commando em chefe da força armada que actualmente guarnece e defende a ilha Terceira, e de toda a outra que para o futuro se lhe possa on haja de reunir, e esta minha carta regia vos servirá de titulo para assumirdes o dito commando. bem como para exigirdes a devida obediencia de todas as auctoridades militares e civis que se conservam fieis à minha real pessoa. O que me pareceu participar-vos para vossa intelligencia e inteira execução. Escripta no palacio de Laleam, aos 5 de abril de 1829. RAINHA. -Marquez de Palmella. Carta regia ao presidente e mais membros da junta provisoria da ilha Terceira, dando por terminadas as funcções da mesma junta-5 d'abril de 1829. Presidente e mais membros da junta provisoria do governo da ilha Terceira. Eu a rainha vos envio muito saudar como aquelles que prezo. Sendo conveniente reunir em uma só pessoa o governo e administração d'essa ilha, e das mais dos Açores, cujos habitantes forem reconhecendo a minlia legitima auctoridade, para assim dar todas as providencias que as actuaes e extraordinarias circumstancias exigirem para bem do meu real serviço com aquella energia e rapidez sem a qual as mais acertadas se mallogram: hei por bem dar por acabadas as funcções d'essa benemerita junta, nomeando, como tenho nomeado, ao conde de Villa Flor, par do reino, marechal de campo dos meus reaes exercitos, para governador e capitão general das mesmas ilhas. E por esta occasião sou servida declarar-vos que terei sempre mui présentes em minha real consideração os relevantes serviços, acrisolada lealdade e constancia admiravel com que os distinctos membros d'essa junta se houveram em tão criticas e singulares circumstancias, para os galardoar, distinguir e honrar como tanto merecem. Aos empregados que tèem servido sob as vossas ordens contemplarei tambem segundo o seu zèlo e merecimento, e ao governador e capitão general ordeno que faça subir à minha real presença a relação de seus nomes, empregos e serviços para os remunerar. O que me pareceu partici par-vos para vossa intelligencia e devida execução. Escripta no palacio de Laleham, em 5 de abril de 1829.-RAINHA-Marquez de Palmella. Un OS AÇORES VISTOS POR UM AMERICANO (0 Coronel Sam. C. Reid) AS ENCANTADORAS ILHAS DOS AÇORES grupo de ilhas com uma historia romantico-phantastica INDUBITAVEIS RESTOS DA ATLANTIDA Sublime scenario de montanhas e de rochas vulcanicas-extraordinaria historia de um continente submergido (1) O coronel Sam. Reid, que acaba de chegar de uma viagem aos Açores, apresenta o seguinte interessante esboço das suas observações, e de algumas lendas tradicionaes. O archipelago dos Açores consta de 9 ilhas-Flores, Corvo, Graciosa, Terceira, San Jorge, Fayal, Pico, San Miguel e Santa Mariaestendendo-se do W. N. W. a E. S. E. e cobrindo uma distancia linear de cerca de 300 milhas, entre 36.° 59' e 39.° 44′ lat. N. e 25.° 10' e 31.° 7' long: 0. de Greenwich. A sua latitude media é a de Philadelphia. São na maior parte rodeadas de altos morros de 50 a 300 pés de altura, só com escassos pontos de desembarque. Não tem portos naturaes verdadeiramente seguros. Bem se lhes pode chamar as Gibraltars do Atlantico, pois são quasi inconquistaveis de assalto. Os dois principaes portos de commercio são Horta e Ponta Delgada, que possuem quebra-már para abrigo dos navios, mas todas as mercadorias são transportadas em barcos de carregação. A Terceira, o Fayal, o Pico e San Miguel são as mais importantes e de maior interesse. Esta ultima é a maior do grupo medindo cerca de 40 milhas de comprimento e 9 (2) a 12 de largura. O seu principal porto é Ponta Delgada, linda cidade de 35000 (3) habitantes, com (1) Traduzido do Daily Alta California de 25 de janeiro de 1891, publicado em São Francisco, extrahido do Washington Star. (2) Aliaz 6. elegantes edificios e magnificas estradas conduzindo atravez de esplendido scenario a jardins-perfeitos Edens. Ha algumas velhas igrejas e conventos, construidos ha mais de 300 annos. Ponta Delgada está situada ao S.W. da ilha, e mede cerca de 