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Depois de tantos e baldados exforços, durante seculos, foi finalmente votada a lei de 9 de agosto de 18€0, que authorisou o governo a mandar construir a desejada doca de Ponta Delgada.

A inauguração das obras realisou-se em 30 de setembro de 1861, começando os trabalhos preparatorios em 1 de janeiro de 1862: sendo lançada a 1.a pedra no quebra mar em 28 de outubro de 1862, tem continuado os trabalhos, sem interrupção até ao presente anno de 1891.

MEMORIA

sobre a possibilidade, e utilidade da construcção d'um Molhe em Ponta Delgada

Fazendo a Junta Geral d'este Districto um honrado reclamo a todos os Michaelenses, para que sobre a construcção do ha tanto desejado Molhe expendessem seus pensamentos, não pudemos comnosco que não acceitassemos o convite, com quanto nos minguassem os cabedaes na proporção que nos subejarão os desejos.

Despresando o Conselho d'Horacio, metemos hombros a este trabalho, que em quatro partes dividimos dando na primeira um rapido e succinto bosqueijo das diversas anteriores tentativas para a feitura de um Molhe nesta Ilha: discorrendo na segunda sobre a sua utilidade en geral, e sobre seus particulares respeitos que nos favorecem; passa do na terceira a expôr os meios que se nos figurão mais proprios para se elle pôr em execução: analysando emfim na quarta, os lucros que do Molhe se podem derivar.

E tão sentida é a necessidade d'um Porto na Ilha de S. Miguel que ainda bem não tenhão decorrido oitenta annos apoz seu descobrimento, e povoação, e já seus moradores a D. Manoel dirigião supplicas para que olhasse pelo Porto d'esta sua Ilha. Outros negocios abafarão este, e nenhum deferimento se seguio á representação. Quando D. João quarto empunhava o sceptro da Monarchia, mais solicito, ou mis excitado pelas instancias de nossos maiores enviou Lazaro de Lima a inteirar-se da necessidade e justiça de seus pedidos: roborou Lazaro de Lima o que os Michaelenses requerião de seu Monarcha; nullos porem forão os resultados; porque nunca mais de tal materia se curou depois. Mandou D. Pedro segundo ao Conde da Ribeira Grande, e ao Provedor de Sua Real Fazenda, que sobre o mesmo assum. pto dessein o seu parecer. Favoravel, e como pedia a justiça foi elle; mas tambem esquecimento foi o despacho que então conseguirão nossos antepassados.

Pela volta de 1766, mandou o reformador D. José tirar informa ções à cerca do Molhe; mas a falta d'este continuou como d'antes. Passarão se dez annos, e por mandado de D. Maria Primeira fomos visitados pelo Espanhol Tofino, e por Smerkell; tornando a ser baldadas todas as consultas, que em nosso pró derão estes á Soberana.

Em 1796 nenhuma resposta teve uma Memoria, que sobre este assumpto enviou ao Governo o nosso compatriota J: Pacheco.

Pelo anno de 1809 propozerão os Inglezes ao Governo Portuguez

a construcção d'um Porto n'esta Ilha, e a expensas suas. Escusou-se o Governo com dizer que por sua conta o hia construir e nesse intuito aqui aportou e aqui trabalhou por mais d'um anno o Hydraulico Jo sé Theresio Micheloty-Mas quaes forão os resultados? nem os Inglezes, nem o Governo fizerão o porto; e nós continuamos a clamar de balde. Sobre o mesmo objecto trabalhou o Engenheiro Francisco Borges da Silva, enviando desde 1812 tres successivas, e infructiferas Memorias ao Principe Regente. Ainda em 1819 houve uma humilde supplica ao Soberano, cujo effeito foi nenhum.

Este breve esboço dos nossos tentames, todos elles burlados. fallão mais claro que longos discursos, Nem nos deteremos mais em infructuosas considerações sobre o que de justiça nos é devido. Vejamos a utilidade d'um Porto n'esta ilha.

