E dando hum espantoso, e grande brado, Eu sou aquelle occulto, e grande Cabo 66 66 Neste meu nunca visto Promontorio, "Fui dos Filhos asperrimos da Terra "Amores da alta Esposa de Peleo Só por amar das agoas a Princeza. (*) José Agostinho de Macedo em um Folheto em que pertende provar, que o Episodio do Adamastor é o maior entre os despropositos de Luiz de Camões, diz, que o nome do Gigante é furtadò da Gigantomachia de Clandiano, e nisto diz uma falsidade, e um desproposito, porque o Gigante, de que falla Claudiano, chama-se Damastor não Adamastor. Sævus que Damastor, Ad depellendos jaculum dum quæreret hostes, e "E consigo trará formosa Dama, Que amor por gran mercê lhe haverá dado. Verão morrer com fome os filhos charos Verão os Cafres asperos, e avaros "Tirar á linda Dama os seus vestidos, "Os cristalinos membros, e preclaros "A' calma, ao frio, ao Sol verão despidos: 66 Depois de haver pisado longamente "C'os delicados pés a aréa ardente. «E verão mais os olhos, que escaparem "Da formosa, e miserrima prisão. D. Leonor de Sá não espirou nos braços de seu marido Manoel de Sousa de Sepulveda; mas o Poeta com o excellente tino, de que era dotado, não duvidou em alterar a historia neste ponto para tornar mais pathetica a sua narração; é isto o que Guilherme Schlegel chama transportar a verdade historica para a verosimilhança da poesia. Compare-se este quadro tão terno com o que traçou Côrte Real no seu Poema, e se verá a grande differença, que se dá entre o grande Pocta, e aquelle que o deseja ser. Mais hia por diante o Monstro horrendo Dizendo nossos fados quando alçado Lhe disse eu Quem hes tu, que esse estupendo Corpo, certo me tem meravilhado. A bocca, os olhos negros retorcendo, E dando hum espantoso, e grande brado, Eu sou aquelle occulto, e grande Cabo 66 “Neste meu nunca visto Promontorio, 66 Fui dos Filhos asperrimos da Terra "Amores da alta Esposa de Peleo "Que inda não senti cousa que mais queira. (*) José Agostinho de Macedo em um Folheto em que pertende provar, que o Episodio do Adamastor é o maior entre os despropositos de Luiz de Camões, diz, que o nome do Gigante é furtado da Gigantomachia de Clandiano, e nisto diz uma falsidade, e um desproposito, porque o Gigante, de que falla Claudiano, chama-se Damastor, e não Adamastor. Sævus que Damastor, Ad depellendos jaculum dum quæreret hostes, >> Como fosse impossivel alcança-la » De medo a Deosa então por mim lhe falla, » Respondeu: «Qual será o amor bastante » Com tudo por livrarmos o Occeano Que he grande dos amantes a cegueira! "Encheram-me com grandes abundanças "O peito de desejos, e esperanças. » O engano estava na equivoca intelligencia das palavras de Thetis, que tanto podem significar « buscarei maneira com que evile o damno á custa da minha honra » como « buscarei maneira de evitar o damno por modo que me faça honra» mas geralmente estas phrases de sentido doble só tem bom logar na Poesia Comica, e desdizem da dignidade do Poema Heroico. Quanto ao verso Eu que cahir não pude neste engano, deve advertir-se que a phrase cahir no engano, que hoje significa deixar enganar-se, vale aqui descobrir o engano, que era a accepção que tinha no seculo do Poeta, como póde vêr-se de muitos exemplos dos Classicos. « Já nescio, já da guerra desistindo, Oh! que não sei de nojo como o conte; "Que, crendo ter nos braços quem amaya, "Abraçado me achei com duro monte « D'aspero matto, de espessura brava. Oh Nympha a mais formosa do Occeano, "Já que a minha presença não te agrada, "Ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada! 66 "Heram já neste tempo meus Irmãos "Converteu-se-me a carne em terra dura, "Em penedos os ossos se fizeram ; "Os Deoses, e por mais dobradas magoas, Assim contava, e com medonho choro Idéa, estylo, linguagem, invenção, affectos, colorido, |