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da Historia eu vou fazendo no seio da amizade o deposito da facil narração dos successos em que a sorte quiz que eu seja parte: e de que he justo que a posteridade seja por mim mesmo sem prevenção de amor ou odio escrupulosamente informada.

Ad". meo respeitavel Amigo, etc.

CARTA XX

Meo Amigo e Sr. Cahiu de todo o véo que de algum modo cobria ainda os designios dos Promotores publicos e occultos da Revolução de 26 de Fevereiro.

A resolução que S. M. tomou de regressar com a sua Corte para Portugal desarmou a cabala que mediante novos tumultos e pela creação do Conselho de Estado que exigiam se composesse das pessoas cuja relação communiquei a V. S. na minha carta de procurava obrigar S. M. a dar aquelle ou alias outro algum

ainda mais funesto passo.

Como porem as delongas no preparativo que a decretada viagem. posto que nascidas unicamente da falta de meios, e de não haver no Ministerio quem efficazmente se applicasse a renova-las, impacientasse aos Chefes daquelle turbulento partido fazendo-lhes até mesmo suspeitar que da parte do Governo de S. M. havia em tudo isto proposito deliberado afim de se ganhar tempo e com elle se penetrarem os seos projectos, e se frustrarem suas maquinações por meio da remoção dos seos principaes coripheos inflamaram a natural actividade de S. A. R. que encontrou nos cofres do Visconde do Rio Secco todos os Subsidios que precisos fossem para se ultimar a obra da sahida de S. M. deste Reyno: como passo essencialmente preciso para a Revolução do Brazil receber todo o desenvolvimento que os seos Autores começavam a receiar se lhes estorvasse. E tão forte he o receio que sobre isso manifestam que não contentes com o rapido progresso que os preparativos da Esquadra vão fazendo depois de assim soccorridos com

todos os meios precuniarios que precisos forem; não falta quem espalhe pelo Publico, como para sondar as verdadeiras intenções do Governo, que este só espera pela definitiva promptificação da Esquadra para declarar que o bem da Monarchia exige que S. M. continue ainda a residir nesta parte dos seos Estados, tomando a resolução de delegar em seo Filho o Principe Real a importante commissão de o ir representar como seo Lugar-Tenente nas Cortes de Lisboa.

Estes boatos industriosamente espalhados pelo Publico, não são tanto destinados a inquietar os animos das differentes classes do Povo que bem pelo contrario anhela por ver adoptada huma semelhante medida: o seo objecto, alem de ser o ja mencionado de descobrirem as verdadeiras intenções do Governo he de excitarem na Divisão Portugueza hum fatal descontentamento; pois lhe fazem acreditar que ficando aqui ElRey se lhe prolonga indefinidamente a sua estada no Brazil: e ja V. S. sabe que este foi o principal movel com que se abalou o animo a Tropa para entrar na Revolução de 26 de Fevereiro por se-lhe persuadir que o Ministerio de então, deferindo adherir á Revolução de Portugal, nada menos intentava do que cortar todas as relações com aquelle Reyno e portanto ás Tropas da Divisão todas as esperafiças de a elle tam cedo e por ventura jamais poderem regressar.

Na verdade não se pode fazer idea do effeito que estes boatos e as suggestões manejadas em segredo tem produzido não só nos animos rudos dos soldados, mas tambem e com maior vehemencia ainda nos da officialidade que ja pela natural impaciencia de reverem suas familias, ja pelas esperanças que as noticias da Revolução de Portugal lhes tem feito conceber de verem melhorada no seo regresso áquelle Reyno a sua sorte em consequencia da despedida. do grande numero de officiaes estrangeiros que occupavam os postos mais importantes do Exercito, ja não conhecem barreiras ao seo soffrimento e estão dispostos a tentarem tudo quanto se lhes aconselhe, para sahirem deste para elles tão violento quanto prolongado presidio.

He certo que nem S. M. nem nenhum dos seos Ministros retarda actualmente a realisação da decretada partida. Mas nem

por isso afianço que os Chefes do Partido revolucionario desistam de promoverem huma nova commoção afim de melhor assegurarem e mesmo precipitarem a partida de S. M.

