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fizeram quando sua magestade fidelissima partiu para o Brazil. Temos direito de esperar a sua realisação, se não suppozermos, das pessoas que mais nos cumpre respeitar, um abandono completo do que d'ellas exigem a consciencia e a honra. Nesse caso, que Deus afaste, nunca poderá recair responsabilidade alguma sobre v. ex.; e atrevo me a dizer que tambem nós não a teremos, porque em nossa esphera diffe-/ rente temos feito e continuaremos a fazer sacrificios e esforços de toda a natureza para cumprir exemplarmente os nossos arduos deveres, e para manifestar a verdade a sua magestade o imperador e ás diversas potencias da Europa.

Sirva-se v. ex. d'estas noções a fim de tranquillisar um pouco mais O seu espirito, fazendo d'ellas o uso prudente que lhe parecer para com a guarnição e os habitantes d'essa ilha.

Terminarei, dizendo que v. ex., se não recebeu mais frequentemente officios ou cartas minhas, proveiu esta falta, que aliás sei foi regularmente supprida pelo secretario d'esta embaixada, da minha ausencia, que fui obrigado a prolongar por espaço de dois mezes para tratar de urgentes objectos de serviço.

Deus guarde a v. ex. Londres, 15 de dezembro de 1829.-Ill.mo e ex.mo sr. conde de Villa Flor. Marquez de Palmella.

ENSAIO

SOBRE A BIBLIOGRAPHIA GEOLOGICA DOS

AÇORES

Os Açores formam innegavelmente uma das zonas vulcanicas da Europa que fornece maior numero d'elementos ás investigações do geologo.

Bastaria a variedade de typos petrographicos que compõe a massa possante das suas rochas eruptivas para só de per si constituir um largo campo d'observações importantes.

Mas a tanto accresce ainda o estudo das respectivas revoluções geologicas que na serie dos tempos post-miocenicos foram lentamente imprimindo ao seu solo as modificações orographicas d'onde lhe resultou o relevo actual.

Taes revoluções apenas no curto periodo de quatro seculos produziram, como se sabe, um dos mais vastos capitulos da Historia Natural açoriana. A ruptura de velhas crateras no cimo das montanhas, expandindo torrentes de lavas incandescentes ou projectando aus ares mas sas consideraveis de pomes e cinzas; o apparecimento d'ilhas novas. surgindo do seio do occeano para logo se submergirem destruidas pe las vagas (ilha Sabrina; erupções defronte dos Ginetes em 1638 etc.): a irrupção de jorros geyserianos d'aguas thermo-mineraes; as trepidações e abalos sismicos originando por vezes grandes deslocações do solo (subversão de Villa Franca do Campo) são, entre outros, episodios dignos de longo exame.

E' certo que as manifestações d'esta natureza não são privativas do vulcanismo açoriano; é certo tambem que as erupções classicas do Vesuvio, do Etna e do archipelago grego possuem uma historia, senão mais interessante, certamente mais provida d'observações antigas, recolhidas desde Plinio, Strabão e Diodoro de Sicilia até hoje; todavia, sob um ponto de vista unicamente theoretico, póde dizer-se, sem receio, que os Açores prestam singulares subsidios para a resolução das questões que no começo d'este seculo Leopoldo de Buch propoz acerca da Orogenia volcanica.

Recordemos aqui de passagem que foi a theoria das crateras de levantamento (cratères de soulèvement) de este afamado sabio que provocou a maior parte das explorações geologicas em Santorino e nas demais i lhas do Archipelago. (1)

(1) F. Fouqué- Santorin et ses eruptions - Introduction.

Finalmente, é mister observar que as formações de calcareos miocenicos encontrados no Figueiral e em outros pontos de St. Maria,comquanto já fossem em parte estudadas por Hartung, Reiss e Karl Mayer (2) offerecem ainda assim thema a uteis indagações tanto ácerca da sua edade e relações stratigraphicas, como tambem acerca dos fosseis que contem-fosseis que na opinião de Broun (3) Mayer apresentam grandes affinidades com os que se encontram no terciacio das bacias de Bordeus e Vienne (França).

Interessantes, pois, a tantos respeitos, e, sobre tudo situados, para assim dizer, nas immediações da Europa, e a meio caminho do NovoMundo parecia natural que os Açores tivessem, de ha muito, fixado a attenção dos geologos.

Não succedeu, comtudo, assim.

Já as Canarias e a Reunião tinham sido minuciosamente exploradas por homens taes como Leopoldo de Buch, Bory de S.' Vicent etc. para não citar senão os mais eminentes, quando ainda a geologia açoriana, por esta fatalidade das cousas portuguezas, era apenas estudada muito defficientemente por um ou outro viajante, naturalistas d'occa siac, que, quando muito, se limitavam apenas a visitar uma ou duas ilhas, percorrendo em cada uma pouquissimas localidades.

A este proposito recordà Webster que o autor da History of the Azores não chegára a sair de Ponta Delgada, tendo-se aliás demorado alguns dias n'esta cidade!

N'estas condições, não é maravilha que a geologia dos Açores fosse por muitos annos um acervo de dados phantasticos sem caracter algum scientifico.

E' á ilha de S. Miguel que cabe o primeiro papel nas manifestações vulcanicas do archipelago açoriano. Uma serie d'importantes erupções apoz o seu reconhecimento e colonisação, imprimiu-lhe um facies peculiar que a torna a mais interessante do archipelago aos olhos do naturalista. Este facto dá a rasão da sua maior bibliographia geologica.

