ensinarem a cultivar a vinha; melhorou e aperfeiçoou o modo de preparar o urucú e de extrahir o oleo de mamona; estabeleceu a Impressão Regia (10); creou uma cadeira, de chimica; fundou a Sociedade Auxiliadora da industria e da mechanica, que em 1831 foi convertida em Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, ainda hoje existente; creou no Rio de Janeiro a Academia de Bellas-Artes, e, com o fim de formar o nucleo do professorado d'ella, mandou vir de França alguns francezes distinctos e de reconhecido merecimento, contractados de ordem sua pelo marquez de Marialva (1815), entre outros: Le Breton, secretario perpetuo da classe das bellaslettras do Instituto de França, J. B. Debret, pinctor de historia, os dois Taunays, um pinctor, outro esculptor, Grandjean de Montigny, architecto, Pradier, gravador; encommendou a Grandjean o projecto do palacio da Academia de Bellas Artes, cujas obras, si bem tivessem começado logo depois, foram dadas por acabadas em Novembro de 1826, ainda sem ter sido posto em execução o plano primitivo, segundo o qual o edificio devia constar de dois andares, e não ser como hoje existe; concorreu poderosamente para a promulgação da charta de lei de 15 de Dezembro de 1815, que elevou o Brazil á cathegoria de reino; e finalmente foi o auctor das instrucções dadas aos plenipotenciarios portuguezes no Congresso de Vienna d'Austria em 1814-1815 (11). Antonio de Araujo, que desde 1802 era um homem valetudinario, quando em 11 de Fevereiro de 1814 foi encarregado da pasta da Marinha e dos Dominios Ultramarinos, trabalhou ainda (10) Considerando como verdadeiras tentativas a existencia de uma typographia em Pernambuco durante a dominação hollandeza e a da typographia de Antonio Izidoro da Fonseca no Rio de Janeiro, de ephemera duração, no tempo do governo do conde de Bobadella, (Vide Dr. Mello Moraes, corographia historica, etc., á pags. 118. 119 do tomo 1.o da 2.a parte) pode-se dizer que o estabelecimento definitivo da arte typographica no Brazil data somente da fundação da Impressão Regia no Rio de Janeiro em 1808. (11) « Foi o Conde da Barca quem redigio as instrucções para os plenipotenciarios portuguezes no congresso de Vienna, os quaes negociarão os tratados de 21 e 22 de Janeiro de 1815, obrigando-se a Grã-Bretanha pelo primeiro tratado a pagar a somma de 300.000 libras esterlinas para satisfazer as reclamações feitas dos navios portuguezes, apresados por cruzadores inglezes, antes do 1.° de Junho de 1814, pelo motivo allegado de fazerem o commercio illicito de escravos, e pelo segundo prohibindo-se a todo e qualquer vassallo da corôa de Portugal o comprar escravos e traficar nelles em qualquer parte da costa d'Africa, ao norte do equador, debaixo de qualquer pretexto e por qualquer modo que fosse. >> Dr. Mello Moraes: Historia do Brazil-Reino e do Brazil-Imperio, tomo 1.o, pag. 171. á com a mesma boa vontade, dedicação e patriotismo de outras eras, mas fraqueavam-lhe a saude e as forças; e quando, pela morte do marquez de Aguiar (1817), tomou compta de todas as pastas do reino, não poude resistir a tantos e tammanhos encargos, e deu a alma ao Creador no Rio de Janeiro, em sua casa á rua do Passeio (actualmente Secretaria da Justiça), aos 65 annos de edade, no dia 21 de Junho de 1817 (12), sendo seu corpo sepultado na egreja de S. Francisco de Paula. Seus ultimos anhelos e votos foram dedicados a seu rei, á prosperidade do Brazil e das boas-artes. Era o conde da Barca de physionomia expressiva, insinuante e attractiva e de tracto muito ameno; exprimia-se com summa facilidade e muita graça; e foi trabalhador incansavel em todos os assumptos, a que dedicou sua actividade. A