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III

ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA MACHADO

E SILVA

Martim

Já saberás a esta hora o successo de Pernambuco. No dia 6 do corrente, estando eu de correição, levantou Pernambuco a bandeira da independencia, e o conseguiu, tendo nisto grande parte a fraqueza do general Caetano Pinto. Fui chamado pelo novo Governo, e cheguei no dia 9, e tenho assistido á mór parte dos Conselhos. Este successo tem sido muito applaudido pelo Povo; eu tenho porém um grande desgosto com elle, que é o nos vermos separados, talvez para sempre. O destino assim o quer, que remedio! Particulares e autoridades, tudo tem reconhecido o novo Governo e a fórma republicana.

Participa á nossa mãe estas noticias; tem porém cuidado em tranquillizal-a a meu respeito. Tu bem sabes quanto geito é precise para que estas novas a não acabem, visto a sua grande idade.

Adeus. Saudades aos amigos Marianno, Belchior e Rodrigues. Sou

teu irmão e amigo

ANTONIO CARLOS.

Pernambuco, 29 de Março

de 1817.

P. S. Acabo de vir do Conselho, assombrado de ver a immensa tropa que baixa do interior; ha já mais de seis mil homens de tropa regular, e deve montar a 10 mil, o que com as milicias e ordenanças formarà um exercito de 30 mil. O systema de administração de justiça está se reformando; as Ouvidorias vão abaixo, nisso perdendo o meu logar, além do risco de perder o officio que tenho em S. Paulo. Sinto, mas tenho paciencia. Dá-me noticias tuas.

Caro Sir. Menezes.

Não respondi á sua por occupação, e agora o faço agradecendo-lhe a lembrança que de mim tem.

Eu por aqui contava demorar-me por mil razões, entre outras o estado avançado da prenhez de minha mulher; mas hontem recebemos intimação do Maire para escolhermos algum logar do interior para residencia; resistimos e

fizemos uma representação séria a este respeito; veremos a decisão do Governo Francez. E' espantosa a desaforada Canalha Franceza; eu a detesto, e só razões de economia é que me fazem demorar nesta terra inhospita. V. S. falla-me em Londres; mas diga-me, como poderia eu alli passar com uma familia e com pouco dinheiro. Certo, se eu pudera, preferiria Inglaterra á França; mas não posso, paciencia. Do Brasil até agora não tenho recebido cartas, o que me assombra; creio que se nos tiram lá as cartas. Se eu receber alguns dinheiros irei a Pariz, assim que m'o permittir o estado de minha mulher. Nós dirigimos ao Monitor e ao Constitucional uma nota semelhante á que puzemos no Indicador de Bordéos; esta nota não tem apparecido ; póde ser que se precise algum pagamento para isto, procure primeiramente o redactor do Monitor, e obrigue a que ponha a dita nota, e caso seja preciso pagar a inserção pague; e se no Monitor não quizerem pôr, faça-a pôr no Constitucional, e caso ponham, deverá ficar com alguns numeros para se mandarem ao Brasil. O que pagar avisará para ser embolsado.

Adeus; lembranças de meus manos e do Belchior.

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Não respondi a sua de 26 do passado, esperando ter que lhe dizer de novo, e na verdade alguma cousa agora ha. Por cartas de D. Thomaz de Vigo se nos avisa que o maroto do Imperador, por um decreto, nos permitte a volta para o Brasil; creio que é a todos os deportados e fugitivos. Esta noticia deu um navio, que chegou ao Porto, vindo do Rio, e pela mesma via recebemos o seguinte soneto, que se attribue a um dos deportados de novo na minha Provincia, o qual lhe copio, e póde d'elle fazer o uso que lhe parecer.

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Que tal? Eu duvido crer a noticia, e, certa que seja, não voltarei ao Brasil senão para salvar a minha patria, no que não acho por emquanto geito, visto o socego das Provincias do Sul. Queira Deus que Pernambuco se una e resista, e que a covarde Provincia emfim se resolva; sem isto estamos perdidos. Repare na eleição para o Senado do Rio; que desaforo! Todos os traidores são os eleitos.

O que é engraçado é que quem quer que mandou pôr nos papeis francezes a falsa noticia da união da Assembléa, não reparasse que em 18 de Junho ainda o Imperador não tinha escolhido dos 12 nomeados senadores pelo Rio os quatro que devem ficar, e que assim se desmascarava a mentira da reunião de um corpo, cujos membros ainda não existiam legalmente, mesmo na capital, quanto mais nas outras provincias. Se a noticia é, como creio, do Borges, tambem o julgo capaz de forjar a carta a José; é verdade que é mais natural ande nisto antes o patife do Gameiro e o grande Felisberto. Vamos á sua carta ultima; não me admirou a conducta do Constitucional e Monitor, bem que este era pelas leis de França obrigado a inserir a refutação d'aquillo que havia avançado de calumnioso na sua folha, embora copiasse de outrem; muito menos me assombrou a conducta da censura; tudo é digno d'este governo e d'este polido!!! povo. Eu só o que desejo é ver-me d'aqui fóra para pintar

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