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O ex.mo sir. conselheiro e senador do Imperio, editor do poema, em charta com que respondeu ao sñr. dr. Ramiz Galvão, declara que a cópia, de que se-servira para a impressão que nos -deu do poem do seu desventurado e famoso comprovinciano, fora por s. ex. encontrada entre alguns manuscriptos de seu fallecido pae, o sur. Pedro Dias de Carvalho, tirada de sua propria lettra; e informado de que não tinha o poema sido ainda impresso na sua integra, pois só dous dos seus cantos haviam sido inseridos em uma revista, de cujo nome não se-recorda, e tornando-se depois possuidor da primeira typographia que se-estabelecêra na cidade de Ouro Preto, entendeu que prestava um serviço ás lettras patrias mandando imprimir o poema no proprio logar, onde föra elle escripto ou de que tinha o nome. Declara mais s. ex. que não conhecia nem tinha notícia da cópia da R. Bibliotheca, e que não sabe de onde fora extrahida a de que se-servíra. Nenhuma informação pôde s. ex." dar-nos relativa á moi te tragica do poeta; pois, começando a sua vida pública num temp, em que estavam todas as attenções voltadas para a nova era politica que então se-levantava nos horizontes patrios, não se-preoccupou com OS factos anteriormente passados. Recorda-se apenas de ouvir fallar muitas vezes na célebre dama a quem o poeta da Marilia de Dirceu decantára nas suas Lyras; não teve porém ensejo de vêl-a, não obstante residir na mesma cidade em que ella habitava a casa de seus maiores, que era por isso aponetada como celebridade.

Com estas informações que a illustrada bondade de s. ex." nos ministrou, damos por concluido o bosquejo, que promettemos ao leitor, da vida e escriptos do afamado poeta e advogado mineiro Claudio Manuel da Costa.

J. A. Teixeira de Mello.

SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA

MEMORIAS E CARTAS BIOGRAPHICAS (?)

sobre a revolução popular, e o seu ministerio no Rio de Janeiro desde 26 de Fevereiro de 1821 até o regresso de S. M. o sé. d. João VI com a côte para Lisboa, e os votos dos homens d'Estada que acompanharam a P. M.

Das acquisições que ultimamente tem feito a Bibliotheca Nacional na secção de manuscriptos, a das Chartas e Memórias, cujo titulo serve de epigraphe a ésta noticia, é uma das de mais valor intrinseco pela relação que tem com a nossa história. Versando sôbre os acontecimentos politicos, que determinaram a partida do rei d. João VI para os seus dominios na Europa, acontecimentos que tanto concorreram para a emancipação da nossa patri, devem ser consultadas com proveito por todo aquelle que se-propuzer a escrever a historia do nascimento da nossa autonomia. Publicando-as nos Annaes da Bibliotheca Nacional, julgamos prestar um serviço aos futuros historiadores das nossas cousas. Dadiva graciosa la filha do distincto publicista, philosopho e homem de estado portuguez, a ex.ma sir. d. Joanna Carlota Leithold Pinheiro Ferreira Paes Leme, a quem por nossa vez agradecemos o valioso presente, saem assim da meia sombra em que jazeram.

Para tornar completo o serviço que intentamos fazer com a sua divulgação, daremos aqui os traços biographicos do seu illustre

auctor, soccorrendo-nos do que nos deixaram dicto a seu respeito os benemeritos e nunca assaz louvados creadores do Diccionario bibliographico portuguez e do Grande Diccionario universal do seculo XIX, monumentos immorredouros ambos.

Silvestre Pinheiro Ferreira nasceu em Lisboa a 31 de dezembro de 1769 e ahi falleceu a 2 de julho (Larousse diz a 1, erradamente) de 1846.

Destinado á vida ecclesiastica, entrou aos quatorze annos de edade para a Congregação do Oratorio, onde se-tornou logo alvo da attenção dos mestres e condiscipulos pela sua viva intelligencia e séria applicação ao estudo. A tal ou qual perseguição que soffreu dos directores da congregação, por ter feito em dissertações, que por esse tempo compoz, reparos criticos e observações ao p. Theodoro d'Almeida, auctor da famosa Recreação Philosophica, que tanta acceitação mereceu no seu tempo, - obrigou Pinheiro Ferreira a deixar a congregação e a renunciar ao estado sacerdotal. Em 1794, segundo crê Innocencio da Silva, obteve por concurso a cadeira de philosophia racional e moral na Universidade de Coimbra, onde teve a afouteza de introduzir a doutrina de Locke e de Condillac, diz Larousse. Tramaram nova perseguição contra elle os seus emulos, que o-denominavam jacobino, espirito forte e até conspirador para evitar a prisão de que estava ameaçado, expatriouse, dirigindo-se á Inglaterra, depois á Hollanda. Era então ministro de Portugal juncto a essa potencia o cavalheiroso Antonio de Araujo de Azevedo, depois conde da Barca, que ao tempo da chegada de Pinheiro Ferreira estava em Paris em missão especial juncto ao governo da republica franceza, para onde logo partiu o nosso auctor. Benignamente accolhido pelo ministro portuguez, foiThe relevada por influência d'elle a sua evasão do reino, e não só nomeado secretario interino da embaxada portugueza em Paris, como depois secretario da legação em Hollanda, para onde voltou em 1798 com o ministro. Com elle fez Pinheiro Ferreira uma demorada viagem de instrucção pela Allemanha, voltando ambos a Lisboa em 1802. Foi então nomeado official da secretaria dos negocios extrangeiros e logo Encarregado de Negocios de Portugal em Berlim, onde prestou a seu paiz, como nol-o refere Innocencio