São os Portos seguros e espaçosos o asylo dos Navegantes, e como que um balsamo, que os faz deslembrar das angustias, e trabalhos das passadas viagens, tornando-se por isso base primaria de todo o extenso, e interessante Commercio. Assim o entenderão as nações an tigas, e modernas que se não pouparão a fadigas e despezas, para, e mendando os defeitos da natureza, construirem asylos de segurança ás embarcações, vehiculos de suas riquezas. E não fallando por ora das antigas, não deixaremos de mencionar os surgidouros de Portsmouth, Milford Haven Corh, Plymouth, Bristol, Yarmouth, Boston. Sunderland, Leith, Dundee, Aberdeen, Kingstorrn etecetera, de que com razão se jacta a Inglaterra. As outras Nações da Europa, proporcion Im ente ao seu Commercio, os tem em maior ou menor numero. A França vangloria-se do seu Cherbourg, de seu Toulon, do seu Brest e seu Dun kerk. A Russia tem o seu Cronstadt. A Suecia Landscrona, assim como a Hollanda tem o seu Helder. e a Hespanha, não fallande do grande Porto de Cadiz, tem o seu Eerrol, sua Barcellona e Carthage

ва.

Sobre as vantagens, com que a natureza adorna um ancoradouro. outras ha que à situação Geographica são devidas: e estas ultimas em muito excedem e multiplicão as primeiras. Portos commodos n'um desses pontos, em que mutuamente se tocão linhas de prolongadas e numerosas navegações, sobrepnjão immensamente em preço, a outros, que revestidos de todos os recursos para a Navegação, demorão em pontos de Commercio parcial. Constantinopla abrange todo o Commercio e a Navegação d'alem do Mar--Negro. O cabo da Boa-Esperança toda a communicação da India, Chine, Australasia: sendo essa a razão porque tanto subirão, e talvez jamais desção do auge a que se elevarão.

O Porto de Ponta Delgada, unico e o melhor de S. Miguel, é ex posto a ventos fortes, que reinão em quasi todo o Inverno. Ora se o artificio humano o igualar aos bons portos, tanto naturaes como artificiaes, como não deverão multiplicar-se essas vantagens pelas de nos

sa posição?

Demora esta Ilha aos 3748/ de Latitude Septemptrional e 25 24' de Longitude Occidental do Merediano de Greenwich: duzentas e dez Legoas distante do Continente Europeo; duzentas e sessenta do Continente Africano; quinhentas e seis do Americano; dando assim um laço a tão remotos Climas. Uma estancia deste genero na immensidade do Oceano, excede todo o apreço que della possamos fazer. Mas desprezados os melhoramentos, que em nosso Porto devèramos ter feito, ahi esperdiçamos esse inexgolavel manancial de riquezas. Se todavia ainda que tarde, repararmos agora o mal passado, toda a incalenlavel Navegação da Asia, da America, da Oceania e de parte da Africa, a qual, obrigada das regulares monções frequentes em nossas alturas, nas diversas epochas de hida e volta para aquellas partes, toma forçosamente esta paragem, virá de certo recobrar forças, no refugio de nossas praias, reparar ahi os damnos soffridos, e tomar of necessario alento para o fim de suas viagens, por dilatadas que sejão, Navios que de volta da India e Nova-Hollanda passão à nossa vista exhauridos de viveres, d'aparelhos e ás vezes a ponto de se perderem, não pousarião na verdura de nossa Ilha em busca de remedio ou salvação? certo; e a commodidade e a segurança de longas navegações farião necessaria a escalla em S. Miguel.

Tudo o que até aqui levamos dito era proveito para o Mundo Maritimo. Relevava outro sim vaticinar agora os immensamente proficuos resultados, que d'um Porto fluirião para a Agricultura, para o commercio, e para diversos ramos da industria Michaelense. Tarefa seria essa insuperavel a nossas forças. Todavia não deixaremos de notar que a Agricultura, acordada de seu torpor, pullularia com exuberante prosperidade, e remover-se-hião todos os estorvos que ao Commercio da laranja vemos opporem-se frequentemente.

