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CANTO PRIMEIRO

I

Os asnos Figurões assignalados,
Que da classe dos getas e bananas,
Por motivos já bem justificados
Passaram inda além dos fofos Tanas;
Em certo dia muito apouquentados,
Mais do que julgam almas sempre humanas,
Entre Vianna e Vallada edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram :

II

E tambem as memorias gloriosas
D'aquelles taes, que foram dilatando
A má fé; e as alminhas generosas
Andaram de Lisboa embarrilando :
E esses que por obras cavillosas
Se vão da pelintrice libertando
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

III

Cessem do Fontes e Cabral tyranno,
As empalmações grandes que fizeram ;
Calle-se do Eugenio e do Avilano,
A fama dos int'resses que tiveram :
Que eu canto o peito illustre d'um magano,
A quem bambos heroes obedeceram ;
Cesse tudo o que a Musa antigua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

IV

E vós, ó Casalinho, pois creado
Tendes em mim desejo novo e ardente,
Se até hoje inda não foi apalpado
De mim o vosso corpo transparente;
Dae-me agora alto grito assalvajado,
Um berro bom, macaco diffidente;
Porque vos juro, pato de Hypocrene,
Que encontrastes por fim quem vos depenne.

V

Dae-me uma tunda grande e furiosa,
E não coisinha assim pouco taluda;
Mas forte, mui valente e sonorosa,
Que tira o respirar e o gesto muda :
Dae tambem uma data na famosa
Gente vossa, que ao roubo tanto ajuda ;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tanta brejeirice cabe em verso.

VI

E vós, ó bem nascida segurança
Da nenhuma vergonha e da maldade,
E não menos certissima esperança
Do augmento da immoral rapacidade:
Vós todos que só qu'reis encher a pança,
Maravilha fatal da nossa idade,

Dada ao mundo p❜lo demo feio e grande,
P'ra fazer que o progresso nos desande :
VII

Vós, tenro e novo ramo florescente
D'uma arvore do Lobo tão amada,
Que nós temos por cá infelizmente,
Marosca ou Tranquibernia appellidada :
Vêde, como em Lisboa actualmente
Vos recebe toda esta canalhada;
Na imprensa, na tribuna, aonde entrou,
As sympathias todas grangeou:

VIII

Vós, somnolento Zé, cujo alto imperio
O Sette logo que entra vê primeiro,
Vê-o tambem em Côrtes pouco serio,
E fazendo discursos de sendeiro:
Vós, que engulistes esse vituperio
Do Gallo, que levou nosso dinheiro,
Do mono, que pregaram certas toucas,
Que dais farta lambança a gentes loucas:

IX

Inclinae por um pouco essa vaidade
Que no tão rombo geslo vos contemplo,
Que só ha de perder intensidade,
Quando descerdes ao maldito templo.
Os olhos de infernal sagacidade
Ponde no chão; vereis um novo exemplo
De amor dos patrios feitos vergonhosos,
Em versos divulgado numerosos.

X

Vereis Lacraus do lote mais subido,
De genio saccomão, raça do inferno,
Que desaforos mil tem commettido
Por uma pasta no lar seu paterno.
Ouvi: vereis o nome envilecido
D'aquelles de quem sois senhor superno;
E julgareis qual é mais excellente,
Se ser pae de leitões, se de tal gente.

XI

Ouvi: que não vereis com vãs façanhas,
Phantasticas, fingidas, mentirosas,

Cascar nos vossos, que por varias manhas,
Alcançaram fortunas grandiosas :

As verdadeiras d'elles são tamanhas,
Que excedem as sonhadas fabulosas,

Que excedem os ladrões do mundo inteiro,
E Caco. inda que fora verdadeiro.

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