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I.

Biographia.

Antonio de Araujo de Azevedo, 1.° conde da Barca, do Conselho de Estado, Ministro e Secretario de Estado de várias pastas, presidente do Tribunal da Junta do Commercio, socio honorario da Academia Real das Sciencias de Lisboa, grão-cruz das ordens portuguezas de Christo e da Torre e Espada, da hispanhola de Isabel a Catholica e da franceza da Legião de Honra, nasceu em sua casa de Sá, termo de Ponte de Lima, em Portugal, a 14 de Maio de 1754; sendo seus paes Antonio Pereira Pinto de Araujo de Azevedo Fagundes, fidalgo da Casa Real e cavalleiro da Ordem de Christo, e Dona Marqueza Francisca de Araujo Azevedo.

A fim de fazer sua educação litteraria, foi elle mandado, aos 11 annos de edade, para a casa de um seu tio no Porto, o bri gadeiro Antonio Luiz Pereira Pinto, onde aprendeu o francez, o inglez e o italiano, que chegou a fallar muito bem, as linguas an tigas, principalmente a latina e grega, as quaes sabia perfeitamente, e philosophia racional e moral. Do Porto passou-se para Coimbra, e ahi frequentou como voluntario o 1.° anno do curso philosophico,

Debret (J. B.)- Voyage pittoresque et historique au Brésil, Paris, 1834-1839; tomo 3.o pags. 91, 206.

Duchesse d'Abrantes. -Souvenirs d'une ambassade, etc., Paris, 1837.
Gazeta do Rio de Janeiro, n. 51 de 25 de Junho de 1817.

Joaquim Caetano da Silva-L'Oyapoc et l'Amazone. Paris, 1861.

O Portuguez, periodico mensal, publicado em Londres (de 1814 a 1821) sob a redacção de João Bernardo da Rocha Loureiro, formado em direito; á pag. 957 e 958 do n. de Julho de 1817.

Innocencio Francisco da Silva -Diccionario bibliographico portuguez, artigos Antonio de Araujo de Azevedo nos tomos 1.° e 8.° e Osmia no tomo 6.°

Catalogo dos Livros da Bibliotheca do Conde da Barca, em 1818, manuscripto in-folio, existente na Bibliotheca Nacional.

Memoria sobre a divida do Estado a João Piombino, cessionario habilitado dos her. deiros do Conde da Barca. Rio de Janeiro, Typographia de Bernardo Xavier Pinto de Souza, 1861.

Memorial sobre a divida do Estado a João Piombino, representante da propriedade do Conde da Barca: (provavelmente impresso na mesma typographia de Bernardo Xa vier Pinto de Souza; sem data, em todo o caso porém é posterior a 1.° de Fevereiro de 1864).

O Patriota, periodico mensal, publicado no Rio de Janeiro sob a direcção de Manuel Ferreira de Araujo Guimarães; n. de Fevereiro de 1813, pags. 12 e 99, e n. de Julho de 1813, pag. 35.

Resenha das familias titulares do reino de Portugal, etc.; Lisboa, 1838, pag. 278 c seguintes.

Dr. Alexandre José de Mello Moraes; Corographia historica, chronographica, genealogica, nobiliaria, e politica do Imperio do Brazil -e Historia do Brazil-Reino e Brazil-Imperio.

na intenção de fazer um estudo regular das sciencias naturaes; levado porêm por motivos, que são ignorados, deixou de dar execução a esse intento e voltou para o Porto, onde applicou-se ao estudo de todos os ramos, que constituem as Boas-lettras, especialmente á historia e ás mathematicas, adquirindo em todos elles profunda erudição, á custa de uma applicação e trabalho levados a excesso por muitos annos. Nunca ninguem executou tão ao da lettra o bem conhecido conselho de Horacio :

<< Nocturna versate manu, versate diurna. » como o joven Araujo! As proprias horas da noite, em que de via descançar, roubava-as ao somno para estudar; e como seu tio ás vezes o-reprehendia amorosamente por temer que taes excessos fossem incompativeis com sua constituição franzina e lhe-deteriorassem a saude, já pouco valida, elle costumava cobrir com um capote a luz, que o-allumiava, para que o estremecido velho, que dormia em um quarto visinho, o não apanhasse em flagrante delicto de excesso de estudo.

