Não dês, minha Lira, um passo
Mais descendo... Temerario,
Vê que de Amor o sacrario
Não se póde perscrutar.
Dá que eu possa, bella Analia,
Sempre os teus dotes cantar.
Se cançados estão de ouvir a centos
Versos pequenos a alto assumpto feitos,
Sabei que se não forão mais direitos,
Temos desculpa, á falta de talentos.
Cothurno aponta altivos pensamentos,
Socco na frase humilde inflama os peitos;
E em nós crescendo o estro, os seus effeitos
Perturbão da materia os bons intentos.
Escrevendo atéqui livre alvedrio,
Obriga tudo á mote desta feita,
A ver se restauramos nosso brio.
Se nas glosas o trilho se indireita,
Vamos bem; mas se he tudo um desvario,
A intenção do louvor tambem se acceita.
Não póde a rosada Aurora
Ao Dia as portas abrir,
Emquanto Analia dormir,
Analia minha Pastora.
Lisongeiro Rouxinol,
Que á noite a entreteve á lerta,
Hoje mais tarde disperta,
Sahe hoje mais tarte o Sol.
Brandas, aligeras Aves
Nem se attrevem a cantar,
Com susto de a incommodar
Com seus accentos suaves.
Emquanto Analia descança,
Inda mesmo a Fonte pura,
Que entre seixinhos murmura,
A leve corrente amansa.
De assusta-la tendo medo.
Por ver que em silencio morno
Brincão-lhe as Graças em torno,
Amor põe na bocca o dedo.
Brandos Zefiros ligeiros,
Nem a fragancia das flores,
Só meus singelos Amores
Volteão seu travesseiro.
Só meus suspiros, que exhala
Meu peito, onde existe a Bella,
Afoutos vão ter com ella,
Importunos desperta-la.
Já se ergue Analia, já vem
Com estremada belleza
Repartir á Natureza
As graças, que ella só tem.
AOS ANNOS DE D. CANDIDA LUIza de Castro, FREIRA DO MOSTEIRO DE S. CLARA DO DESTERRO DA BAHIA, BEMFEITORA DOS PRESOS sobreditos de Pernambuco, e aquem muitos delLES, E Ò MESMO MANOEL CAETANO DE ALMEIDA E ALBUQUERQUE, FIZERÃO OUTROS
MUITOS VERSOS EM AGRADECIMENTO.
DE LILIA OS ANNOS FORMOSOS.
Cego Menino travesso,
De agudas settas armado,
Eu vi pelas mãos levado
Das Graças, que bem conheço.
A esta scena estremeço,
Prevendo estragos dolosos.
Perguntei Anjos mimosos,
Aonde o quereis levar?
Vamos (dizem) festejar
DE LILIA OS ANNOS FORMOSOS.
TOMO I.
Os Meninos da escola quinta feira,
E domingo na rua se ajuntavão;
E n'um forte de areia sublimavão
Pavilhão de gentil palha de esteira.
Fingindo-lhe ao redor cava, e trincheira,
Taquari, como peças, lhe montavão;
E em bexiga de boi tambor tocavão,
Gastando neste brinco a tarde inteira.
Um sendo Capitão, outro Sargento,
Canudo de mamão sopra o Trombeta;
E á noite a pés desfaz-se o novo invento.
Assim Gente com barba, e que be pateta, N'um feriado gisa sobre o vento
A pueril Republica de peta.
ORAÇÃO UNIVERSAL DO CHRISTIANISMO.
Dai-me, Deos, Fé, Esperança,
Caridade, e humildade;
Nas penas conformidade;
Contricção, perseverança.
Se tanto meu rogo alcança,
E na vossa graça existo
0;
O que supplico, além disto,
He para os Filhos de Adão
Graça igual; pois todos são
Meus Irmãos em Jesus Christo.
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