3 milhas quadradas. E' ornada pelo norte d'uma serie de granjas culti vadas em outeiros que gradualmente se elevam até aos cumes das montanhas centraes que correm como ingentes vagas ao longo do dorso da ilha. E' a terceira cidade de importancia do reino de Portugal. O principal commercio d'estas ilhas é com a Inglaterra; havendo tambem uma carreira de navios de vela para Boston com viagens trimensaes; e ha pouco foi empreendido, por uma companhia portugueza, o serviço de um vapor entre New-York e Lisboa, com escala pelos Açores. E notavel que haja tão pouca communicação e commercio com os Estados Unidos: de facto é como se os attractivos e historia d'estas ilhas fossem pouco conhecidos da gente americana, que, em geral, parece ignorar a sua existencia e situação. Tivessem os americanos al guma idea das maravilhas d'este archipelago, dos indescriptiveis caprichos da natureza ali ostentados, das suas extraordinarias nascentes d'aguas thermaes, frias e quentes (em São Miguel), suficientes para alimentar a maior estação balnearea e sanatorium do mundo, do seu balsamico e risonho clima, da magnificencia dos seus parques ajardinados, e da superioridade dos seus vinhos e fructos, seriam induzidos a visitar esta terra incognita, estas ilhas tão feiticeiras quão desconhecidas do grande mundo. A velha historia das ilhas da Atlantida é cheia do maior interesse para o homem de sciencia, para o naturalista e para o geologo e tam bem para o publicoem geral. Crê-se que os Açores.Madeira, Canarias e ilhas do Cabo Verde formaram outr'ora parte do continente perdido» – a «grande ilha», como se lhe chamava então, conhecida com o nome de «Atlantida ». Que tal continente em remotas eras existiu não pode haver duvida. — Já no 4.° seculo antes de Christo, Thepompus, se refere aos continentes da Europa, Asia e Africa, como «rodeados pelo mar», mas que alem, para o Oeste, «existia uma ilha, ou continente, de immensa extensão, contendo grandes cidades, povoado por nações civilisadas». Isto é confirmado por Solen, o philosopho, poeta e legislador grego (600 annos antes de Christo) que, visitando o Egypto, recebera dos sacerdotes d'aquelle paiz uma «descripção da ilha da Atlantida,depois transmittida a Platão,e conservada por este nos seus escriptos, 400 annos antes de Christo. D'esta descripção se colhe que o primeiro rei da Atlantida foi Posiedon, que dividiu o seu reino em dez partes, dando uma a cada um dos seus filhos. Ao mais velho, Atlas, coube o maior e mais bello quinhão, e foi feito rei suzerano de seus irmãos, que conservaram a graduação de principes. Foi d'elle que toda a ilha e o oceano circumlinte receberam a denominação de Atlantida. Estes dez reis possuiam dez mil carros. Os povos eram aparentemente adoradores do sol, e tinham attingido um alto grau de civilisação; erigindo em honra do seu deus, magnificos templos, com estatuas e ornatos de oiro e prata, metaes que abundavam; construindo palacios para os seus principes e tambem portos e dokas para os seus navios, sendo as suas enseadas abertas ao commercio das embarcações estrangeiras, que as frequentavam. Havia abundantes madeiras proprias para todos os usos e a sua esquadra contava 1:200 navios de guerra. Havia todas as especies de arvores de fructo, cereaes, e arbustos. Abundavam os gados, cavallos e ani.naes domesticos e selvagens. Numerosas nascentes de agua fria e quente lhes serviam para os seus banhos, e para lavarem os seus cavallos, dos quaes cuidavam extremosamente. N'aquelles tempos a ilha da Atlantida, maior do que a Lybia e a Asia reunidas, era situada em frente do estreito das Columnas de Hercales, e era o caminho para outras ilhas; e d'estas se podia passar para o continente opposto, que rodeava o verdadeiro oceano. Porque este mar que jaz para dentro do estreito de Hercules é simplesmente um porto, com estreita entrada; mas o outro é um verdadeiro mar e o que o rodeia bem se pode chamar um continente. Era pois n'aquelle tempo a Atlantida grande e poderoso imperio dominando toda a ilha e