E ha-de V. S. acreditar que toda a Nobreza, tudo quanto he gente do Paço arde de impaciencia de voltar a Portugal? Sabem todos que naquelle Reyno rebentou huma revolução mais violenta de quantas lhe tem precedido na Europa contra as Classes previlegiadas do Clero e Nobreza: e nesta com especialidade se faz tiro aos que na phrase ja trilhada em quantos discursos nos tem chegado das Cortes, se denominam Aulicos.-E são estes Aulicos os que até estigmatizam como traidores ao Rey e á Nação as pessoas que elles suppoem opporem-se ao regresso de S. M. para Portugal.-Infelizes! Que mal conhecem a sorte que os la espera! Ad. meo digno Amigo, etc.

CARTA XXI

Meo Amigo e Sr.-Eu não sei se foi por effeito do sincero desejo que todo este Povo (geralmente fallando, pois em tudo ha excepções) de que S. M. não verifique ao menos por ora, a trasladação da sua Côrte para a Europa: ou se foi por manobra do Partido que mais deseja que S. M. parta quanto antes e parece receiar que o Ministerio se dispõe a ceder ao desejo do Povo, o certo he que tanto a Camara desta cidade como o Corpo do Commercio acabam de levar á presença de S. M. as mais instantes e energicas representações, supplicando-lhe haja por bem differir e se possivel fosse retractar a tomada resolução do seo regresso para Portugal.

Se foi espontaneo movimento dos Povos, será este hum eterno monumento do bom espirito e sensatez de que elles se acham animados. E se foi obra do Partido revolucionario para obter por huma parte a declaração do Governo de S. M. e mesmo para o forçar a da-la qual elles a desejam, esporeando por este modo a

impaciencia dos Cortezãos e da Tropa, podem desde ja felicitar-se de haver conseguido seo intento.

A resposta de S. M. a aquellas expressões de amor dos seos vassallos foi tal qual V. S. póde imaginar. Sem se fixar a epoca da partida, mostrou-se a necessidade em que S. M. estava para bem geral dos seos Estados em hum e outro Mundo de fazer este novo sacrificio das suas paternas affeições, separando-se de vassallos que tam caros lhe deviam ser até pelo recente testemunho que acabava de receber do seo Filial affecto.

Pareceria que com esta tão positiva declaração deveriam acalmar os furores da ambição. Mas nas vinte e quatro horas que tem decorrido, e durante as quaes sou informado com frequencia do que se passa nos Quarteis, nos Cafés e nas loges dos Mercadores das ruas Direita e Quitanda (os quaes lugares sam hoje o theatro da mais desenfreada liberdade de fallar) observo que bem longe de os espiritos se aquietarem vão entrando em huma effervescencia tanto mais difficil de reprimir quanto são desvairados os motivos que cada hum tem para viver em penoso desasocego, incerto da fortuna que o espera na nova ordem de coisas que pela retirada de S. M. se vae a estabelecer neste tão bello quanto malfadado Paiz.

Todos antevem em grosso, que nada do que hoje existe se pode conservar. Mas quaes serão as mudanças que se preparam? Quaes serão as victimas das reformas? E serão estas para bem ou para maior desventura do Estado? Eis-aqui as perguntas que cada hum se faz a si mesmo, e que fazem todos huns aos outros. Deus Guarde, etc.

A COLLECÇÃO CAMONEANA

DA

BIBLIOTHECA NACIONAL

CATALOGO.

[Continuação (*)].

Traducções.

Latinas:

71) Lvsiadvm libri decem. Avthore Domino Fratre Thoma de Faria, Episcopo Targensi, Regioque consiliario, Ordinis Virginis Mariæ de Monte Carmeli, Doctore Theologo, Vlyssiponensi. Cum facultate Superiorum.

Vlyssipone. Ex officina Gerardi de Vinea. Anno 1622. In-8.° de 8 folhas preliminares não numeradas, e 179 folhas numeradas só pela frente.

No meio da pagina do rosto uma vinheta. Na folha seguinte as licenças para a impressão, todas datadas de Janeiro de 1622. Segue-se: a Errata, e, logo depois: Inclito, Invicto, ac Illvstri Portugalliæ Regno prosperitatem maximam exopto.

E', como diz o sñr. v. de Juromenha, uma dedicatoria á nação portugueza, na qual diz que vendo o estado de degradação ə

(*) Cont. da pag. 78 d'este vol. II.

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