N'um vaso de esmeralda eu não quizera Os aposentos decorar brilhantes
Do soberbo Nababo de Golconda, Que piza em per'las, topa nos diamantes.
Tão pouco cu cubiçara ornar o seio Dessa joven Britanica Princeza, Em quem o brilho do diadema augusto Luz menos que os encantos da belleza.
Pousar, Senhora, fora o meu desejo Em vossa fronte tão serena, e bella, E vedar que em seu vôo o tempo rapido A aza impura não ouse roçar nella.
Como um raio da vossa formosura Reflectiria em mim seu fogo santo! Como a fragrancia dos cabellos vossos Dera á minha fragrancia novo encanto!
Ahi, como vaidosa cu ostentara Todo o meu esplendor! E qual rainha N'um throno de ouro ousara disputar-me Minha alta condição, e a gloria minha ?
Mas ja que a flor não sou appetecida (Que o não consentem fados meus adversos) Não recuseis, Senhora, a flor silvestre Que o Bardo vos offrece nestes versos.
Ao nascerdes, Senhora, um astro novo Vos inundou de luz, que inda hoje ensina No fogo desses vossos olhos bellos
O ar, que respirastes sobre a Terra, Foi um sopro de Deos embalsamado Entre as flores gentis, que vos ornavão O berço abençoado.
Ao ver-vos sua igual no Empyreo os Anjos Hymnos de amor cantarão nesse dia; E o que se escuta, se fallaes, he o echo Da angelica harmonia.
Gerada para o Ceo (que o Ceo somente Da creação a pompa, e o brilho encerra) Das mãos do Creador vos escapastes; Cahistes ca na Terra.
Um Anjo vos seguio para guardar-vos; E quaes gemeos um no outro retratado, Quem pode distinguir o Anjo, que guarda, Do Anjo, que he guardado?
So um raio do Ceo arde perenne,
Sem que o Tempo lhe apague o fulgor santo: Por isso os vossos dons são sempre os mesmos, O mesmo o vosso encanto.
Em vós he tudo eterno. E se na fronte (Tão bella sempre em tempos tão diversos!) Uma croa murchar-vos, he de certo
A croa dos meus versos.
Dos meus versos? Ah! Não! Que inextinguivel He o incenso queimado á Divindade :
E ao canto, que inspiraes, vós daes, Senhora, Vossa immortalidade.
A Mc. STOLTZ EM UMA REPRESENTAÇÃO DA FAVORITA.
Genio! Genio!... inda mais! Supremo esforço Da mão de Deus no ardor do enthusiasmo ! Es Anjo, ou es Mulher, tu que nos roubas Do culto o amor, o extasi do pasmo ?
Na pujança do vôo a Aguia soberba Tenta o Céo devassar, exhausta pa'ra: Nas azas do lyrismo tu de Jehova Ao Templo chegas, e te prostras n'ara.
Ahi c'roada de fulgente aureola No concerto dos Anjos te misturas; E se cantas na Terra, são teus hymnos Harmonias, que ouviste nas alturas.-
Ahi aspiras o lustral perfume, Que das urnas sagradas se evapora : Eis porque tua voz parece ungida Dos olores da flor, que orvalha a Aurora.
Ahi do coração na harpa animada
As cordas descobriste de ouro estreme,
Que se vibra de amor, atea n'alma Paixão, que goza, e soffre, canta, e geme.
Ahi o idioma typico aprendeste,
Que entendem todos e que tudo exprime : He assim teu olhar o verbo vivo, He teu gesto a linguagem mais sublime.
Mysterio augusto, que do Eterno ao fiat Surgiste qual visão, que attrahe, fascina; Se da mulher teu corpo veste a forma, Arde no genio teu chamma divina.
Mulher, ou Anjo! Cumpre a missão tua ! Seja a crença deleite, a fé doçura:
Toda a terra ame ao Ceo nos seus prodigios, Adore o Creador na creatura.
AO EMBARQUE, E PARTIDA DE UMA SENHORA.
Ella foi-se!... E com ella foi minha alma Na aza veloz da Briza sussurrante, Que ufana do thesouro, que levava, Ia... corria... e como vai distante!
Eu que a Briza acalmar tentava insano, Com meus suspiros alentava a Briza!
No horisonte esconder-se anuviado Eu a vi; e dous pontos luminosos Apenas onde ella ia me mostravam : Eram elles seus olhos lacrimosos!
Pouco, e pouco empanou-se a luz confusa, Que me sorria lá dos olhos seus ; E d'além ondulando uma Aura amiga Aos meus ouvidos repetio adeos !
Nada mais via eu, nem mesmo um raio Fulgir a furto de esperança bella; Mas meus olhos illusos descobrião N'uma amavel visão a imagem della.
Esvaio-se a visão, qual nuvem aurea Ao bafejar de vespertina aragem; Se aos olhos eu perdia a imagem sua, No meu peito eu achava a sua imagem.
Ella foi-se!... E com ella foi minha alma Na aza veloz da Briza sussurrante. Que urana do thesouro que levava, la... corria... e como vai distante!
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