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para recrear o meu espirito com hum estudo seguido. >> (2)

De caminho para a Russia esteve A. de Araujo algum tempo na Dinamarca e na Suecia; chegado á Russia, foi muito bem recebido e sempre muito bem tractado pela Corte: demorou-se porêm ahi somente até meiados do anno de 1804, por ter sido chamado a Portugal, para tomar compta das pastas dos negocios extrangeiros e da guerra, (Julho de 1804), sendo depois, pela morte do conde de Villa-verde (fins de 1806) tambem encarregado da pasta dos negocios do Reino.

N'esses novos empregos mostrou-se A. de Araujo sempre o mesmo intelligente e incansavel trabalhador e atilado administrador, haja vista as criações, reformas e melhoramentos feitos nos differentes ramos do serviço publico a seu cargo, (vide Trigoso, Elogio citado,) que passarei por alto, para somente fallar da protecção e animação que deu ao célebre botanico portuguez Felix de Avellar Brotero, na publicação de sua Phytographia lusitana, da sua tentativa, infelizmente mallograda, da creação de um jardim botanico juncto ao Collegio dos Benedictinos da Estrella, e da decretação, em Julho de 1807, da verba de 4 contos de reis, para ser applicada pela Real Junta do Commercio á acquisição de livros, mappas, modelos, desenhos de machinas e de outros quaesquer objectos necessarios para promover os diversos ramos da industria nacional, devendo ser todos estes objectos depositados em logar idoneo no edificio destinado á mesma Junta.

Foi n'este mesmo anno de 1807 A. de Araujo nomeado director da Eschola de gravura e director dos estudos estabelecidos no Real Mosteiro de S. Vicente de fóra; mas os acontecimentos politicos da epocha não lhe-deram tempo de poder ser util a esses estabelecimentos.

Antonio de Araujo, cujos desejos e esforços como diplomata tenderam sempre para que Portugal se-alliasse á França, ou, pelo menos, se-conservasse estrictamente neutral na grande luta de quasi toda a Europa contra ella, sem nunca ter podido realizar esse pro

(2) Elogio historico do conde da Barca, por Trigoso.

gramma, e que fora um dos pouquissimos, (sinão o unico,) que previra o acto napoleonico acto napoleonico de 11 de Novembro de 1807, decretando a decadencia da familia bragantina do throno de Portugal, via-se agora, forçado por sua posição, a combatter a França e a ser o responsavel official pelas desgraças da patria e da familia real!! Em tão difficil conjunctura o logar de ministro de Estado era demasiadamente espinhoso e compromettedor, tanto mais quanto suas antigas relações com os homens mais eminentes na politica e nas lettras em França, seus gostos e predilecção pelas causas francezas, suas bem conhecidas ideias á respeito da politica que devia seguir Portugal na Europa, davam a Antonio de Araujo um ar excessivamente afrancezado (3), e conseguintemente o-tornavam impopular e suspeito de falta de patriotismo.

O exercito invasor francez já batia ás portas de Portugal, quando a ideia de transferir para o Brazil a sede da monarchia lusitana, por mais de uma vez aventada e discutida em Portugal, foi acconselhada por A. de Araujo ao principe regente, e, apezar de encontrar oppositores, foi acceita e realizada: ésta mudança da Côrte para o Brazil, si acarretou alguns males a Portugal, foi ao contrario fonte de maior prosperidade e civilização para o Brazil, e mais remotamente origem de sua independencia e autonomia politica.

A esquadra, que transportava a familia real para o Brazil, fez-se de vela do Tejo no dia 29 de Novembro de 1807, vindo separadamente em differentes navios da frota os membros da casa de Bragança (4), e o ministro de Estado Antonio de Araujo na nau

(3) ...... E para se conferir, fez-se novo conselho, ao qual já não foi chamado « D. Rodrigo, porque lord Strangfort encarregado de negocios da Grã-Bretanha, que ser«vio na ausencia do enviado extraordinario lord Roberto Fit Gerald, communicou á An«tonio de Araujo, cousa, que deu motivo a elle não ser chamado mais aos conselhos de « Estado, que se seguirão. O que se passou a este respeito foi segredo, que não respirou. « Soube-se porém depois, que lord Strangfort, havia participado ao ministro Antonio « de Araujo, que D. Rodrigo tinha communicado a D. Domingos de Souza Coutinho « (depois Conde e Marquez de Funchal) ministro plenipotenciario em Londres, os votos « do Conselho de Estado, accusando-o de AFRANCESADO. Por esta revelação o prin«cipe regente, não quiz mais que elle fosse convocado, para o conselho de Estado. » (Dr. A. J. de Mello Moraes: Corographia historica, a pags. 40-41 do tomo 1.o da 2.a parte.)

