Palacio da Quinta da Boa-Vista desde 1808 até 1831 (Vistas da obra de Debret, «Voyage pittoresque au Brésil») terra e da França sobre os meios que lhe poderiam fornecer para retirar-se do Brasil, entregou ás duas horas da madrugada um documento ao major Miguel de Frias, dizendo-lhe : « Aqui tem a minha abdicação. Estimarei que sejam felizes. Eu retiro-me para a Europa e deixo um paiz que sempre amei, e que amo ainda ». А abdicação era assim concebida : << Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei mui voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado filho o Sr. D. Pedro de Alcantara. - Boa Vista, 7 de Abril de 1831.» Ao romper do dia, embarcando no caes da Igrejinha, em São Christovam, transportou-se para bordo da nau ingleza Warspite, levando em sua companhia a imperatriz, a rainha d. Maria II, o duque de Leuchtenberg, o duque e a duqueza de Loulé, e a comitiva dos criados da sua casa. Extraordinaria surpreza causou a abdicação de d. Pedro I, annunciada ás 4 1/2 horas da manhã do dia 7 de Abril de 1831, no Campo da Acclamação... Alcançavam os revolucionarios muito mais do que haviam pedido (134): em vez da demissão do ministerio, dava o imperador a sua propria demissão, abdicando, e esperando que o paiz, satisfeito com essa prova de magnanimidade da sua parte, amparasse a infancia de d. Pedro de Alcantara e se lhe conservasse fiel. Para tutor de seus filhos, que aqui deixava (d. Pedro II e as princezas d. Januaria, d. Francisca e d. Paula), nomeou d. Pedro I ao venerando José Bonifacio de Andrada c (124).... A maior decepção de todas, porém, foi a da Nação. A abdicação tinha-a profundamente surprehendido, quando ella esperava do imperador somente uma mudança de ministerio ou antes o abandono de uma camarilha que lhe era suspeita. Os espiritos não se tinham preparado para a solução que não anteviam, e como sempre acontece com os movimentos que tomam o paiz de surpreza e vão além do que se desejava, as esperanças tornaram-se excessivas, os espiritos abalados pelo choque exaltaram-se, e deu-se então este facto que não é nada singular nas revoluções: os mais ardentes revolucionarios tiveram que voltar, a toda pressão esob a inspiração do momento, a machina para traz e para impedi-la de precipitar-se com a velocidade adquirida. Foi esse o papel de Evaristo sustentando a todo transe a monarchia constitucional contra os seus alliados da vespera... Foi essa posição do partido moderado que governou de 1831 а 1837 е que salvou a sociedade da ruina é certo, mas da ruina que elle mesmo the preparou. » JoAquriu NABUCO - Um Estadista do Imperio.) Silva. «Foi, escreve Pereira da Silva, uma prova espantosa de ingratidão que achou na hora da desgraça, que, dentre todos aquelles que havia beneficiado e enriquecido, se visse obrigado a aproveitar-se do ancião que, em outro tempo, havia tractado com tanta crueldade. >>> No dia 13 seguiram para a Europa, na fragata ingleza Volage, d. Pedro I, a imperatriz e o duque de Leuchtenberg; e, na fragata franceza La Seine, d. Maria II, com o duque e a duqueza de Loulé. Inopinadamente terminou o reinado de d. Pedro I. Digno é certamente o primeiro imperador da admiração e respeito dos Brasileiros, não só por haver promovido com todos os exforços a independencia do Brasil, como por haver dado prova incontestavel de lealdade politica e patriotico desprendimento quando, abdicando a corôa de Portugal, demonstrou de modo cabal não cogitar absolutamente em de novo subordinar ao reino lusitano o paiz de que fizera um imperio e de que, com tanto enthusiasmo, fôra declarado Defensor Perpetuo - << por acclamação unanime dos povos ». Reconhecida a independencia do Imperio, tractaram os Brasileiros da erecção de uma estatua em homenagem ao principe que, em tão gloriosa phase, presidira aos destinos do paiz. A marcha que então seguiu a politica, os acontecimentos occorridos em Abril de 1831, e o estado sedicioso e anormal da nação depois d'esse anno de crise e transformação social, fizeram adormecer a generosa idéa de perpetuar-se no bronze a memoria do benemerito fundador do Imperio. Só a 30 de Março de 1862 foi inaugurado o primoroso monumento da praça da Constituição (hoje Tiradentes). Entre as muitas poesias que naquelle dia appareceram, houve uma do dr. José Bonifacio de Andrada e Silva, da qual destacamos os seguintes versos: << Que vida foi a tua, heróe valente, Teu nome é um sec'lo - não precisa um hymno. ........ Durante esse agitadissimo periodo historico, - que abrange cerca de dez annos, em cujo decurso se deram eventos politicos de transcendente influencia na vida nacional, os quaes determinaram actos da maxima relevancia para a estabilidade das instituições do nascente Imperio, pouco augmento se notou na cidade do Rio de Janeiro. A frequencia dos factos imprevistos, a rapidez com que se succediam os acontecimentos sensacionaes, não puderam dar ensejo a d. Pedro I de proseguir na grande obra - com tanto brilho emprehendida pelo conde de Bobadella, com tão louvavel empenho continuada pelos vice-reis, e ampliada com verdadeira dedicação por d. João VI, - de desenvolver e embellezar a capital do Brasil. Estava esse nobre commetimento reservado a seu augusto filho d. Pedro II, que não cessou, no correr do seu extenso, laborioso e proficou reinado, de preoccupar-se com o progresso da cidade do Rio de Janeiro, dotando-a de muitos dos bellos e uteis monumentos que hoje admiramos. E, ainda neste particular, imitando a seu illustre avô, attrahiu a esta capital distinctos profissionaes e artistas celebres, que aqui deixaram eloquentes testimunhos dos seus notaveis trabalhos ou dos seus sabios ensinamentos. |