Os primeiros passos dados por A. de Araujo de Azevedo na vida publica referem-se a seu torrão natal; 1.° pelos fins do anno de 1779 conseguiu organizar em Ponte de Lima a Sociedade economica dos amigos do bem publico, destinada a promover a agricultura, a industria e o commercio, tomando A. de Araujo muito a peito fazer desenvolver e prosperar a criação do bixo da seda, a cultura da amoreira branca, que mandou vir de outros paizes de Europa, por ser desconhecida em Portugal, e a fabricação dos tecidos de seda; 2.o projectou a desobstrucção e canalização do rio Lima, com o fim de augmentar a navegação e o trafego do commercio n'aquella região e de restituir aos povoados ribeirinhos do Lima a antiga prosperidade de outras éras: ainda que nesta empreza fosse coadjuvado por pessoas illustradas e de boa vontade, entre outros, o célebre abbade José Correia da Serra e o duque de Lafões, este projecto não chegou a vingar.

Entrementes mudou-se Antonio de Araujo para Lisboa, desejoso de entrar na carreira publica; a muita instrucção e outros distinctos dotes que possuia, a influencia de alguns parentes e de outras pessoas suas amigas na Corte, cujas boas graças soube promp

tamente captar, elevaram-n'o em breve (25 de Julho de 1787) ao logar de enviado extraordinario e ministro plenipotenciario de Portugal em Haya; entretanto só a 2 de Junho de 1789 partiu elle de Lisboa para seu posto diplomatico, tendo empregado o tempo d'essa demora em dedicar-se especialmente ao estudo de assumptos politicos, diplomaticos e commerciaes, como lhe-era mister para a carreira, que ia encetar.

Em vez de seguir viagem directamente para Haya, passou primeiramente pela Inglaterra e França, onde se-demorou por algum tempo. Durante sua estada nestes paizes não perdeu um só instante; estudava não só as materias concernentes a seu emprego, mas tambem as de sua particular predilecção,-commercio, physica, boas-artes e litteratura extrangeira; e frequentava as sociedades litterarias e os homens mais eminentes na politica e nas lettras, sir Joseph Bancks, lord North, Planta, Gray, os ministros Montmorin e Necker, o maire de Paris--Bailly, Lavoisier, Fourcroy, Lalande, e outros, de cujo tracto e relações resultaram para si a estima e consideração de todos e a privança de muitos d'elles, e para Portugal vantagens, que em grande parte foram devidas á sua influencia e relações pessoaes.

A. de Araujo chegou emfim a Haya; era então ésta capital o centro de grandes agitações politicas e o refugio de numerosos immigrados francezes e belgas e de alguns portuguezes até então residentes em França: este estado de cousas e as relações adquiridas por A. de Araujo em França tornavam mui delicada sua posição na capital da Hollanda, mas seu bom senso, a rectidão, dextreza e habilidade de seu procedimento fizeram-n'o saïr-se bem d'estas difficuldades e grangearam-lhe a estima geral do governo, da gente do paiz e dos immigrados.

Pelos fins de 1794 e principios de 1795 a Republica Franceza invadiu e se-apossou da Flandres Austriaca e da Hollanda : foi essa uma epocha de afflicções e privações para A. de Araujo, pelos cuidados e sustos que tinha relativamente á segurança de sua pessoa e da de seus amigos, pelas difficuldades pecuniarias em que se-achou, em consequencia de não encontrar quem quizesse descomptar suas lettras, e finalmente pela importancia dos negocios

politicos e diplomaticos a seu cargo: entretanto não se-acobardou, e, continuando a permanecer em Haya, prestou ainda novos e valiosos serviços aos immigrados francezes, proporcionando-lhes um salvo-conducto dos generaes francezes que occupavam a Hollanda, e a seu paiz obtendo que continuassem as relações commerciaes entre a Hollanda e Portugal, si bem que as diplomaticas entre este e a França estivessem estremecidas.

