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GRAMMATICA EXPOSITIVA

CURSO SUPERIOR

POR

EDUARDO CARLOS PEREIRA

Obra approvada pela Congregação do
Gymnasio Official da cidade de S. Paulo

Il existe donc une bonne tradition: la gram-
maire a le devoir de la faire connaitre et de
la défendre contre toute altération. C'est en
enseignant le bon usage qu'elle ne se con-
tente pas d'être science, mais devient art.
A. DARMESTETER

22. EDIÇÃO

MELHORADA
E AMPLIADA

Com uma Synthese e Critica das Reformas Orthographicas e um
Appendice sobre Estylistica e Composição literaria em prosa e verso.

COMPANHIA EDITORA NACIONAL

EDITORA - PROPRIETARIA

RUA DOS GUSMÕES, 33

SÃO PAULO

PRESERVATION
COPY ADDED

m/f 1/03/90

774

P4355

This Grammar is

toomock cut of date.

S. PAULO-EDITORA LIMITADA
RUA BRIG. TOBIAS, 80

1927

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PROLOGO DA 1.a EDIÇÃO

A boa regencia de nossa cadeira de portuguez no Gymnasio Official da cidade de S. Paulo nos levou ao presente trabalho.

Depois que Julio Ribeiro imprimiu nova direcção aos estudos grammaticaes, romperam-se os velhos moldes, e estabeleceu-se largo conflicto entre a eschola tradicional e a nova corrente. Vae a esta hora viva a requesta em todo o campo grammatical. A incerteza das theorias pede meças á variedade desorientadora do methodo expositivo e á exuberancia da technologia "abstrusa e cansativa".

Nestas condições é natural que o professor de portuguez sinta necessidade de abrir caminho proprio. Foi o que nos aconteceu, embora tivessemos de fazer da fraqueza forças.

A orientação que seguimos, expo-la-emos em poucas palavras.

Em primeiro logar, procurámos a resultante das duas correntes: da corrente moderna, que dá emphase ao elemento historico da lingua, e da corrente tradicional, que se preoccupa com o elemento logico na expressão do pensamento. Ha verdade nas duas correntes: o erro está no exclusivismo de uma e de outra, ou, melhor, na confusão de ambas.

Ninguem contesta, certamente, que os factos actuaes da lingua teem sua explicação racional nos antecedentes historicos da mesma lingua. E' na phonologia, morphologia ou syntaxe historicas que encontramos a razão de ser das regras actuaes da grammatica expositiva sobre a pronuncia, sobre a fórma dos vocabulos, ou sobre os processos syntacticos. Dahi não se segue, porém, que o estudo da grammatica historica deva anteceder ou mesmo acompanhar o estudo da grammatica expositiva. E' esta, entretanto, a lamentavel confusão que tem grande mente prejudicado, nestes ultimos tempos, o ensino da lingua nacional. Basta, para satisfazer as exigencias racionaes do ensino expositivo, seguir-se a opinião criteriosa de Brachet, isto é, basta ministrar a dosagem historica ao alcance do alumno, sufficiente para a clara intelligencia dos phenómenos actuaes, sem que seja necessario baralhar o estudo da grammatica historica com o estudo da grammatica expositiva. Obedecendo a este criterio, consignamos, nas Notas e Observações rapidas explanações historicas sobre a regra expendida no texto.

Demais, a lei da organisação do ensino gymnasial discrimina sabiamente o ensino expositivo do ensino historico na cadeira de portuguez. Os trez primeiros annos são consagrados ao estudo da grammatica expositiva; no 4.° anno se faz o estudo da grammatica historica, como complemento necessario de um estudo perfeito da lingua vernacula.

A grammatica historica entresachada na grammatica expositiva traz, como natural resultado, a interrupção na exposição didactica.

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o desanimo e a confusão no espirito de alumnos, que não teem ainda o indispensavel conhecimento prévio do latim (que só começa no 3.o anno dos gymnasios), para poderem comprehender as leis glotticas rudimentares da evolução historica do portuguez; finalmente, traz a annullação reciproca de materiaes que, no pensamento do programma official, devem mutuamente completar-se.

Acompanhando, pois, a lei da organização do ensino secundario, apenas desenvolvemos neste curso, com certa amplitude, a materia reclamada pelo programma official dos trez primeiros annos, não perdendo de vista o seu complemento nos estudos historicos do 4.° anno.