vasta e variada instrucção do conde da Barca, o amor e impulso que elle deu ás lettras e artes e a protecção decidida que sempre dispensou a todos os que a ellas se-dedicavam, são titulos sobejos para que a posteridade o-cognomine o Mecenas da era do principe regente sua casa foi constantemente o alcaçar das lettras e artes e o abrigo dos litteratos e artistas, entre outros do célebre poeta portuguez, Filinto Elysio, que não só foi por muito tempo seu hospede, mas até chegou a ter uma pensão paga por elle, e do compositor de musica Lewcom, em cujos braços falleceu. Como diplomata foi muito considerado e estimado em todas as cortes, em que esteve, por sua illustração, affabilidade e fino tracto, o que muito contribuiu para que sua nomeação para a pasta de ministro dos negocios extrangeiros de Portugal fosse muito bem recebida pelos gabinetes das outras potencias da Europa. A proposito d'estas qualidades não será mal cabido rememmorar aqui um dicto do conde da Barca, referido pela condessa de Abrantes (13). O general Lannes, ministro de França em Lisboa (1801-1804) não vivia em boas relações com o ministro inglez, sir Robert Fitz (12) Segundo a Gazeta do Rio de Janeiro, n. 51 de 25 de Junho de 1817, e não a 25 de Junho de 1816, como diz J. B. Debret (opere citato). (13) Opere citato, á pag. 241 do tomo 2.o Gerald, e sobretudo incommodava-se muito com a precedencia, que na Corte elle tinha; pelo que, num bom dia, indo para o Paço em Queluz, ordenou ao seu cocheiro que esbarrasse com a carruagem do ministro inglez, que encontrou em caminho, de modo a quebral-a: o criado cumpriu fielmente a ordem, e sir R. Fitz Gerald, ficando a pé, não poude comparecer á hora da audiencia em Queluz. A demora do ministro inglez já causava inquietação no paço, quando o general Lannes contou o fracasso casual, que motivava a falta de comparecimento de sir R. Fitz Gerald.— « Vraîment! dit « Mr. d'Araujo avec ce sourire fin et spirituel qui lui était pro« pre. Comment avez-vous vu sir Robert dans cet embarras, et << ne lui avez-vous pas proposé une place dans votre voiture, << puisque vous étiez seul?... Celà eût été du plus exquis bon « gout pour un ennemi, savez-vous? » Em diplomacia, politica e administração, si seus actos não foram escoimados de algum erro, é certo que elle sempre fez tudo pelo melhor que então se-podia fazer, á vista das difficuldades da epocha. João Bernardo da Rocha Loureiro (14) fallando da morte do conde da Barca, faz d'elle o seguinte juizo critico: -«O Conde da Barca hé morto no Rio de Janeiro; e ad<«< mirados estamos, que elle, a despeito de sua robusta constituição, «<durasse tanto tempo, havendo combatido contra tantos vaivens « politicos, como tinham sido assestados contra elle. Agora que «<elle hé falecido, justo tributo hé fazer-lhe justiça inteira, como <«< aos seus mortos faziam os Egypcios. Não o devemos confundir «< com os pessimos Ministros, que viéram depois de Pombal: Araujo « era inclinado a favorecer as lettras, e os homens, que as cultivam: << talvez porque elle d'ahi quizesse ser tido como homem de let« tras; mas não intramos agora n'essa indagação. Foi, como todos <«< sabem, mui abocanhado de traidor; mas mui injustamente, se«gundo cremos; antes, temos para nós, que elle em tempos dif<«<ficeis fez á patria serviços relevantes. Hé verdade que a sua << longa estada em França, paiz de que gostava, e, talvez a idea (14) Vide o periodico o Portuguez, já citado, no numero de Julho de 1817, á pags 957 e 958. « de que Portugal não podia passar sem um alliado poderoso, um <«< tanto o faziam preferir a alliança de França á d'Inglaterra; << porem até ahi não vemos nós crime, e só se