dos com tão extraordinaria scena, que tocava-lhes o coração. mostraram-se anciosos de tomar parte nella, o que NÃO PUDERAM, FAZER. embora alguns chegassem ATÉ PERTO DO ILHÉO. «Concluida, porém, que foi a celebração do santo sacrificio da missa, frei Henrique, depois de tirar os paramentos, subindo a uma cadeira, occupou-se não só da historia do Evangelho, como da descoberta da nova terra. «Era digno de notar-se o prazer que, naquelle momento irradiava-se em todos os semblantes. «As phrases de frei Henrique, o primeiro sacerdote que fez echoar sua palavra ungida de fé nas plagas brazileiras, perdiam-se atravéz do espaço, emquanto o echo da floresta as ia repetindo, parecendo que desta arte a natureza tómara a si a propagação dos principios religiosos que, como um vivo attestado daquelles bons tempos, ainda hoje subsistem toda a sua pureza.» (1) em Felizmente a minha narração encontra o apoio de notaveis escriptores, e neste momento, por uma casualidade, tenho sobre a minha mesa de estudo, a obra do illustre brazileiro José de Vasconcellos que vem corroborar a minha opinião quando diz: «Dia 26.-Determina Pedro Alvares Cabral que diga missa e se pregue na Corôa Vermelha, e com os capitães em seus escaleres se dirija para ahi. Arma-se um esparavel e debaixo delle se levanta um altar. A missa é dita por frei Henrique, coadjuvado pelos padres que o acompanhavam á India. E' a primeira celebrada na terra da Vera Cruz, ouvida com prazer e devoção pelos portuguezes, admiração e curiosidade pelos naturaes do paiz. Pedro Alvares Cabral assiste a esta solemnidade collocado da parte do Evangelho, tendo na mão a bandeira da ordem de Christo, com que sahira de Belém. Finda a missa, desveste-se o padre, e subindo a uma cadeira, e tendo o seu auditorio estendido sobre a areia, prega solemnemente sobre a historia do Evangelho, da vinda dos (1) E. Carigé; Chorographia Bahiana, impressa em 1894, tomo 1o. pag 70 a 77. portuguezes, do achatamento da nova terra, guiados pela «Os indigenas, que se coNSERVAVAM NA TERRA FIRME, tangen- «Os portuguezes embarcam-se tambem em seus bateis e vão Conseguintemente evidencia-se que a PRIMEIRA MISSA foi ce- Mas, nem minha opinião tem o menor valor historico, sou O documento mais precioso que existe sobre os factos que Victor Meirelles se tivesse tido a cautella de ler tão impor- «Emquanto estivemos aa Missa e aa pregaçam, se via na (2) J. Vasconcellos-Datas Celebres e Factos Nolaveis im- AFASTANDO CASY NADA DA TERRA senom quanto podiam tomar pee. E acabada a pregaçam moveo ho Capitam, e todas pero haos bateis com nosa bandeira alta, e enbarcamos e fomos asy todos contra terra PERA PASSARMOS AHO LONGO PER OMdeles ESTAVAM.>> Conseguintemente, pelo que diz Vaz Caminha, em relação á primeira missa, evidencia-se: 1.o Que os nossos indigenas andavam folgando na terra firme. 2. Que depois de acabada a missa, quando os portuguezes ouviam a pregação, muitos caboclos começaram a saltar ao som dos seus instrumentos. 3.o Que alguns delles se metteram nas almadias para irem ao llhéo, o que não realisaram porque quasi nada se affastaram da terra, e só o fizeram emquanto podiam tomar pé. 4.° Que concluida a pregação, Cabral e todos os mais voltaram para seus bateis e passaram ao longe onde estavam os indigenas. Se os nossos aborigenes assistiram a missa, para que procuravam entrar nas almadias para irem ao ilhéo, o que realisaram porque quasi nada se afastaram da terra? Se elles estavam misturados com a tripolação da esquadra, como é que Vaz Caminha assevera que elles estavam na praia opposta, tocando corno ou vozeria, provavelmente para chamar a attenção de Cabral, e de seus companheiros que se achavam no ilhéo? Se estavam trepados nas arvores e sentados na praia do local da missa, como desenhou Victor Meirelles, para que, acabada a missa