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tivos por mim allegados para ser o Conde quem ficasse como primeiro Ministro junto a S. A. R. eram os mesmos que agora me determinavam a addicionar assim aquelle meo primeiro voto; porque não havia meio termo: Ou S. M. entendia que a influencia do Conde no animo de S. A. R. e nos Agentes visiveis e invisiveis de certo Partido cuja existencia se manifestava por factos de grande monta, era tendente á perda do Estado; e então nem elle nem S. A. R. podiam ficar no Brazil: ou S. M. entendia que pelo contrario era conforme ao bem do Est.° que o Principe Real aqui ficasse (e certamente esta era a sua Real convicção e a de todos os meos collegas: pois que se decidio contra a m.a (*) particular e constante opinião, o regressar S. M. quanto antes para Portugal) era preciso revesti-lo de todos os exteriores da sua Real confiança: era preciso que legalisada aquella influencia se lhe desse a força moral indispensavel para suffocar todos os demais Partidos emq.to estavam ainda, como á nascença; porque em Revoluções os dias sam de m.to maior import. do que os annos nos tempos ordinarios: Que eu costumado a não tratar intimid. senão com homens da minha esphera fugira sempre de querer ombrear com os de superior jerarquia, limitando me ás relações de respeitosa civilidade que as leis da sociedade me prescreviam em razão do lugar que cada hum delles occupava no Estado, salva alguma particular distincção q'. este ou aquelle me permettia tributar-lhe pelas suas qualidades pessoaes, ou particular benevolencia com q'. me obsequiassem: e q'. port.to sendo esta ultima a categoria em que eu me achava com o Conde d'Arcos; nas poucas vezes que tivera occasião de lhe fallar me pareceu divisar nelle huma nobre ambição, ilustrada por principios não vulgares da arte de governar os homens; mas que jamais estivera em circumstancias de formar juizo sobre o seu systema, m.mo se algum systema tinha concebido a respeito da reforma da Administração, sobre cujos defeitos nessas poucas conversações, apenas lhe ouvira fazer observações mais ou menos importantes, porem m.to em geral e sem que parecessem ligar-se a nenhum determinado plano.

(*) Pag. 43, penultima linha, do mss. original.

ElRey, aproveitando-se (visivelmente) destas minhas ultimas expressões, para pôr termo ao assumpto, interrompeu-me dizendo-me que procurasse eu pois o Conde: tratasse com elle sobre o assumpto das mencionadas Instrucções e Carta Regia, porque o Ministro dos Negocios do Reino por muito occupado com a immensidade de sua Repartição e pelo máo estado de sua saude mal poderia dar satisfação de trab.° que pedia por sua natureza e pela urgencia de tempo a mais activa assiduidade.

Repliquei com a franqueza que me he propria: Se dignasse S. M. de observar que por isso que aquella commissão era da mais relevante importancia, o estudo do coração humano me mostrava que o natural e mui louvavel brio daquelle Ministro se offenderia m.to mais desta revogação do honroso encargo que lhe fôra dado por S. M. q.to o negocio era proprio da sua Repartição, e elle como a S. M. não era desconhecido, mui capaz de o desempenhar pelo seo notorio talento e illibados principios de patriotismo e lealdade: accrescendo a tudo isto o ter elle com o Conde d'Arcos relações m.to mais intimas do que eu quando não fosse senão pelo diario trab. em que ha annos tem estado no serviço da Repartição da Mar.

ElRey, dando-me a mão a beijar, me respondeu: Para resalvar esse melindre: bem como sobre o mais que temos fallado trareis á manhan em Desp. esse assumpto a deliberação em presença de Quintella -E portanto falle com o Conde. =

V. S. conhece-me assaz para ficar na certeza de que eu hei de procurar o Conde; mas não hei de ser eu o que forme as Instrucções. Assaz me pesou o ter-me prestado a fazer para o Governo de Portugal as participações dos acontecimentos deste Paiz: sendo coisa que pertencia ao dito meo collega. A indifferença com que elle ouvio commetter-me ElRey essa incumbencia foi causa de eu sem maior reflexão me encarregar della: e so depois he que vim a conhecer que elle não fora a isso insensivel. Ficou-me porem o sentimento e a lição.

A D. meo caro Am. &.

CARTA XI

Meo Am." e S.-S. Mag.de não se esqueceu de me dirigir a palavra no acto do Despacho de hontem para o fim de me incumbir da redacção das Instrucções como na minha precedente carta annunciei a V. S.; mas como eu estava prevenido apenas entendi o alvo a que o seo discurso se encaminhava; pedi-lhe licença para combinar com o Ministro dos Negocios o Ministro dos Negocios do Reino sobre o estudo deste trabalho: e entrando elle em explicações a esse respeito foi facil acabar-se a sessão sem que a expressão do dezejo de S. M. se convertesse em ordem positiva que definitiva e claramente me desse aquella incumbencia desencarregando della ao referido Ministro: o que certamente muito me pesaria. Entretanto não me julguei dispensado de ir procurar hoje mesmo o Conde d'Arcos não para alcançar por surpresa o segredo da p.te que alguns querem que elle tenha nos actuaes acontecimentos; nem tam pouco para explorar quaes sejam suas intenções sobre o futuro; mas para o prevenir de que S. M. tendo-o destinado para ficar como 1.0 Ministro junto a S. A. Real desejava que eu e o Ministro dos Negocios do Reyno encarregados de combinarmos sobre as Instrucções que deviam fazer o contexto da Carta Regia nos entendessemos com S. E. sobre esse tão importante assumpto.