outras mais, e tambem partes do continente; alem d'isto subjugou parte da Lybia, desde as Columnas de Hercules até ao Egypto, e parte da Europa até a Tyrrhenia. O vasto poder assin reunido tinha sido notavelmente aggressivo a toda a Europa e Asta, e ameaçava conquistar de um só golpe o Egypto e a Grecia e todas as terras aquem dos estreitos. Nesta grande lucta a Grecia ostenton a excellencia das suas virt ides e forças, pois era a primeira em coragem e pericia militar, e o gaia dos Hellens. E quando todos se separaram d'ella, compellida pelo abandono, tendo supportado o extrem do perigo, triumphon, desbaratando os invasores. Então succederam violentos terremotos e inundações; e durante um dia e una noite de diluvio, foi sotterrado todo o corpo dos guerreiros gregos, e a ilha da Atlantida desapparecen submergida no mar. Depois..... o sol contou por talhas de ouro, no horisonte occidental, os seculos que passaram, e foi em 1432 que se descobriu Santa Maria, a primeira ilha conhecida dos Açores. Era uma ilha cheia de bosques e fertil porem inteiramente deshabitada. Foi colonisada en 1435 sob os auspicios do Infante Don Henrique, filho de Don João 1.o, rei de Portugal. E' celebre por ter tido a honra de abrigar no dia 17 de fevereiro de 1493 a Christovam Colombo, que, ao voltar da descoberta da ilha Hespanhola (Hayti) na sua nau, a Nina, foi forçado por uma violenta tempestade a surgir na babia de Santa Luzia. (1) E' curioso, que medindo somente 44 milias o canal que sepára Santa Maria de San Miguel, esta só fosse descoberta a 8 de maio de 1444, (2) doze annos depois d'aquella. San Miguel é a rainha dos Açores. Abunda nas mais sublimes vistas de montanhas e nos extraordinarios phenomenos naturaes, cansados por erupções vulcanicas dos tempos primitivos, e que são caracteristicos de todas as ilhas d'este archipelago. O governo portuguez tem mandado construir ao longo das costas, e no interior d'esta e das outras ilhas, estradas, que pelo seu excellente plano quer cortando os flancos das montanhas quer lançando se attrevidamente em pontes atravez de ravinas, não receiam confronto com as melhores do mundo. A 36 milhas (3) de Ponta Delgada está o formoso e encantador «Valle das Furnas» outr'ora craterà de um terrivel vulcão, cuja erupção em 1630, derramou a maior consternação na ilha, envolvendo a com suas cinzas n'uma escuridão egypciaca. Este valle, em que agora está situada a pittoresca aldeia das Furnas é celebre pelas suas admiraveis aguas mineraes e medicinaes, frias e quentes, com especialida de as ultimas, ferreas e sulphureas, erguendo se ferventes da terra em vastas caldeiras de rocha. O governo construiu aqui um bellissimo estabelecimento com banheiras de marmore, perto das nascentes cujas aguas recebe, contendo cerca de 60 quartos de banho e de vestir,francos a toda a gente. E' aqui a grande estação balnearea de bom tom para os ricos e nobres da ilha, e tambem de Lisboa, no verão. Aqui estão edificadas residencias palacianas, cercadas de extensos parques povoados de arvores florestaes, e arbustos e flores de todos os climas. Ao longo de caminhos contornantes, grutas, fontes, lagos, e murmu rantes regatos e catadupas toruam o valle um paraizo para namorados. As deslumbrantes vistas de mar e paizagens que se obteem do alto das montanhas circumvisinhas do valle são tudo o que ha de mais delicioso, e grandemente contribuem para realçar os encantos d'este sitio. Ranchos de senhoras e cavalheiros a miudo as vão gozar, subindo ao cume dos picos, em alegres cavalgadas de jumentos, um dos melhores passatempos do logar. O passeio de carruagem mais em voga, e tambem mais agradavel, é o da longa estrada que leva da aldeia das Furnas à antiga Villa da Povoação, na parte sueste da ilha a 8 milhas de distancia. A estrada tem 40 pés de largura; é aberta nas rochas, flanqueando o Pico do Passo (4) de 3040 (5) pés de altura, que gradualmente vae su (1) De S. Lourenço diz Navarrete nas Notas ao «Roteiro». (4) Do Canario. O do Passo é outro junto ao Pico da Vara. |