A QUEM LÊR. Muito se ha escripto já sobre a vida de Camões, - dessa vida agitada, romantica, e tão pouco affortunada, que ficou pelo mundo em pedaços repartida, como elle tão poeticamente o diz em uma das suas bellas Canções. Assaz e muito se ha escripto já de critica litteraria sobre as suas immortaes producções, e com especialidade ácerca dos «Lusiadas». Da convicção deste ultimo enunciado estavamos penetrados, quando, por occasião de lêrmos a gigantesca obra do grande Humboldt O Cosmos=, observámos que o sabio Allemão (porventura a intelligencia mais elevada. VIII e completa, que hoje conta a Humanidade) encarou o nosso Epico debaixo de hum ponto de vista novo, e infinitamente curioso, qual o de o considerar como hum pintor gracioso e verdadeiro da Natureza, e particularmente dos phenomenos maritimos. Não he que a portuguezes tenhão escapado algumas das bellezas que Humboldt aprecía; mas o sabio Allemão tomou as cousas no aspecto scientifico, e n'esse terreno tem novidade a sua admiração. Deliberámo-nos pois a dar noticia do rapido esboço de Humboldt, por querermos repartir com o publico a satisfação que tivemos, ao vêr que hum escriptor, de tamanha nomeada na alta região das sciencias, se comprazia em liberalisar enthusiasticos louvores ao Cantor immortal das nossas glorias. O plano que adoptámos foi o de acompanhar, passo a passo, as asserções de Humboldt, e de as desenvolver e exemplificar convenientemente, visto serem ellas muito breves e succintas, como era proprio da sua obra, exclusivamente con sagrada ás sciencias naturaes, e na qual só incidente trata de poesia. IX por Pozemos todo o cuidado em não inserir no corpo deste mesquinho opusculo senão as noticias mais intimamente ligadas com o assumpto, reservando para as Notas que vão no fim as explicações que se nos affigurárão necessarias. Em tamanha pobreza de merecimento, e de titulos que nos recommendem, só nos póde amparar a generosa indulgencia dos Leitores,-e essa pedimos e supplicâmos. |