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Ill.mo

Bordéos, 3 de Março

mento.

de 1829.

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summo prazer a sua ultima de 21

Meu bom amigo e senhor, recebi com do passado, mas devo protestar contra as causas do meu apparente esqueciNão foi só a falta de saude, o inverno e a minha habitual preguiça, que me impediram de responder às suas cartas, mas principalmente o não saber para onde devia dirigir as respostas, pois nunca V. S.a me dizia onde as devêra encaminhar na sua aventurosa perigrinagem. — O meu coração não é mudavel, ainda mesmo quando ha motivos de justos arrufos. Vamos satisfazer ao que quer saber. A chave que tem minha mulher não é do caixão, mas sim da cêrca que rodeia o terreno onde estão depositados os ossos de seu caro Irmão, cujo cadaver foi encerrado em 3 caixões pregados. O corpo póde ficar em repouso por nove annos; o terreno, no caso de se lhe mandar elevar um monumento, custará 400 francos; o caveau de pedra outros 40; e o monumento superior á sepultura não tem preço fixo, porque dependerá da qualidade e obra d'elle. Para limpar a terra, cuidar das flôres e dos cyprestes, quer o homem que cuida nos outros 30 soldos por mez. Diga o que quer que se faça a esse respeito. Eu projecto partir para fins de Abril ou meiado de Maio para o Brazil, não só por não expôr minha familia aos incommodos de uma viagem de inverno, mas para cobrar o meu quartel de Abril, pois estou quasi sem dinheiro para os preparativos indispensaveis da viagem; bem que parte d'aqui até 20 d'este um navio, o Gustave Anna, de 180 toneladas, para o Rio de Janeiro.

Muito folgaria que V. S. escolhesse esta via por Bordéos, para ter o gosto de dar-lhe o ultimo abraço e jubilar-me com o vêl-o desencantado das feiticeiras Gallicanas.

Parta, meu bom amigo; vá ver se ainda póde ser util ao seu desgraçado paiz. É moço, tem visto e estudado o mundo, e sabe a fundo a perfidia e machiavelismo dos Gabinetes europeus, que tem arruinado a nossa terra. Forceje por lhe ser util, já que a minha idade provecta e o desengano de um mundo corrompido e ingrato me privam de todo o trabalho e de qualquer esperança.

Fico lhe muito obrigado pela amigavel offerta da sua quinta, mas não devo aceital-a, porque, aborrecido por todos os partidos, que como abutres esfaimados dilaceram e roei as entranhas do Brazil, seria de novo comprometter a V. S. e mórmente a seu timorato Irmão, que já sentiu o que custa ser amigo dos Andradas.

Receba saudades do Belchior, de minha mulher e da minha boa Narcizinha ; e dê as a tudo o que lhe interessa, pois sou humano, et nihil humani a me alienum esse puto. Responda e dê noticias politicas que possam interessar.

Seu de coração,

ANDRADA.

Ill.mo

Bordéos, 2 de Abril

de 1829.

e

Meu bom amigo e senhor, com muito gosto recebi a sua carta de 25 do passado, e estimarei que parta quanto antes para o bom paiz dos Tatambas, onde desejo que não se applique só a ganhar dinheiro, mas tambem a servir a sua desgraçada patria, que tanta precisão tem de homens instruidos e activos. Eu conto partir d'aqui a 10 ou a 15 de Maio no navio Phenix, e, como ajustei não pagar senão a metade da passagem aqui e a outra no Rio, para isso póde bastar a minha pobre bolsa, eis o motivo por que não acceito a sua generosa offerta, que talvez me seja mais necessaria lá. Como eu não quero ir para a casa de meu sobrinho ou do Mariano, e ao mesmo tempo não quero descontental-os, por isso tambem não posso acceitar igualmente a outra sua offerta da quinta; mas lhe rogo queira alugar-me uma casinha para onde nos recolhamos esses poucos dias que ficarei no Rio, para requerer, em paga da grande (perda ?) que soffri com o desterro violento e rapido, a execução do Decreto de S. Magestade, já enviado em 1822 a S. Paulo, pelo qual se me mandava pagar a metade dos ordenados que cobrava em Portugal; como tambem para ver se recolho o resto dos meus livros, etc., e a minha collecção de mineraes, machinas e modelos, que deixei na casa do nosso Francinha. Se tudo isto está perdido, então paciencia. Lá vão perdidos mais de cem mil francos, que fariam toda a minha riqueza.

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Descanse sobre o negocio de seu defunto Irmão; agora recommendarei isto ao amigo Mr. Escaut, livreiro au cours de Tourni, e lhe pagarei o anno inteiro, que é uma bagatella. - Agradeço-lhe a offerta da leitura das Revues; e em vez de mais subscripções, bom era V. S. levasse para o Rio alguns instrumentos aratorios, que possam ter applicação no Brazil, etc.

Pobre Portugal, e pobre D. Pedro, que não teve ao lado quem lhe abrisse os olhos sobre a infernal politica da Europa, assim como não teve sobre a bestial guerra de Buenos-Aires !- Para que não succeda o mesmo ao successor do throno, grite, meu bom amigo, que lhe dêm quanto antes um aio, homem

de energia, probidade e saber. Sem educação, quem nos assegura que não saia um novo D. Miguel, para infelicidade sua e do Imperio?- Mas basta de politicas, que só servem de affligir os amigos do bem e da patria.—Pobre patria, representada na Europa por Brants, A. Telles, Cunhas, Linhares etc, etc., etc.! Diga ao meu bom amigo Rocha, que estou muito enfadado com S. Ex.* deputado, que ha mezes não tem achado um momento livre para escrever-me Dei os seus comprimentos ás pessoas suas recommendadas, que todas lhe agradecem as despedidas.

