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Cedo virá de tanto bem o dia.

He assim que a cruel pouco sincera
Cheia d'enganos para mim fallava;
E olhando para hum ulmo, a quem ligava
Em verde lasso huma amorosa era.

Jurou vellos primeiro desligados.
Do que os nossos ternissimos amores;
Mas quanto forão vãos, e enganadores
Os juramentos seus por vezes dados.
Mudou-se essa prejura; já não sente
Quanto passa o seu Floro magoado;
Hum successo d'amor tão desastrado,
Como pode esquecer tão facilmente..
Dos exemplos, que amor mostrado tinha,
Eu já devia ter o desengano;

Se a traidora comigo uzou d'engano,
A culpa não he sua, a culpa he minha.
Mais queria dizer o triste Floro;
Mas a setta d'amor, que temperada
No fogo do ciume tinha sido,
E o brando coração lhe penetrava,
A voz lhe interrompia, e entre pranto
Ficava immovel, motivando espanto.

He n'este mesmo instante que Silvano;
Já velho, já d'amor exprimentando,
Se enche de dó do que lhe tinha ouvido;
Quer consola-lo, como seu amigo;

Floro suspira, e já de dor estalla:
Silvano condoido assim the falla.

Silv. Ah, disgraçado Floro, quem podera Fazer que te vingasses dessa féra,

Que constante no vicio de prejura,

Juron a fé, que se tornou impura!

Cansa-se hum triste, e com extremo adora;
Abraça a lei d'amor, suspira, e chora:
Expoem-se a tudo por huus olhos bellos.
Que lhe entranhão no peito ardentes zelos
Vai entregar a doce liberdade.

Nas mãos d'uma Pastora, que só ha de
Seguir constante o pessimo costume,
Que he de fingir amor, fingir ciume.

De huma Pastora, que infalivelmente
Das mãos o interesse traz pendente;
Que amores pinta com fingidas cores,
Sendo tudo interesses, e não amores.

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De huma pastora que mais facil era Ser compassivo hum coração de féra, Do que ella amar deveras a hum triste, Que segue amor, a quem ninguem resiste. Não culpo a quem d'amor prova o veneno, Culpo as Pastoras, em quem en condeno Feio modo, cruel conhecimento

Com que sabém compor o fingimento.

Se no dia em que amor te preparava
Cadeias, com que os pulsos te ligava,
Tu fallasses comigo, por mil vias,
Eu te dissera, o que fazer devias.
Dirte-hia coizas já por mim passadas,
Que nunca foraa fabulas sonhadas;
Eu te dera conselhos, se os tomasses,
Pode ser que d'amor então zumbasses.
Pintaria com cores differentes,
Pastoras loucas, varias, e imprudentes;
Amor, e elias te farião tedio:

Mas ja he tarde, já não tem remedio.

Porém para os tormentos, que hoje sentes,
Pois que devem ouvir-se sempre os velhos,
Espero te approveitem meus conselhos;
Tu os escuta, delles não te auzentes.
Faze das forças rijo coração,

Que atraz dos malles, os prazeres vem;
Quem aprende a sua custa, aprende bem;
Nestas materias posso dar lição

Foi cegueira d'amor, fraqueza humana
Julgares ser fiel huma tiranna;
Mas se depois chegasses a conhecella.
Em vez de t affligires, zombavas della.

Tua paixão, que nunca se extinguia,
Nunca mais deve ser d'amor paixão;
Hum amor offendido tem razão,

Para uão ser amor, nem mais hum dia.

Se a cruel não lhe importa o quanto soffres,
Se o teu constante amor the não couvem,
Fazer não podemos que te queira bem,
Por mais finezas que por ella obres.

Se ella quando te vê te vira o rosto:
Se aos combates d'amor já mais se dobra,
Obra do mesmo modo que ella obra,
Não a procures, não lhe dès tal gosto.
O coração mudavel, e tiranno,

Que chegou huma vez a uzar d'engano
Ha de sempre enganar, que hum vicio tal.
Não se pode curar, nem bem nem mal.»

Não disse mais o experimentado velho,
Que no que disse então, não disse pouco;
Eis que, por cima dos erguidos Montes,
Vinha estendendo a noite o negro manto,
Ambos descerão, ambos caminharão,
E no meio do campo se apartarão.

FIM

Na Revista dos Açores (Vol. I, pag. 63 e 81) appareceram em 1851 um Soneto e uma Ode. unicas producções que então restavam de José Jacome Raposo. Ali s allude a uma Ecloga de que o sr. João Albino Peixoto conservava reminiscencias apreciando-a como de grande merito, mas de cuja existencia, nem elle. nem ninguem dava noticia, dei xando perceber que ignorava ter sido impressa.

Correram quasi quarent'annos, quando na primavera de 1890. no Cotalogo de Livros Antigos de Lugan et Genelioux do Porto. na pag. 127. apparece annunciada a Ecloga, acima transcripta, que as sim reimpressa mais facilmente escapará ao perigo de novamente se perder.

Na mesma Revista (pag. 63) diz-se que José Jacome Raposo era michaelense e natural da Ribeira Grande. vivera no principio do actual seculo, seguindo a vida publica judicial, ao que pode acrescentar-se: que casou na Matriz da Ribeira Grande aos 24 de março de 1762 com Josefa Flora, sendo o nubente filho de João do Monte Pedroso e de Victorina Jicome; do que se infere sua existencia pertencer mais ao fim do ultimo seculo, do que ao actual. o que ainda é confirmado pela data da impressão da Ecloga. eru 1789.

Servio de Tabelião em Ponta Delgada de 1794 a 1805, o que torna provavel o seu fallecimento n'esta ultima data, ou pouco depois.

Nos livros de suas Notas. que ainda existem no Cartorio da Relação dos Açores, assignava se José Jacome de Medeiros Raposo tornando assim difficil reconhecer a identidade da pessoa. se por mero acaso, numa lista antiga dos serventuarios das escrivaninhas da comarca de Ponta Delgada não apparecesse na 7. escrevaninha só com o nome de José Jacome Raposo, e nas listas mais modernas já com o acrescentamento de Medeiros.

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0 Licenciado Ascencio Gonçalves, ouvidor geral em S. Miguel por D. Manoel de Gouvêa &, attesta a certidão seguinte sobre os fogos que contem cada freguezia da ilha de de S. Miguel:

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Tudo segundo o Livro de Registo da Alfandega de Ponta Delgada, (marca pequena, rubricado por Francisco Botelho, Provedor da Fazenda Real e Armadas, com 185 meias folhas sem termo d'abertura nem encerramento), a fol. 114: conforme as declarações, que debaixo de juramento fizeram os vigarios de cada freguezia. Certidão pedida por Miguel Pereira do Lago, feitor que foi da fazenda real em S. Miguel, passada aos 2 d'outubro de 1596, por Alfonso de Goes, escrivão do ecclesiastico em S. Miguel.

N.o 62 Vol. XI-1891.

8

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4 Fajãa
5 Relva
6 Feteiras

7 Candelaria

8 Ginetes

9 Mosteiros. 10 Bretanha 11 Santo Antonio

12 Capellas (.

13 Fenaes de Rabo de Peixe

14 Rabo de Peixe.

45 Ribeira Secca
16 Ribeira Grande.
47 Porto Formoso
18 Maia

191 Fenaes da Maia
20 Achadinha

21 Achada Grande

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de d' Angra.

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