Antes de se haver applicado o microscopio ao estudo das rochas crystallinas, foi ella objecto de varias publicações, algumas das quaes, embora imperfeitas, ainda hoje se leem proveitosamente. D'um modo geral podemos desde já indicar que todas ellas se occupam mais da Orographia da ilha que propriamente da sua constituição geognos

(2) Paleontologische Verhaltnisse - Systematisches Verzeichiss der fossilen Reste von Madeira, Porto Santo und Santa Maria.

Vem inserta na obra de Hartung. (Bibliotheca Açoriana n.o 2362.) (3) Vide n.o 2029 da citada Bibliotheca.

tica interior.

Isto tem, comtudo, uma explicação.

O exame das rochas sempre difficil tornava se eutão muitas vezes impraticavel para não dizermos impossivel. Eram os caracteres microscopicos dos mineraes componentes os unicos a que se attendia; mas estes caracteres, qualquer que seja a sua utilidade, não bastam de per si só para dar uma idea nitida da natureza das rochas, e muito menos das rochas volcanicas que, como se sabe, apresentam n’uma mesma cathegoria systematica grande variedade d'aspectos. Para as rochas aphaniticas, isto é, para as rochas em que os mineraes pelo seu pequeno tamanho formam uma massa apparentemente homogene-para essas, não havia meio d'exame nem determinação possivel. Assim, comprehende-se quão graves e frequentes seriam as inexactidões commettidas pelos primeiros geologos que procuraram determi nar as rochas de S. Miguel.

O termo lavas, applicado aos typos indeterminaveis, mais oppostos era o unico recurso que lhes restava para encubrir as suas duvidas e as suas hesitações, quando as questões d'especificação petrographica se apresentavam sob uma forma mais complicada. Em algumas das publicações a que nos referimos, o abuso d'este termo generico, d'uma significação tão vaga como variavel d'observador para observador, torna impossivel na maioria dos casos, a interpretação dos tex

tos.

Os processos d'analyse de que a petrographia hoje dispõe, vieram pôr termo a taes incertezas, revelando com toda a precisão não só a estructura e composição chimico-mineralogica das rochas de S. Miguel, como tambem as suas relações physiographicas com os productos d'outros focos vulcanicos. Foi tambem assim que se logrou descobrir muitos typos que não tinham sido reconhecidos pelos primeiros investigadores e que, portanto, não figuravam ainda nos quadros das classificações petrographicas actuaes.

Para procedermos com ordein n'este ensaio destinado a inventariar a bibliographia geologica da ilha de S. Miguel, começaremos por nos occupar d'um modo succinto dos escriptos que dizem directainente respeito aos phenomenos de geologia dynamica, taes como as erupções e os tremores de terra; passaremos em seguida à analyse das publicações que tem apparecido desde 1821, onde se trata sobretudo de questões d'orographia, e finalmente examinaremos os trabalhos mais importantes realisados n'estes ultimos annos que se relacionam mais directamente com a petrographia micographica.

ARCHIVO DOS AÇORES

Os elementos para a Historia do vulcanismo michaelense acham-se dispersos por um grande numero de relações, de chronicas e de noticias pertencentes, na quasi totalidade, aos seculos XVI e XVII (4). Seria muito para desejar que alguem se abalançasse a systematisar todos esses elementos em harmonia com os modernos progressos da Sismologia, da sciencia dos volcões e da Mateorologia endogena, á semelhança do que para Italia fizeram Gatta, Fouqué para Sautorino e von Lasaulx para o Auvergne.

E' especialmente nas chronicas insulanas que vamos encontrar descriptos com as minuciosidades da epocha todos esses cataclysmos pavorosos que por tantos annos trouxeram em alarme os habitantes da ilha, roubando-lhes muitas vidas ou destruindo as suas fazendas; é ainda alli que vamos encontrar compendiados, entre bastos preconceitos, as explicações e os conhecimentos d'então relativos aquellas manifestações de actividade endogenica.

O Dr. Gaspar Fructoso, que é indubitavelmente o mais eslarecido de todos os chronistas michaelenses, é tambem aquelle que mais amplamente nos relata as revoluções geologicas succedidas até o seu tempo. Na descripção, por exemplo, da erupção do Pico do Sapateiro (1563), ha um trabalho d'observação directa, interessantissimo e tanto mais util quanto é certo que se torna possivel descobrir os productos d'essa erupção-facto da mais reconhecida importancia para se estabelecer a chronologia das differentes camadas de lavas que se tem expandido sobre o solo n'aquella região da ilha e para permittir a comparação d'essas lavas entre si, sob o ponto de vista da sua composição e da sua estructura.

Sendo tão poucas as conclusões geraes a que a Petrographia tem chegado a respeito da edade relativa das rochas volcanicas, tornam-se valiosissimas n'este ponto, as observações legadas pelo Dr. Fructuoso.

Uma outra circumstancia, porem, torna para nós ainda mais particularmente interessante a chronica d'este veneravel sacerdote: é que Dr. Fructuoso foi o primeiro que procurou classificar as rochas de S. Miguel tomando em consideração a sua côr e densidade.

Os grupos por elle estabelecidos (5) são os seguintes:
Pedras vermelhas, leves, queimadas.

Biscoitos pedra crespa, tosca, preta e mais pesada que a precedente etc.

Pedra cinzenta, sob forma de veios debaixo da terra etc.

-

Pedra branca tirando para cinzento ou azul claro etc.
Tufo pedra côr de boi, etc.

(4) D'estes escriptos muitos foram colligidos e publicados no Archivo dos ACores sob a epigraphe commum de Volcanismo nos Açores (Vol. I p. 264 e seg.to) (5) Archivo dos Açores Vol. I pag. 240.

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