AO LEITOR Certos de que nos tempos de dissolução e.esphacelamento que vão correndo, mais que nunca se torna uma especie de sacerdocio fortificar o sentimento patriotico, aviventar no passado historico as convicções civicas que definem e caracterisam um povo, tornando-o grande sempre que vive vida propria: de que só quando nos embebemos largamente no eu da propria originalidade, na historia da nossa terra, do meio ethnico em que vivemos se consegue tal desideratum e de que rien ne suplée pas aux documents: pas de documents, pas d'histoire (1) damos a lume o 4.o volume das Memorias Archeologico-Historicas do districto de Bragança. «Os documentos, diz um nosso laborioso e distincto escriptor, quando verdadeiramente elucidativos de um determinado assumpto, fallam por si, não necessitam de commentarios; a verdadeira luz é a que elles projectam, sem dependencia dos refletores da nossa critica où do nosso commentario» (2). E sobre o assumpto o meigo e suave, Fr. Luiz de Sousa: «O melhor meio de descobrir verdades, averiguar successos de importancia, concertar tempos e annos duvidosos, é revol *(1) Langlois et Seignobos, Introduction aux études historiques. (2) Christovam Ayres de Magalhães Sepulveda, Hist. Organica e Politica do Exercito Portuguez- Provas, Lisboa, 1902, vol. 1, pag. 29. vendo cartorios antigos das egrejas grandes e communidades autorizadas; onde se lançam muitas memorias só a proposito do que lhes cumpre sem medo de desagradar nem ambição de comprazer a ninguem: as quaes como estão puras, singelas e sem vicio servem de grande lume para a historia. E não tenho duvida que se os nossos chronistas, antigos, digo aquelles que escreveram dos reis longos annos, depois da sua morte, assi como se valiam de informações verbaes, tivessem ou curiosidade ou paciencia, pera desenrolar pergaminhos velhos, e ir soletrando ou advinhando a letra gothica, umas vezes embaraçada, outras quasi apagada, e cega de velhice, como mais de uma vez nos aconteceu : sempre houveram deixado maior noticia, e mais acerto de muitas cousas de importancia em que ainda hoje se deseja» (1). Como no 3.o volume reunimos a documentação pertencente ao concelho de Bragança, damos neste a referente ao resto do districto seguindo em continuação as Inquirições de D. Affonso III e D. Diniz que já veem do anterior. Comquanto os documentos dos archivos do districto de Bragança concordem essencialmente com os originaes da Torre do Tombo, algo divergem na estructura morphologica das palavras; não obstante, preferimos a lição d'aquelles por se nos afigurar de certo interesse philologico regional. Baçal, janeiro de 1911. P. Francisco Manuel Alves. (1) Fr. Luiz de Sousa, Hist. de S. Domingos, liv, 1, cap. xxii. |