este peito mortal, que tanto te ama:
Assi o claro inventor da Medicina,
De quem Orpheo pariste, oh linda dama,
Nunca por Daphne, Clicie, ou Leucothoe
Te negue o amor devido, como soe.

II

Põe tu, Nympha, em effeito meu desejo,
Como merece a gente Lusitana;
Que veja, e saiba o mundo, que do Tejo
O licor de Aganippe corre, e mana;
Deixa as flores de Pindo; que já vejo
Banhar-me Apollo na agua soberana;
Senão direi, que tens algum receio,
Que se escureça o teu querido Orpheio.

III

Promptos estavam todos escuitando
O que o sublime Gama contaria;
Quando, depois de um pouco estar cuidando,
Alevantando o rosto, assi dizia:
Mandas-me, oh Rei, que conte declarando
De minha gente a grão genealogia:

Não me mandas contar estranha historia,
Mas mandas-me louvar dos meus a gloria.

IV

Que outrem possa louvar esforço alheio,
Cousa é, que se costuma, e se deseja:
Mas louvar os meus proprios, arreceio,
Que louvor tão suspeito mal me esteja;
E, para dizer tudo, temo, e creio,

Que qualquer longo tempo curto seja:
Mas, pois o mandas, tudo se te deve;
Irei contra o que devo, e serei breve.

V

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Além d'isso o que a tudo em fim me obriga,
É não poder mentir no que disser;
Porque de feitos taes, por mais que diga,
Mais me ha de ficar inda por dizer:
Mas, porque n'isto a ordem leve, e siga,
Segundo o que desejas de saber,
Primeiro tratarei da larga terra,
Depois direi da sanguinosa guerra.

VI

Entre a zona, que o Cancro senhorea,
Meta Septentrional do Sol luzente,
E aquella, que por fria se arrecea
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodea
Pela parte do Arcturo, e do Occidente
Com suas salsas ondas o Oceano,
E pela Austral o mar Mediterrano.

VII

Da parte d'onde o dia vem nascendo,
Com Asia se avisinha; mas o rio,
Que dos montes Rhipheios vai correndo
Na alagoa Meotis, curvo e frio,

As divide: e o mar, que fero e horrendo
Vio dos Gregos o irado senhorio,
Onde agora de Troia triumphante
Não vê mais que a memoria o navegante.

VIII

Lá onde mais debaixo está do polo,
Os montes Hyperboreos apparecem,
E aquelles onde sempre sopra Eolo,
E co'o o nome dos sopros se ennobrecem:
Aqui tão pouca força tem de Apollo
Os raios, que no mundo resplandecem,
Que a neve está contino pelos montes,
Gelado o mar, geladas sempre as fontes.

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