pode tachar de « erro de ɛystema politico, que não lhe deixava ver que Portugal << podia tornar-se independente d'allianças. Em uma carta que nós <«< vimos, escripta por elle a um seu amigo, vinham estas palavras <<< notaveis faço o que posso; mas não posso o que desejo. « Os dois maiores erros do seu ministerio foram, a louca e fu« nesta expedição de Montevideo (aonde agora os nossos se acham « encurralados, como o haviamos previsto) e o systema prodigo de « destruir Portugal, para augmentar o Brazil: Deos lho perdoe. >> << Deus lh'o pague » diremos nós os Brazileiros em resposta a ésta expressão do publicista portuguez, que em relação ao Brazil seguia ainda as doctrinas retrogradas da antiga politica de Portugal para com o Brazil. Si o conde da Barca não foi um genio inventivo, si, como poeta, não rivalizou com os de primeira plana, e si suas obras litterarias não são muito numerosas; era comtudo dotado do mais elevado bom senso, tinha o talento muito especial de bem saber fazer as cousas, e sobretudo de tornar-se um dos homens mais utilitarios da sua epocha: sua casa, sua bolsa, seus bons serviços pessoaes, seus conhecimentos, seus gabinetes scientificos, e emfim sua livraria estiveram sempre à disposição de quem d'elles precisava; ainda hoje ésta ultima serve na Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro aos doctos e aos ignorantes, aos nacionaes e aos extrangeiros, que a-consultam, de modo que bem se-pode applicar ao conde da Barca o conceito da epigraphe gravada na estatua, que os Moguntinos levantaram ao seu Gutenberg: Non sibi, sed populis omnibus id sapiit. (15) (15) No pedestal da bella estatua de Gutenberg em Moguncia lêem-se os seguintes distichos: na face anterior, « Joannem Geinsfleisch de Gutenberg patricium Moguntinum ære per totam Europam « collato posuerunt cives. 1837. » e na posterior, « Artem, quæ Græcos latuit latuitque Latinos, Nunc, quidquid veteres sapiunt sapiuntque recentes, Non sibi, sed populis omnibus id sapiunt. » Os bons serviços, que o conde da Barca prestou á causa da civilização em geral dão-lhe direito a uma menção honrosa na Historia; mas os prestados ao progresso e civilização do Brazil em particular fazem sua memoria grata aos brazileiros e nos-impõem o dever de inscrever seu nome immorredouro entre os dos homens illustres e bemfeitores da terra de Sancta Cruz. II. Escriptos. 1) Ode de Dryden para o dia de Santa Cecilia. Traduzida em Portugues, Ode de Gray sobre o progreço da Poesia, Hymno de Gray á adversidade, Hymno de Gray vendo ao longe o Colegio de Eton, em um só folheto. A respeito d'estes opusculos diz Innocencio Francisco da Silva, á pag. 88 do tomo 1.o do seu Diccionario bibliographico, artigo Antonio de Araujo de Azevedo. 418) Ode de Dryden para o dia de Sancta Cecilia, traduzida « em portuguez. Sem anno nem lugar da impressão 4.° gr. de 60 « pag. não numeradas. Este folheto, que é hoje muito raro, e do « qual possuo um exemplar, contém além da referida odé de Dry«den mais tres odes de Gray (1. Sobre o progresso da Poesia « 2.a Hymno á Adversidade -3. Vendo ao longe o Collegio d'Eton.) « as quaes todas, bem como aquella, são traduzidas em egual nu« mero de versos, e com a mesma disposição das rimas dos origi<<< naes. Estas versões são acompanhadas dos textos respectivos. « A' frente vem uma Advertencia preliminar do editor (anonymo, « mas que consta ser o Morgado de Mattheus D. José Maria de Souza) datada de Hamburgo, a 30 de Maio de 1799. N'esta << mesma cidade foi estampado o folheto, como indica o caracter da <«<letra, e se affirma expressamente no Elogio historico por Sebas«tião Trigoso, acima citado. Creio que não se pozeram á venda |