Este estremecimento tornou-se em breve em aberta hostilidade, pela tenacidade com que a Corte de Lisboa se-conservava fiel a seus compromissos para com a Inglaterra e a Hispanha (1795). Separando-se pouco depois a Hispanha d'esta liga para unir-se com a França, pelos tractados de Basiléa (1795) e de Sancto Ildefonso (1796), e tendo a Inglaterra e Portugal soffrido revezes, viram-se forçados a pedir paz á França pela mediação da Hispanha; e Antonio de Araujo, que se-achava então em Haya, foi o encarregado por parte de Portugal d'essa melindrosa missão, da qual resultou o tractado de paz e amisade, concluido em Pariz a 10 de Agosto de 1797. Este tractado, si não era o que Portugal aspirava como mais vantajoso, por que com certeza elle não podia, em taes circumstancias, impôr condições á França, era o melhor que então podia ter feito. A França immediatamente o-ratificou e publicou; mas o principe regente d. João por seu lado não fez o mesmo, em consequencia de uma representação secreta do ministro da Marinha e dos Dominios ultramarinos, dom Rodrigo de Souza Coutinho, depois conde de Linhares, contra as estipulações do mesmo tractado, e a tal poncto o-cegou sua má vontade e figadal inimizade contra A. de Araujo, que chegou a commetter a injustiça, direi até a iniquidade, de na referida representação, chamar de imbecil o negociador d'aquelle tractado. A não ratificação por parte de Portugal do tractado de 10 de Agosto de 1797 deu logar a que o Directorio, por decreto de 26 de Octubro de 1797, declarasse nullo e de nenhum effeito o dicto tractado e intimasse ao mesmo tempo. ao plenipotenciario portuguez, que o-negociára, para retirar-se in continenti do territorio da Republica franceza; Antonio de Araujo tendo-se demorado em França, em contravenção d'esta ordem, foi preso e encarcerado na prisão do Templo a 4 de Janeiro de 1798,

d'onde saïu livre, depois de quatro mezes, graças à benevola intervenção de amigos seus, para voltar de novo a Haya.

Não obstante a inimizade do ministro dom Rodrigo de Souza Coutinho para com A. de Araujo, o principe regente, para dar a este um signal de seu apreço, concedeu-lhe, logo depois de sua soltura, a graça de uma pingue commenda.

Antes de passar adiante, devo mencionar que foi durante sua estada em Haya, como ministro de Portugal, que A. de Araujo começou a empregar os lazeres, que lhe-deixavam seus encargos diplomaticos, em organizar sua bibliotheca, a qual sendo ao depois constantemente augmentada com novas acquisições, se-tornou afinal a importante Collecção Araujense, que possuimos na Bibliotheca Nacional.

Aproveitou-se A. de Araujo de uma licença, que obteve, para viajar pela Allemanha durante os annos de 1798 e 1799, visitando Hamburgo, o Brunswick, Gottinga, Gotha, Weimar, Leipsic, Dresda, Berlim, etc., e repartindo seu tempo entre o estudo da litteratura allemã, da botanica e da chimica, a visitação dos estabelecimentos scientificos e outros, a frequencia e o tracto dos artistas, litteratos e sabios mais distinctos d'esses paizes, como Klopstock, Goethe, Schiller, Werner, o barão de Zach, Klaproth, etc., e dos soberanos das Cortes, por onde andou.

Da Hollanda, para onde A. de Araujo tinha tornado, depois de sua viagem á Allemanha, foi chamado a Lisboa em 1800, para tomar parte mais activa nos negocios de Portugal, e em principios de 1801 foi encarregado de uma missão secreta juncto de Napoleão, a qual ficou mallograda, porque nem ao menos poude passar do porto de Lorient. Quando voltou de Lorient, foi nomeado ministro plenipotenciario para S. Petersburgo; mas antes de partir para sua nova missão, teve necessidade de ir a Haya, para pôr em boa ordem seus negocios particulares, e a bom recado sua preciosa livraria, da qual dizia em uma charta d'essa epocha: -« Custa-me in<< finitamente a separar-me d'ella, pois não pode haver cousa mais << desagradavel do que, depois de ter feito huma collecção assim,

ser obrigado a não a gozar. Parece que está determinado « pelo destino que jámais tenha socego por espaço de alguns

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