da Silva, os serviços que as circumstancias requeriam, procurando então, como sempre, aprofundar os seus conhecimentos, e dando-se especialmente ao estudo das sciencias naturaes. Durante a sua estada naquella côrte relacionou-se com os homens eminentes da Allemanha na diplomacia e na sciencia. Em 1807, segundo nol-o diz Larousse, Napoleão I, irritado com Silvestre Pinheiro por ter elle informado o principe regente de seus projectos de invadir Portugal, exigiu a revocação do embaxador em taes termos que não admittia réplica. Voltou então para Portugal, onde achou a familia real dispondo-se a embarcar para o Brazil, emquanto um exercito francez, ás ordens de Junot, se-encaminhava para Lisboa. Larousse dá o nosso auctor como tendo accompanhado o regente ao novo-mundo; Innocencio porém, que temos por mais bem informado, diz que elle viera para o Rio de Janeiro pelos annos de 1810. Aqui soube Ferreira, pelos seus meritos pessoaes, ganhar ac onfiança de d. João VI e foi successivamente nomeado deputado da Juncta do Commercio e encarregado de commissões diplomaticas, das quaes não acceitou umas por julgal-as incompativeis com o seu brio e pundonor pessoaes, e não chegou a exercer outras por embaraços supervenientes; e foi um dos directores da Impressão régia, accrescenta Larousse, e é exacto. exacto. No dizer d'este escriptor foi Pinheiro Ferreira o primeiro que, em 1814, acconselhou a d. João VI que désse espontaneamente uma constituição, que estabelecesse a monarchia representativa nos seus estados da America e da Europa. Proclamada no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1821, a adopção do systema monarchico-constitucional, depois da revolução effectuada no Porto nesse sentido, foi chamado para occupar, no ministerio que então se-organizou, as pastas dos negocios extrangeiros e da guerra, não se-lhe-admittindo as razões que apresentou de incompetencia na materia (*), para dispensarem-no d'esta última. Silvestre Pinheiro empenhou então todos os esforços para implantar o govêrno constitucional no Brazil e em Portugal, e seguiu em 1822 el-rei d. João VI á Europa, A esse periodo de sua vida é que se-referem as Chartas que começamos a publicar hoje. Pouco de

(*) Como nol-o diz o proprio auctor na 6. das suas Chartas.

pois da sua chegada ao reino demittiu se da sua pasta, por ter (1824) prevalecido a idéia do absolutismo no congresso constituinte portuguez. Algum tempo depois foi de novo chamado aos conselhos da corôa como ministro dos negocios extrangeiros, cargo que acceitou por se ter já feito justiça á pureza das suas intenções, e exerceu até pouco antes (Innocencio da Silva) da queda da constituição em maio de 1823, e de que foi exonerado a pedido seu. Retirou-se então (1824) para Paris, onde se-entregou de todo ao cultivo das sciencias e á litteratura, seguindo assim o natural pendor do seu espirito.

Emb'hora ausente, não se-exqueciam os seus concidadãos do seu grande conhecimento dos publicos negocios e do seu merito real: foi pois, em 1826, em 1838 e em 1842, eleito deputado ás Côrtes: só d'esta vez deixou elle os seus estudos predilectos e voluntario exilio, e acceitou a espinhosa incumbencia, já com a idéia de morrer na patria. Não sendo todavia adoptados pela camara projectos que The-apresentára, fructos amadurecidos dos seus constantes estudos politicos e administrativos, voltou de preferencia a sua attenção para o cultivo das lettras, dedicando-se com desvello em inocular o gôsto d'ellas na mocidade do seu paiz, que de toda a parte o-solicitava, animando-a, prodigalizando-lhe os conselhos da sua provecta experiencia, e repartindo com ella os thesouros de solida sabedoria que adquirira no tracto do mundo, no manusear dos livros e na pública administração.

Servia assim á terra do seu berço, quando a morte o-sorprehendeu.

Para completar o epitome que tentamos fazer da vida d'esse distincto homem d'estado e philosopho, permitta-nos o leitor que reproduzamos o juizo que fórma d'elle Pedro Larousse no seu citado Diccionario universal:

« Pinheiro, partidario das doctrinas philosophicas do XVIII seculo, possuia acêrca de muitos ponctos idéias muito adeantadas. Queria que todos os cidadãos fossem eleitores e elegiveis, que a eleição fosse applicada não só á Camara dos deputados e á Camara alta, mas ainda á magistratura, que todo o cidadão fosse soldado; queria a abolição da pena de morte, a publicidade com

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