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Autoridade? E se E se isto hé difficil de conceber em cada huma: quanto mais difficil não he que jamais voltem todas a obedecer a huma Autoridade commum a todas ellas.

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Eu ignoro quaes foram as causas proximas da explosão que acaba de rebentar na Bahia; mas se sam exactas as noticias que dalli acabam do chegar e que parecem estar de accordo com o que pouco habeis em manejos diplomaticos, deixam perceber algumas das principaes victimas daquella Revolução; o Partido Europeo informado do Projecto de Constituição Brasileira de que fallei a V. S. na minha preced.te Carta, e não concebendo que seja possivel existirem duas Constituições differentes dentro de hum so Estado; assentam de prevenir este acontecimento, proclamando a adhesão ás Cortes e ao systema q' por ellas se houver de decretar em Portugal.

E que partido toma na presença de huma tão formal defecção da principal Prov. do Brazil, o Gov. de S. Mag.de?

Eu ignoro-o. Mas como não ha coisa que se possa passar em segredo; brevemente nos acharemos em estado de assentar nosso juizo. Seja V. S. tão feliz como lhe dezeja &.

CARTA V

Meo Am.° e S. Bem dizia eu, que brevemente se viria no conhecimento do partido que o Governo se decidisse a tomar na presença do importantissimo acontecimento da defecção da Provincia ou (como aqui se prefere dizer) da cidade da Bahia.

O Conde de Palmella, que na sua viagem para esta Corte havia passado por alli, e que afiançava não haver que receiar sublevação d'aquella parte, e devo dizer que em igual engano laborava o proprio governador o Conde de Palma e varias outras pessoas qualificadas que o Governo de S. Mag.de ouvio sobre o espirito de que aquella Provincia se achava animada. O Conde de Palmella, pois, explicou esta explosão diametralmente opposta ás suas asserções, como effeito da desesperação, por se ver que o Governo

não cuidava em dar ao Brazil uma Constituição que o puzesse em circunstancias iguaes ao Reyno de Portugal: e daqui concluio que o unico meio de alliciar ainda os Bahianos, e de impedir que as demais Provincias seguissem o seu exemplo era de accelerar quanto possivel fosse a publicação da Carta Constitucional para este Reyno tanto mais que a sua adopção facilitaria a de que S. A. R. deve ser encarregado de propor ás Cortes de Portugal.

O susto que a defecção da Bahia produziu em todos os animos não podia deixar de enfraquecer a opposição que esta idea do Conde havia constantem.te experimentado da parte dos outros dois Ministros de Est.; e porisso agora sem a combaterem cara á cara assentaram de a frustarem ganhando ao mesmo passo o mais tempo que podessem, para os fins que cada hum la tem em vista e que eu me abstenho de expender por esta vez. Assim concordaram em que se formasse huma junta destinada a deliberar sobre os meios de ocorrer às actuaes previsões politicas do Estado segundo os principios e ajudada das luzes dos Membros que consta do Decreto que incluso remetto a V. S."

Não me demorarei em ponderar o que o Gov. teve em vista e muito menos o que elle devia esperar das deliberações de huma Junta composta, como V. S. observará, de homens, pela maior parte na verdade doutos e animados de patrioticos sentimentos, mas os mais oppostos em principios que imaginar-se póde. O que aconteceu foi que na primeira sessão que tiveram hoje desde as 11 da manhan até ás 6 da tarde em casa e debaixo da Presidencia do Conde de Palmella foram taes e tão disparatados os discursos e pareceres emittidos pelos differentes Conselheiros, que todos sahiram plenamente convencidos da inutilidade de semelhantes conferencias: triunfando os partidistas da temporisação, pelo feliz exito do expediente que haviam suggerido e os verdadeiros amigos da causa publica desesperados de assim verem malbaratearse o tempo de que nem hum só momento se pode perder para applicar ás enfermidades que tão gravemente ameaçam a vida do Estado os mais promptos e energicos remedios: se remedios pode ainda haver para tão grande mal.

Rio de Janeiro.

CARTA VI

Meo Am.o e S. E bem sem remedio era o mal da Monarquia, como eu na minha ultima presagiava dando conta a V. S. da primeira sessão da mal fadada Junta Consultiva sobre a Carta Constitucional que se intentava dar a este Reyno. Ella só servia de determinar e talvez de accelerar a explosão.

Aqui, do mesmo modo que na Bahia, seg.do referi a V. S.a na minha carta de... os Europeos aterrados com a idea de ver tomar o Brasil huma attitude constitucional differente da que pelas Cortes da Metropole lhe fosse decretada, assentaram que não havia um so momento a perder para proclamarem a adhesão á causa de Portugal, qualquer que ella fosse ou qualquer q'. ser possa a Constituição que as Cortes ora congregadas naquelle Reyno houverem de decretar para toda a Monarquia.

Aqui do mesmo modo que na Bahia, o Partido Brasileiro (quero dizer os que só tem em vista dar uma Constituição ao Brazil sem curar da sorte de Portugal) retirados atraz da cortina tem visto com satisfação que os Europeos rompem a scena: atiçam cautelosamente a incipiente Revolução certos de que cm ultimo resultado ham de ser Indigenas e não os Advenas que ham de ficar Senhores do campo da batalha. Mas quam funestas serão para elles mesmos as consequencias desta cruenta lide!