e a pregação, os portuguezes nos seus bateis passaram longe donde elles estavam? Ainda não é tudo: como sabemos, logo depois da missa, Cabral, vendo os indios que se achavam na terra firme, mandou Bartholomeu Dias á costa. Falle ainda por nós o escrivão da armada, sob o commando do illustre almirante portuguez: «<.. hymdo Bertolameo Dyas em seu esquife per mandado ho Capitam diante com huum paao de huuma almadia, que lhes ho mar levara, pera lho dar e nós todos obra de tiro de pedra tras ele. Como eles viram ho esquife de Bertolameo Dyas, CHEGARAM LOGO TODOS AA AGOA, metendo-se neeta alee omde mais podiam. ACENARAM-LHES que posessem hos arcos; e E MUY NOS DELES HOS HT LUGUO POEER EM TEBRA, e outros hos não punham.»> Se os indigenas haviam assistido a missa, como ao avistarem o esquife de Bartholomeu Dias chegaram á agua mettendo-se nella até onde podiam? S、 já estavam em commum, como Bartholomeu Dias lhe acenou para que depozessem os arcos, e muitos delles o fizeram? II Não tenho a honra de conhecer pessoalmente Victor Meirelles, mas minh'alma rende o culto a que tem jus uma gloria verdadeiramente nacional. Analysando o quadro pelo seu lado historico, não tenho por fim diminuir o seu valor artistico. Já demonstrei com o testemunho documentado, escripto pelo proprio punho de Vaz Caminha, escrivão da armada sob o commando do illustre almirante portuguez, que a primeira missa foi celebrada em um ilhéo, ao qual não abandonaram os indigenas, embora tentassem fazel-o, mettendo se em almadias que quasi nada se afastaram de terra. Como sabemos, e hoje plenamente está demonstrado, a segunda missa effectuou-se no dia 1o de maio de 1500, em terra firme, com todo o apparato e magnificencia. Antes da sua celebração foi preparada uma cruz afim de ser implantada, com as armas portuguezas, em um outeiro. Desde que o facto na implantação da cruz, liga se intimamente a ceremonia da segunda missa, transcrevo o quanto á respeito escrevi: «<......a cruz entanto «Sublime n'um outeiro se colloca: «O exercito formado ao signal santo «Se prostra humilde, pondo em terra a bocca : R.-III-3 DURÃO-CARAMURU' <«<Mais um espectaculo de edificante consagração ao Christianismo teve logar em 1o de Maio. «Logo pela manhã Pedro Alvares Cabral ordenára que fosse feito o auto da real posse da terra descoberta, afim de ser enviado ao seu soberano. «Os sacerdotes tiveram aviso de que seria cantada um missa a qual deveria ser assistida pelos capitães, cavalleiros, fidalgos, degradados e toda a guarnição da esquadra. «Os bateis foram preparados, e depois de embarcada toda a gente, desprenderam-se os cabos e largaram-se as velas á mercê dos ventos. «Em pouco tempo venceram a distancia que os separava da terra e abicaram ao rio. «Magestosas arvores sombrea vam as margens; as aves fugiam amedrontadas com o barulho que faziam os superficie das aguas. remos na «Afinal desembarcou toda a comitiva e dirigiu-se para o logar da ceremonia. «Em um pequeno outeiro, do qual se descobria todo o horizonte, ordenou Alvares Cabral que fosse aberta una cova, tarefa que tomaram a si dois dos tripolantes da armada. «Teve então logar uma scena tocante e assáz commovedora. Formado o esplendido cortejo de capitães, cavalleiros, fidalgos e indigenas, foi o lenho sagrado conduzido em procissão por entre cantos, que casavam-se com a orchestra da natureza parecendo que a caudal do rio mais se avolumara para saudar com o seu ruido tão magestosa epopea. «Chegado o prestito ao seu destino, foram collocadas na cruz as armas portuguezas e erguido solemnemente o symbolo christão, por cujo acto realisara-se o dito oraculo de Negéa (3): «Irá logo o Cabral, varão famoso, «Em que deixa sua fama eternisada (4).» (3) Eduardo Carigé-Chorographia Bahiana, publicada em 1884, paginas 105 a 107. T. I. (4) Ulyssea VII, 79. |