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Voltando ao Recife, cuidou logo o principe de prover de salutares medidas a administração da capitania; reprimiu abusos, animou e premiou os bons, puniu e demittiu aos máus e deste modo fez com que auctoridades e funccionarios cumprissem os seus deveres.

Dest'arte, distribuindo a justiça a todos egualmente, sem distincção de raças ou de religião, e tractando aos vencidos com brandura, tornou-se geralmente admirado e respeitado, e captou a affeição até dos Portuguezes.

Garantiu aos antigos colonos, que se haviam submettido, ou se quizessem submetter ao dominio hollandez, todos os direitos de propriedade, inclusive o dos escravos, pedindo-lhes apenas que não os tractassem com excessivo rigor.

Nem a todos agradou esta politica ultra liberal, tão extranha á epocha e a alguns a quem convinha o victis, ou a outros que queriam a imposição de crença religiosa pela violencia.

Muitos protestantes fanaticos, e tampouco a Companhia, não ficaram satisfeitos com a applicação desses sãos principios á colonia.

Organizou, outrosim, hospitaes e asylos de orphãos, onde lhes era ministrada a instrucção, e despediu os indios para que fossem prestar serviços á lavoura.

Fez vender em leilão, como propriedade publica, os engenhos abandonados pelos donos, conseguindo por essa medida duplo fim, fazer prosperar a agricultura e augmentar as rendas do governo. Cada um delles produziu de 20 a 100 mil florins, e a Companhia recebeu ao todo dous milhões.

As dizimas dos productos dos 160 engenhos de assucar em actividade na colonia renderam 280.900 florins, somma que bastava para as custas da guerra.

Para completar a felicidade da capitania, só era preciso que a dotassem de mais densa população.

Diz Netscher :

<< Havia já muito tempo que Mauricio pedia com insistencia colonos á Metropole; agora, assim como aconteceu frequentemente depois, as suas idéas esclarecidas e os seus sabios conselhos foram contrariados pelos directores e sobretudo pelos accionistas da Companhia.>>

Em carta ao Stathouder, empenhava-se elle para que lhe obtivesse colonos da Allemanha e da Hollanda.

***

Dividia-se a população da colonia em tres raças: branca, india e africana.

A branca compunha-se de Hollandezes, Portuguezes catholicos e judeus.

Os Hollandezes, invasores e donos da colonia, eram commerciantes, industriaes, operarios e hoteleiros, e residiam no Recife. Os Portuguezes, mais numerosos e mais ricos, estavam de posse da lavoura e tinham casas em Olinda.

Os judeus constituiam parte importante da população, eram Portuguezes perseguidos pela intolerancia religiosa da epocha e expulsos de seu paiz por governos fanaticos e despoticos; faziam extenso commercio, e muitos compravam engenhos e construiam casas esplendidas no Recife.

Perseguidos em quasi toda a Europa, asylavam-se para practicar livremente a sua religião em Pernambuco, a nova terra da promissão, transformada por um genio benfazejo em Patria de Liberdade.

Os indios, na colonia hollandeza e especialmente durante o governo de Mauricio, fruiam a mais completa egualdade, e retribuiam-lhe com sincera affeição a paz e o bem estar, que lhes facultava.

Conta Barlœus que Camarão, por uma feita em que se indispuzera com Bagnuolo, mandára uma proposta de accordo a Mauricio, mas que lembrando-se da velha alliança com os Portuguezes, e arrependido do passo que dera, não quiz esperar pela resposta.

Os indios não eram apreciados no trabalho agricola e noutros porque não tinham disposição para qualquer serviço, exigiam grandes salarios e não se demoravam muito tempo nos empregos.

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Os negros escravos lucravam com o estado de guerra, em que se achava a colonia, pois Hollandezes e Portuguezes davam-lhes a liberdade afim de que elles os ajudassem a combater os adversarios.

Seguro do bom funccionamento do apparelho administrativo que fundára, poz Mauricio em deliberação, si a capital devêra ficar no Recife ou ser mudada para Itamaracá.

A ilha tinha a seu favor a abundancia de agua e mattas, mas lhe faltava o povoado, enquanto que o Recife tinha bastante população, estava já edificado e possuia um porto excellente. Dest'arte, a Companhia confiou a Mauricio a solução do problema e deu este sentença favoravel ao Recife.

Observa Netscher :

<< Entretanto o Recife, que já tinha 2.000 casas, não bastava á sua numerosa população; e Mauricio depois de mandar demolir completamente a cidade de Olinda, abandonada pelos seus habitantes, empregou os materiaes na construcção de uma nova cidade, que edificou na ilha de Antonio Vaz. Pieter Post, architecto hollandez, deu-lhe o plano com as fortificações; por deliberação do Supremo Conselho deu-se-lhe o nome de Mauritzstad, ou Mauricia, em honra ao seu illustre fundador.»

Barlœus refere que, antes da fundação, o conde fizera transplantar para a ponta norte da ilha 700 coqueiros já crescidos e trazidos dos arredores, um bananal, 250 laranjeiras, 58 limoeiros, 80 limeiras, 80 romanzeiras e 60 figueiras, e mandou fazer egualmente um viveiro para peixes. Maucicio ufanava-se de saber transplantar árvores.

Alguns zombaram daquella moda rapida de plantar, mas no anno seguinte não se riam mais, vendo florir e fructificar as árvores.

O palacio de Vryburg, que mandou construir para sua residencia e custou mais de 600.000 florins, e aquelle pomar, que o cercava, estavam situados ao Norte da ilha, num espaço que hoje abrange o palacio do governo, o theatro e a praça. Ficava como um castello, separado do resto da ilha por fossos e defendido na parte da frente pelo convento dos Capuchos, que haviam fortificado.

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