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Hoje pelas sete horas da manhan quando apenas levantado eu me assentava a trabalhar na forma do meu costume, sinto parar defronte da minha porta hum cavalleiro que a toda a desfilada vinha gritando Viva ElRey Constitucional! - Vivam as Cortes de Portugal! E logo subindo-me a escada me chama pelo meu nome: faço-o entrar e reconheço ser hum Tenente do Batalhão de Caçadores, N.o 3. que me diz Da parte de S. A. R. venho chamar a V. E. para se apresentar sem demora na Praça do Rocio, onde o mesmo Senhor se acha com o Senado da Camara afim de prestar juramento de adherir á Constituição que fizerem as Cortes de Lisboa: tendo-o S. Mag.de assim decretado: e nomeado a V. Ex. Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios

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Estrangr. e da Guerra, assim como nomeou para os Negocios do R. ao S. Quintella e na mesma conformidade aos demais Min ° por ter dado a demissão aos que antes eram. =

Respondi: que eu passava a apresentar-me, e que iria receber as ordens de S. A. R. Com isto partio aquelle official. Porem como eu não julgasse que huma sem. intimação tivesse a precisa regularidade para eu me transportar ao logar em que se praticava (a ser verdade o que eu acabava de ouvir) huma verdadr. Revolução, senão na essencia (a ser certo que S. M. era nisso de accordo) ao menos na maneira porque se manifestava a vontade do mesmo Senhor; resolvi não sahir da minha casa emq.to por modo mais regular me não constasse das Reaes Determinações a meo respeito. Não tardou porem muito que não voltasse outro off. al do mesmo Batalhão, reiterando-me a mesma ordem da parte de S. A. R. e insistindo em que o acompanhasse. Excusei-me com o pretexto de não estar ainda prompto: e com a promessa de que eu não tardaria em segui-lo, retirou-se.

Estava eu firme no meo proposito de esperar por uma ordem concebida em forma menos revolucionaria quando ouço chamaremme da rua a grandes vozes: e acudindo á janella vejo em frente della o mesmo official que primeiramente me chamàra, o qual apenas appareci, voltando-se para a visinhança que a aquelles brados se achava pelas portas e janellas, exclamou = Tomo a todos os prezentes por testemunhas de como pela 3." vez he chamado Fulano da parte de S. A. R. e de ordem de S. M. para ir incumbir-se do Emprego para que o mesmo Senhor o ha nomeado e prestar juramento á Constituição das Cortes de Portugal o que dito partio tomando o caminho do Rocio.

Em taes termos julguei não dever demorar por mais tempo o sahir e verificar por mim mesmo o que S. Mag.des havia com effeito determinado a meo respeito, e fui em direitura á casa do meo annunciado Collega o Vice-Almirante Quintella, afim de com elle concertar sobre o que deviamos fazer. Alli soube como elle se achava já no Rocio e fui por varias pessoas informado de como com effeito já tambem la se achavam juntamente com S. A. R. o Senado da Camara e o Bispo Capellão Mor.

Em consequencia dirigi-me alli; e apresentando-me a S. A. R. recebi de sua Mão o Real Decreto que me nomeava para o Emprego que fica referido.

Quiz eu e os meos novos Collegas partir immediatamente para a Quinta da Bôa Vista (*), onde S. M. se achava, para recebermos as suas Reaes ordens; mas não nos foi concedido sahirmos dalli em quanto se não prestasse o juramento de adhesão ao Auto que S. A. R. acabava de dictar ao Escrivão da Camara, e pelo qual o mesmo Senhor no seo nome e no de seo Augusto Pae com todas as Autoridades q'. presentes estavam se obrigavam a acceitar, guardar e fazer guardar a Constituição que fizessem as Cortes de Portugal na conformidade do Decreto que com a data de 24 do corrente se fizera publico naquelle mesmo acto.

Cumpre que eu diga a V. S. que com effeito no dito dia 24 esteve vencido no Conselho de Ministros que S. M. emittisse hum Decreto pelo qual declarasse adherir e adoptar para o Reyno do Brazil a Constituição que as Cortes de Portugal fizessem, salvas as modificações que as circunstancias locaes tornassem necessarias: E com effeito chegou S. M. a assignar este Decreto. Mas prevalecendo depois a opinião de primeiro se tratar o assumpto na Junta de que acima fallei, mandou S. M. sustar a publicação delle e achava-se na mão de Thomaz Ant.o de V. N. Portu.al

He este Decreto que S. M. ordenou a S. A. R. que fosse buscar a casa daquelle Ministro, quando o Principe voltou do Rocio a S. Christovam participando-lhe a vontade da Tropa e do Povo congregados naquella Praça.

De volta pois ao Rocio com este Decreto, começou S. A. R. a le-lo ao Povo do alto da varanda do Theatro, mas antes de acabar foi interrompido pelos clamores de que nada de modificação A constituição das Cortes tal e qual ellas a fizessem = Tornou portanto S. A. R. a S. Christovam a representar isto mesmo a S. M. que fazendo lavrar novo Decreto excluio d'elle a clausula de modificações que no primeiro se indicavam: E juntamente assignou as nomeações dos novos Ministros d'Est. e mais

(*) E' naturalmente lapso de penna: deve ser Bóa-vista.

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