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On voit à nu ce sage et brillant Orient..

L'Europe lui envoya un poète pour le saluer, le chanter et le peindre; noble ambassadeur de qui le génie et la fortune sembloient avoir une sympathie secrète avec les régions et les destinées des peuples de l'Inde.

CHATEAUBRIAND.

A Natureza, no ponto de vista scientifico,

he hum problema que o Omnipotente offereceu á resolução da intelligencia humana, a qual vai pouco e pouco, na serie successiva dos seculos, forcejando por descobrir mysterios, e penetrar segredos. Mas tão longe foi a bondade infinita de Deos, que, a par dos gósos do espirito, quiz tambem proporcionar ao coração do homem o mais doce enlevo-no contemplar as maravilhas, e admirar as bellezas do Universo!

Se Humboldt, no seu «Cosmos », (2) se propõe principalmente a apresentar huma descripção physica do mundo, e, por consequencia, maislhe importa a resolução do grande proble

ma, do que The interessão as impressões estheticas e moraes; nem por isso o sabio, ao mesmo tempo dotado de huma alma verdadeiramente poetica, deixou de ter por conveniente a observação da Natureza atravez das emoções dos poetas, dos pintores, dos viajantes, que ante a formosura de deliciosos paineis naturaes se extasiárão, patenteando as suas sensações nos versos, na teia, ou nos albums.

Neste sentido falla Humboldt de Camões e dos Lusiadas.

Debalde aspirará hum Poeta a descrever com fogo, e com fidelidade a Natureza, se a sua vida tiver corrido no meio das Cidades, no retiro do gabinete, na monotonia de huma existencia sem episodios. Mas, se o poeta tiver feito a guerra nas faldas do monte Atlas, se tiver combatido no Mar Vermelho e no Golpho Persico, se duas vezes tiver dobrado o Cabo da Boa Esperança, se durante dezeseis annos, nas ribeiras do Indo, nas praias da China, tiver prestado hum ouvido attento aos phenomenos do Oceano, (3) como de Camões diz Humboldt; se esse poeta tiver o os magna sonaturum, e a sensibilidade das almas privilegiadas... oh! esse... será assaz poderoso para reproduzir em seus versos a magía da Natureza!

Tal foi Camões; e nem sequer os accentos da sua melancholia, originados do infortunio, nem o enthusiasmo da inspiração, nem os esforços da linguagem, roubão a minima particula á verdade das suas descripções, antes a arte, segundo finamente observa Humboldt, tornando ainda mais vivas as impressões, augmenta o grandioso e a fidelidade das imagens, como sempre succede a quem recorre a huma nascente pura.

Quer o Poeta nos descreva o remanso da natureza, ou a inquietação furiosa do mar, ou a braveza da tempestade no meio das florestas; ou desenhe a physionomia das terras africanas, ou a configuração da Europa, ou o movimento dos astros; ou nos conte os successos, e perigos, e até as especialidades technicas da vida maritima; ou nos dê noticia dos phenomenos naturaes... sempre a verdade brilha na imaginosa pintura de Camões:

Os ventos brandamente respiravão,
Das náos as vélas concavas inchando;
De branca escuma os mares se mostravão
Cobertos, onde as proas vão cortando
As maritimas aguas consagradas,
Que do gado de Prótheo vão cortadas.

C. 1.-E. 19.

Tão brandamente os ventos os levavão,
Como quem o Ceo tinha por amigo:
Sereno o ar e os tempos se mostravão
Sem nuvens, sem receio de perigo.

C. 1. E. 43.

Da Lua os claros raios rutilavão
Pelas argenteas ondas Neptuninas;
As estrellas os Ceos acompanhavão,
Qual campo revestido de boninas;
Os furiosos ventos repousavão
Pelas covas escuras peregrinas.

C. 1.-E. 38.

Mas assi como a Aurora marchetada
Os formosos cabellos espalhou

No Ceo sereno, abrindo a roxa entrada
Ao claro Hyperionio que acordou,

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Como não admirar nestes, e em outros versos, que por brevidade omittimos, a graciosa pintura da placidez dos elementos? Como não vêr o poder de imaginação, que tão vivamente desenha a superficie do mar apenas enrugada pelo sopro da viração, ou as ondas suavemente alevantadas, scintilando e brincando com o raio luminoso que nellas vem reflectir-se! Como não sentir-se arrebatado pela graciosissima descripção de huma noite de luar-gosada nas solidões do Oceano, quando os ventos dormem so

egados! Como não saborear a belleza d'esse agnifico despontar da aurora!

Mas eis que as scenas se trocão, e a Natueza se torna medonha e temerosa. O Poeta em logo à mão novo pincel, e hum quadro de orror he por elle pintado em sublimes versos:

Qual Austro fero ou Boreas na espessura
De sylvestre arvoredo abastecida
Rompendo os ramos vão da mata escura
Com impeto e braveza desmedida:

Brama toda a montanha, o som murmura,
Rompem-se as folhas, ferve a serra erguida:

C. 1.-E. 35.

Subito o Ceo sereno se obumbrava,
Que os ventos mais que nunca impetuosos
Começão novas forças a hir tomando,
Torres, montes e casas derribando.

C. 6.-E. 37.

Agora sobre as nuvens os subião
As ondas de Neptuno furibundo:
Agora a ver parece que descião
As intimas entranhas do profundo.
Noto, Austro, Boreas, Aquilo querião
Arruinar a maquina do mundo.
A noite negra e feia se allumia
Co'os raios em que o polo todo ardia.

C. 6.-E. 76.

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