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A esta franca e sincera communicação correspondeu o Conde tomando o tom, seja-me licita a expressão, da persiflage; mas antes que elle acabasse a sua primeira phrase dei a conferencia por finda certificando-o de que em todos os tempos a Aristocracia (ainda tomada no sentido mais honroso, de apoio da Monarquia) pelo seu systema de Puritanismo e de isolação tem sido batida em detalhe pelo massisso da Democracia.

Sem duvida que depois de S. M. partir desta Corte não ham de ser as Instrucções por elle doixadas a seo Filho que ham de conter a este dentro dos limites que prescreve o interesse geral da Monarquia. Mas não he menos certo que S. M. deve deixar a seo Filho Instrucções em que se tracem os limites alem dos

quaes lhe não será licito passar sem que desde logo e por esse simples facto comprometta a segurança do Estado, e com ella a existencia da Monarquia, que mesmo sem esse abuso do Poder, tam ameaçada se acha ja de huma proxima e fatal dissolução.

Desgraçadam.to, dice eu a S. M. ao dar-lhe conta da minha commissão, o Conde d'Arcos e S. A. R. estam na lisongeira e port.to indestructivel illusão de que apenas o Brazil se entregue

ao seo Gov. obedecerá com docilidade aos seos acenos : que debaixo do unico nome de Brazileiros e de hum so Imperio os Povos desde o Rio da Prata até ao Amazonas, formaram gostosos e tranquillos huma so familia e que Portugal caduco de annos, e acabrunhado dos trabalhos da Revolução que vae a acabar-lhe as forças ou se perde, e nelle pouco perde o grande Imperio do Brazil, ou para se salvar invoca a protecção deste seo poderoso Co-estado e pela se.da vez salva o Brazil a Portugal da sua total anniquilação.

Como foram os Portuguezes da Europa os que nesta Corte bem como na Bahia levantaram o estandarte da Revolução, persuade-se o Conde que eliminados estes (e nada a seo ver mais facil do que dispensa-los) se alguns Brasileiros ficarem inoculados do mesmo espirito vertiginoso, esses sam na sua opinião tão poucos e tão fracos que debalde tentariam oppor-se ao restabelecimento da Idade de oiro que a sua Arte de governar os homens e sobretudo a Arte por elle so conhecida de governar os Brazileiros, tem preparado para este ditoso Paiz.

Tal he, Senhor, o quadro romanesco que em sua imaginação e com a melhor fé do mundo o Conde tem formado do que o Brazil vae a ser entre as suas mãos.

Estas sam as ideas que trazem como encantado a S. A. R. do brilhante papel que vae a representar; apenas tome posse do Governo E portanto he absolutamente indifferente quaes Instrucções lhe ham de ficar; pois que todas e quaesquer serão consideradas como desnecessarias e impertinentes.

Porem, accrescentei eu, sendo certo que tudo isto he mera illusão tanto em S. A. R. como no seo preconisado Ministro, que outra coisa se pode esperar para este desgraçado Paiz, apenas V. M. o deixar entregue ao seo governo senão desastres sobre de

sastres. Partidos, guerras civis, guerras implacaveis entre as differentes castas e emfim depois total exterminação da raça branca pelas outras incomparavelmente mais numerosas de Pretos e de Pardos, o abandono das cidades e engenhos, voltando este formosissimo Paiz à barbara condição dos da Costa de Africa.

Eis-aqui o porque fui e serei sempre de voto que so pela persistencia de V. M. no Brazil, he que se pode esperar o preserva-lo a elle, e com elle toda a Monarquia da sua alias infallivel e total dissolução (Nota).

S. M. dignou-se de me responder Isso ja agora não tem remedio. A Providencia que tão maravilhosamente tem protegido a Monarquia Portugueza, hé quem so a pode hoje salvar. Este discurso tem nos principios da Religião, como nos de Rasão hum sentido tão incontestavel, que nada me restava a accrescentar. Ad. meo bom Am. &.

CARTA XII

Meo Am.o e S. He verdade: O officio de que lhe remetti copia e pelo qual de ordem de S. M. dei parte ao Governo de Portugal dos acontecimentos do dia 26 não exprime claramente quaes sejam as intenções de S. M. q.to ao seu regresso. Mas isso era justamente o que convinha, porque tendo-se já deliberado por vezes sobre este assumpto na sua presença ainda ElRey não formou huma final resolução a esse respeito.

Porem não era só aquelle o objecto que no referido officio devia ir expressado com estudada e prudente ambiguidade. O que muito importava signalar de maneira que sem offender a sensibilidade do Congresso, quando este já se ache reunido, assegurasse a integridade dos Direitos da Coroa, era o principio de que o seo concurso

(Nota.) Neste poncto do mss. original e autographo vem a palavra nota e a seguinte declaração V. a Nota. Mas dirá alguem &., escripta por lettra diversa. Entretanto, nenhumas notas acompanhavam estas Chartas ao serem ellas offerecidas á Bibliotheca.

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