(4) Um manuscripto (copia) existente na Bibliotheca Nacional, que provavelmente fazia parte de algum relatorio, como documento annexo, sem data, nem assignatura, dá a este respeito noticias minuciosas: transcrevemos aqui esse documento, embora não esteja elle inteiramente de accordo com o que se-lê nas Memorias historicas e politicas da Provincia da Bahia por Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva, á pag. 295 do tomo 1.o

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(6) Forças navaes, q. sahirão do Tejo em 29 de 9br." de 1807, commandadas por o Vice Almirante Manoel da Cunha Souto Maior, sendo Ajud. Gen." o Chefe de Divisao Joaquim Joze Monteiro Torres.

Grandeza

Náos de linha

Fragatas Brigues

Esc.

Ch.

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Princepe Real....

Rainha de Portugal......
Princepe do Brazil.......
Meduza.......
Conde D. Henrique......
Martim de Freitas.....
Afonço de Albuquerque..
D. João de Castro,........

Minerva........

Golfinho....
Urania.

Vingança

Voador.....
Curiosa...

Thetis.......

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Observações

1. A Náo Princepe Real conduzio a Rainha, e o Princepe Re-
gente, o Princepe da Beira, mais os Infantes D. Miguel, e D. Pedro
Carlos, seguidos pelos, Marquezes de Aguiar, Vagas e Torres Novas,
mais o Conselheiro d'Est.o D. Fernando Joze de Portugal.

2. Náo Afonço a Princeza Regente cõ a Princeza da Beira e
as Infantas D. Maria Izabel, D. Maria d'Asumpção, D. Anna de
Jezus Mar., acompanhadas pelos Condes de Caparica, e Cavalleiros.

3. Náo Rainha - A Princeza do Brazil, Viuva com as Infantas
D. Izabel Maria, D. Maria Fran.ca e D. Marianna, acompanhadas
por o Marquez de Lavradio.

4. Nas outras Embarcações vieraõ os Titulos seg.tes = Anadia,
Belmonte, Bellas, Cadaval, Penalva filho, Pombal, Pombeiro, e Re-
dondo, mais os Conselheiros d'Est. Ant.° de Ar.o de Azd.o, D. Joao
de Almd.", D. Rodrigo de Sz. Coit.", o Gen.al Joao Forbes Skel-
later, o Dezembarg. or do Paço Thomaz Ant.o de Villa Nova, e Mon-
senhor Subdiacono Joaquim da Nobriga Cam.

N. B. A Escuna Curioza tornou a entrar no Tejo; donde tinha sahido antes o Bergantim Condeça de Rezende: achava-se no R. o Bergantim Balao, em Pernambuco, a Escuna Furao.

Meduza, (5) na qual tinha tido a cautella de mandar embarcar sua importante livraria (6), uma typographia completa (a primeira regular que houve no Brazil), uma riquissima collecção mineralogica, organizada pelo célebre Werner, e instrumentos proprios para o estudo da chimica, tudo disposto e organizado pelos cuidados do sabio ministro.

Na viagem uma horrivel tempestade, que desbaratou e quasi perdeu a esquadra portugueza, poz em grande risco a vida de A. de Araujo, mas felizmente chegou elle com todos os seus thesouros a salvo no porto do Rio de Janeiro em 6 de Março de 1808, depois de ter tocado em Pernambuco e na Bahia.

Talvez para attender á opinião publica infensa a A. de Araujo pelos acontecimentos politicos da epocha, e poupar a seu fiel servidor os desgostos inherentes a uma posição tão melindrosa, o principe regente, depois de sua chegada ao Rio de Janeiro, houve por bem dispensal-o do cargo de ministro e secretario de Estado, continuando porêm a ter obrigação de assistir ás sessões do Conselho de Estado, como membro que era d'esse Conselho desde Fevereiro de 1807. (7)

(5) Ainda que Debret (Opere citato) affirme que A. de Araujo ficara em Lisboa, a verdade é que elle veio para o Brazil na mesma occasião que o rei. O facto de se-ter A. de Araujo embarcado á noite e ás escondidas, por causa da grande animosidade, que contra elle havia, deu talvez logar a ésta asserção de Debret.

(6) No Elogio historico do ria de A. de Araujo tinha caïdo não é isto verdade, pois que ella neiro.