Seu de coração,

ANDRADA.

P. S. Ainda não sei das listas dos novos Deputados das Provincias; porém se foram tão bem escolhidos como os do Rio, adeus Imperio. O que valerá é que são poltrões e bestas. Não tenho tempo, por isso não lhe envio a minha Ode aos Bahianos, que não desmerece, se não excede à dos Gregos.

Ill.mo

Pelo capitão Mamignard mandei dizer a V. S. que me mandasse 50 mil réis em cobre que estava jà a la luna e já devo 10 patacas ao Custodio. Queira entregal-os ao Sr. Antonio Joaquim da Silva Garcez, Boticario da rua dos Pescadores, na travessa, para que os mande entregar aqui ao visinho e amigo Custodio. Estou sem Gazetas ha duas semanas, porque o Aquilino, que m'as remettia aqui, creio que está sem vintem. Se V. S. as puder haver, queira enviarm'as pela via do Boticario.

Adeus; saudades de todos a todos.

Sexta-feira, 23 de Julho.

Seu de coração,

ANDRADA.

Ill.mo

Ainda estará doente? Assim o temo, visto ha tanto tempo não ter escripto

ao Farropilha-mór da Republica das formigas.

Ora, pois, o dia de Santo Antonio está á porta, e é preciso fazer um esforço para vir beber commigo um copo de champanha.

Diga-me se já pagam no erario.

Em todo o caso, mande-me pelo Mamignard, no caso de não poder absolutamente vir, cincoenta mil réis em cobre.

Tambem sirva-se dar ao portador d'esta, o valente patriota Porto Seguro, um conto de réis, passando-me uma obrigação de divida por um anno, com o juro da lei, podendo dentro d'este prazo ir pagando por parcellas. Logo que la for lh'o pagarei, por ser preciso abrir primeiro o bahú que lá está, e segundo um caixãozinho, cuja chave não posso mandar por agora.

Adeus; saudades ás senhoras e á comadre.

Seu de coração
ANDRADA.

Ill.mo

Recebi a sua e dou-lhe os parabens da sua proxima viagem, bem que sinto muito igualmente perder a sociedade de um amigo. Venha logo a estes seus estados, e falle ao Paranaguá pelo portador, que estimo pelo caracter, e desejo que seja servido.

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A carta de Martim é de 7 de Fevereiro, e é nella que me dá parte que vem com minha filha e netos para a minha casa. Não sei por que fatalidade só agora é que recebo esta carta, que creio ficou trasmalhada entre os papeis do nosso Nabab, que creio traz a cabeça no centro da gravitação, ou ponto de apoio da machina humana.

Logo que Martim chegar, conduza-o a essa sua casa, e dê-me parte para ir abraçal-o. Confio no meu amigo, que lhe apromptará tudo o de que precisarem até a minha chegada.

Cá vamos vivendo, e a tirar formigas, que é nunca acabar ; o que já começa a fazer-me perder o gosto da chacarinha, e a chorar o dinheiro que nella já tenho gastado e tenho de gastar.

Adeus; tenha saude, e dê as novidades do tempo, e se já sabe alguma coisa da carta que o Nero de Portugal escreveu ao irmão, etc., etc.

Seu de coração

ANDRADA,

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Recebi o seu bilhete, com que folguei muito, pois agora só por lettras sei alguma coisa da sua pessoa e saude.

A miuha obra vai aos pulos, depois que aqui cheguei; mas com o café e esta não ha tempo para continuar as Fantasmagorias. Se não quer entrar nellas, logo que puder compareça aqui em proprio vulto; e, quando vier, traga-me o meu alambique e tambem as botas e almofadinha, se é que ellas existem ainda em propriedade minha; pois, segundo dizem de lá, o boticario, não entendendo a lingua de Cabinda do preto que as levou, as recambiou pelo mesmo selvagem.

me

A Narcizinha deve ir quanto antes para a pensão de M. Touloi, para aprender a piano, continuar a cantoria, e ver se tem geito para o desenho, lêr, escrever e contar na lingua de N. Sñr."

Adeus; saudades ao Nabab de Arcote, etc., etc.

Rogo a continuação da remessa das gazetas, e agradecimentos ao amigo Cruz.

Seu general e amigo

ANDRADA.

Nhonhô Antonio.

Eu fico sozinho hoje em casa; se mecê, meu sinhozinho de França, prefere comer pirão e feijão com toucinho á Paulista aos quitutes do grandiosissimo Senhor D. Luiz de las Panreas, cá o espero; se não, Deus ajude a mecê.

Seu muleque

ANDRADA.

Meu bom amigo.

Veja se me póde obter os dois Diarios parentes, o do Governo, em que vem o meu despacho pecuniario, e o do Planché, onde vem não sei que, que me diz respeito. Se puder hoje saiba do menino bonito a significação das palavras sobre quintas.

B. N.

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