Tão espraiados temos vindo n'este discurso; porque da convicção da justiça, necessidade, e utilidade de qualquer negocio pende a empenhada porfia, com que se esse negocio prosegue até seu conseguimento. Mas para escusar prolixas provas de verdades tão palmares, entremos na dilucidação dos melhores meios de por por obra o anhelado Porto.

Deveriamos por ventura disentir n'este logar- qual o projecto mais adequado para a construcção do referido Porto? Mas questão seria essa para quem possuisse outros estudos que nós não temos. Guiados contudo pela boa Logica; attendendo ao acertado concluir, e longas vistas da Carta, que Mr. Rennie endereçon à Commissão, que o encarregára de expor o seu parecer no assumpto de que tratamos; não podemos deixar de nos convencer, e de dar por concedido; que o seu Plano é o unico elegivel; com tanto que o possamos realisar.

Reduzida a questão a saber se o podemos executar, ahi nos alargaremos, e notaremos que, excedendo os proventos do Molhe, como na

ultima parte demonstraremos, os gastos e juros da sua construcção, cifra-se a unica difficuldade para o conseguir em arranjar adiantada uma somma, que indefectivelmente será solvida.

Por quatro modos pensamos nós que se poderia conseguir a sua factura, attendendo sempre a que se necessita um consideravel desembolço: Primo, por uma Companhia Nacional; Secundo, por uma dito Estrangeira: Tercio, por uma Companhia Nacional Estrangeira: Quarto por um emprestimo contrahido pela nossa Ilha, para que pago elle, a ella revertão seus rendimentos.

O Primeiro modo apresenta o notavel inconveniente de se não poder compor a companhia; porque; Primo, não havendo sobejo numerario ao giro commercial, e havendo uma despeza real que muitis simo o excederia; ninguem se arriscaria a ser accionista d'uma Sociedade, a qual seria impossivel ter em numerario os fuudos necessarios; e Secundo, por que sendo o Commercio de nossa Ilha bastante lucroso para vender quinze a vinte por cento, ninguem quer desembolçar dinheiro, que n'um giro, por si proprio dirigido, dá um interesse tal; e Tercio, porque, tendo o geral dos proprietarios consideraveis encargos, e despezas proprias, não the sobrão rendimentos, e se alguns sobrão, empregando-os em melhoramentos e plantações de pomares de laranja, ou de quaesquer outros predios, não querem pôr em duvida seus lucros; nem despojar-se do recreio, que da sua cultura lhes provem; para entrarem como Accionistas n'uma Companhia. Devendo aecrescentar-se que, sendo ainda amortecido o espirito de associação, é raro encontrar quem se mova de sua situação estacionaria, ainda para ganhar grossos cabedaes. Todos estes reaes obstaculos á organisação d'uma Companhia Nacional a tornão quasi impossivel, ou só provavel, se todos os corações se convencessem, que da não construcção do MoThe proviria uma immediata quebra de nossa fortuna. Estes tropeços. que em particular offerece a Composição d'uma Companhia Nacional e outros, que em geral são inherentes a todas as Companhias, e que logo apresentaremos, nos fazem reservar para ultim) recurso esta maneira de effectuar construcção d un porto, e passar á segunda.

O segundo plano para levar a effeito a Doca é uma Companhia estrangeira, e essa não teria difficuldade alguma em se organisar, por que bem conhecem elles seu proveito; mas o Governo não quereria pela causa de serem estrangeiros, conceder-lhes prerogativas, com que se privasse do interesse, que fazendo para o futuro uma Doca, pode tirar; nem aos Michaelenses agradaria inuito uma obra assim construida; por que todos os interesses da Doca irião repartir-se em terras aTheias, e do seu seio sairião essas sommas.

E tanto para a Companhia Estrangeira, com para a Nacional. ha este grandissimo inconveniente, a saber: como ellas não entrão em empreza de tal genero por philantropia ou amor da patria, e só com a mira nos lucros, não se contentão unicamente com o pagamento e ju

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