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conde da Barca diz Trigoso que grande parte da livraem poder dos Francezes, quando invadiram Lisboa: existe hoje na Bibliotheca Nacional do Rio de Ja

(7) « O principe chegando ao Rio de Janeiro, no dia 7 de Março de 1808, ahi achou mesmas queixas, e cedendo a voz geral mudou o ministerio. Nomeou D. Fernando José de Portugal e Castro, para os trez lugares que se achavão vagos, de ministro assis tente, de secretario de Estado do reino e de presidente do erario regic! Demittio o ministro de estrangeiros e guerra, Antonio de Araujo, e para o seu lugar nomeou a D. Rodrigo de Souza Coutinho, que já havia sido ministro da marinha e ultramar, cuja pasta tinha o visconde de Anadia......

O principe regente não abandonou aos demittidos, pois sempre os attendeu, dando a todos despachos; e crescendo, como era de esperar, a perseguição de seus inimigos, com accusações mui ponderosas, elle os defendeu sempre, e não deixou que se os opprimisse. « O tempo finalmente fez correr o véo que cobria tudo......

« Achou-se a correspondencia secreta de Junot, com que se desmentio a sonhada entelligencia com o ministro Antonio de Araujo; e finalmente appareceu o tratado de Telsit, e então conheceu o mundo qual era a sorte que estava destinada para as duas familias reaes, portugueza e hespanhola.

«O tempo que tudo ganha sem nada arriscar, demonstrou que a jornada do principe e da familia real foi aconselhada pela prudencia, e sendo já applaudida, e os passos dados para a sua execução, tinhão sido bem combinados, e de grande alcance e acerto; e que o ministerio portuguez tinha tido a gloria de salvar ao seu soberano, sem destruir o seu paiz, encaminhando os negocios á fazel-o tomar a heroica resolução de se passar para o

- Um tal acto não importava para A. de Araujo a perda das bôas graças do principe regente; pelo contrario, não só então, mas ainda ulteriormente, elle sempre teve em grande compta e estimação o patriotismo e os bons serviços de A. de Araujo, do que são provas-a gra-cruz da Ordem de Christo, a grã-cruz honoraria da Ordem da Torre e Espada, e o titulo de conde da Barca (17 de Dezembro de 1815), com que o-agraciara por vezes, e sua nomeação para a pasta da Marinha e Dominios Ultramarinos.

Durante o periodo que medeia entre os dois ministerios de A. de Araujo (1808-1814) elle dedicou-se exclusivamente aos trabalhos scientificos e litterarios de sua predilecção, á organização de seu jardim, onde cultivou de 1200 a 1400 plantas indigenas e exoticas, uteis ou agradaveis, cujo catalogo organizou com o titulo de Hortus Araujensis, e ao desenvolvimento e protecção á industria do paiz; e, depois que foi de novo chamado ao ministerio, não esmoreceu no empenho, que tomára, de trabalhar pelo progresso e civilização do Brazil: é assim que em sua propria casa estabeleceu o seu gabinete de chimica e assentou um alambique á escosseza, com melhoramentos feitos no Rio de Janeiro (8); na capitania do Espirito-Sancto mandou assentar um engenho de serrar madeira para servir de modelo a outros; ensinou alguns aperfeiçoamentos nas artes e industrias por processos chimicos demonstrados em seu laboratorio, assim como a melhor fabricação da louça grosseira do paiz, imitando a porcellana; contribuiu para a propagação de muitas plantas exoticas no Jardim Botanico da Lagoa de Rodrigo de Freitas, principalmente a do chá (9); mandou vir chins para dirigirem e ensinarem o plantio, cultura e preparação d'essa preciosa planta, e naturaes do Porto e da ilha da Madeira para

Brazil; e conservar assim a sua monarchia, dar o seu apoio a Inglaterra, e fazer tomar nova direcção os negocios da Europa. »

(Dr. A. J. de Mello Moraes-Corographia historica, etc., á pags. 87-88 do Tomo 1.o da 2a parte.)

(8) O Patriota, ns. de Fevereiro e Julho de 1813.

(9) O chá foi introduzido no Brazil pelo chefe de divisão Luiz de Abreu, prisioneiro de guerra que esteve na Ilha de França (1808-1809), o qual pediu ao senador de Macao Raphael Bottado de Almeida sementes de chá, e este lh'as-tendo mandado em 1812, Luiz de Abreu as-distribuiu por varias pessoas no Rio de Janeiro.-Vide o n. 3 do Patriota, de Março de 1813; e o Auxiliador da Industria Nacional, á pag. 155, do

tomo 9.-1841.

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