Em segundo logar, fugimos da "terminologia grammatical abstrusa e cansativa", na phrase cortante da "Commissão de programmas de linguas". Não rejeitámos, todavia, os neologismos já correntes e apropriados.

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Em terceiro logar, amparámos nossas theorias grammaticaes na auctoridade de mestres de reconhecida competencia, taes como: F. Diez, A. Darmesteter, C. Ayer, Mason, Bain, Brachet, Andres Bello, F. Zambaldi, para não mencionar o grande numero de grammaticos nacionaes e portuguezes, antigos e modernos, que tinhamos deante de nós.

Ao lado destes mestres, tivemos de collocar, com egual escrupulo, os exemplos classicos, que firmavam a doutrina. Como se vê da lista, que em seguida publicamos, escolhemos auctoridades classicas de reputação incontestada, e de preferencia os escriptores modernos. Dada a evolução da lingua, não se póde provar, em boa logica, a vernaculidade actual de uma expressão qualquer com a auctoridade de um classico antigo. E' esta a razão por que, em nossa abundante citação, demos preferencia a Alexandre Herculano e a Antonio Feliciano de Castilho, esses "dois grandes mestres do moderno classicismo", no dizer acertado do Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro.

Cumpre-nos aqui confessar, agradecido, que, na pesquiza de exemplos classicos, largo subsidio nos forneceu a luminosa polemica, a qual, na redacção do Codigo Civil, se travou entre dois agigantados cultores de nosso idioma, queremos fallar do Dr. Ruy Barbosa e do Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro. Graças a esse manancial e ao esforço proprio, pudemos abonar amplamente a doutrina exposta com a citação de numerosos textos de escriptores abalisados.

Além disso, levado por uma suggestão do programma official de portuguez, que determina “a apreciação de trechos em que entrem proverbios, maximas e sentenças moraes", enriquecemos o nosso humilde trabalho com dezenas de proverbios, maximas e dictos sentenciosos, que demos para aclarar e fixar as regras. Com taes exemplificações collimamos trez fins; a) a fixação facil da regra pelo frisante e agradavel do exemplo: b) o enriquecimento do espirito da mocidade com o legado veneravel da boa e velha linguagem contida nos proloquios populares; c) a influencia salutar dos principios moraes, que elles conteem. Dest'arte satis fazemos o excellente principio da pedagogia allemã: aguçar o intellecto e formar o caracter.

Quanto ao nosso methodo expositivo, dois principios nos serviram de fio conductor através da multiplicidade e mobilidade dos phenomenos grammaticaes: a) não partir a grammatica em pequeninos, multiplicando ao extremo as divisões e subdivisões, com grave detrimento da clareza; b) classificar os factos e prendê-los na unidade de um todo harmonico.

Seguindo estes principios, que nos parecem verdadeiramente scientificos, procurámos systematizar os factos numerosos da lingua em grupos ou classes subordinadas a leis, concatenando esses grupos em suas relações naturaes, de modo que formassemos da grammatica um corpo harmonico e symetrico de doutrinas. Foi esse nosso escopo, principalmente na Taxeonomia, Etymologia e Syntaxe.

No estudo do verbo, p. ex., não nos limitámos a enumerar suas especies, porém dividimo-las em grupos systematicos subordinados a principios distinctos de classificação.

Estudando os affixos, não tomamos por base de classificação a sua mera ordem alphabetica, porém a sua idéa, elemento racional e fecundo, para o estudo comparativo, que procurámos fazer.

No estudo dos factos syntacticos, tentámos prender e systematizar a extrema multiplicidade e variabilidade dos phenomenos nos trez processos fundamentaes de concordancia, regencia e ordem, encarando-os successivamente em seu aspecto normal e figurado.

Se algum êxito coroou esta nossa tentativa, não nos compete dizê-lo.

Em summa, cremos ter satisfeito plenamente as exigencias dos trez primeiros annos dos programmas officiaes de nossos gymnasios. Se nestas paginas puder a nossa mocidade estudiosa encontrar alguma luz, que lhe revele os poderosos recursos de nosso bello idioma, e os nossos collegas no magisterio algum auxilio de sua nobre profissão, dar-nos-emos por compensado dos aturados labores, que ellas repre

sentam.

Lacunas, erros e senões deve de havê-los com certeza, e grato ficaremos á critica sensata que os apontar.

S. Paulo, 14 de fevereiro de 1907.

O AUCTOR

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