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principal de Santa Cruz, aonde os Anjos se ouviam cantar Matinas. A segunda parecco mais pequena do que devia ser, venera-se no altar-mór da igreja de Santa Justa, em Coimbra, com fama de milagrosa. A terceira, que mais agradou, esteve na igreja de S. João das Donas, aonde fallou á Virgem Santa Feliciana, e cujos ossos, com a imagem do Crucifixo se trasladaram á Sacristia de Santa Cruz, e se guardam no altar do Santissimo Sacramento da Igreja do Mosteiro, aos pés do mesmo Crucifixo.

O rei de Castella não se oppoz ao titulo de rei de Portugal, quando o soube, ainda que depois o pretendeo sugeitar ás côrtes. O Papa Innocencio II o reconheceo no anno de 1142, Alexandre III o confirmou. Nas côrtes de Lamego se estabeleceram logo as leis fundamentaes da monarchia. Quiz o Rei, que seus estados fossem tributarios á Nossa Senhora e a S. Pedro, não como feudo, mas com voluntario tributo e esmola, que mandava dar cada anno a Claravel para o altar, e culto de Nossa Senhora e á Igreja do Principe dos Apostolos em Roma. Em Alcobaça achou frei Bernardo de Brito, o juramento do Rei, feito em 1152, anno do nascimento de Christo, não da era do Cezar, posto que esta fosse mais usada então em Portugal. Frei Lourenço do Espirito, deo esta escriptura em Madrid ao Rei Filippe II, ficando traslados authenticos em Alcobaça, Santa Cruz e outras partes.

Agradecido o novo Rei de Portugal ao Rei dos Céos, deo seu patrocinio aos doze varões Apostolicos fundadores do Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, dos quaes S. Theotonio primeiro Prior, era Director do Rei, que ás suas orações attribuia as continuas victorias sobre os Mouros. Tomou o grande Affonso o babito de Conego III e Irmão da Ordem: largava a espada vencedora na porta do Mosteiro, assistia dentro ao côro com

sobrepeliz e murça, entoando louvores divinos. Fundou este incomparavel monarcha cento e cincoenta grandes Templos, casas de oração e Mosteiros, assim de Conegos Regulares, como de Monges de S. Bento e de S. Bernardo, sendo Alcobaça o mais rico da Ordem Cisterciente. Fundou a ordem militar de Aviz, que existe, e de Ala, que acabou com o tempo, dedicada á S. Miguel Arcanjo, que vio com braço, aza e espada, prostando diante de si milhares de Mouros, para entrar victorioso o Rei. Dotou muitas cathedraes e obras pias. A primeira praça que tomou aos Mouros na Extremadura, Leiria, reedificou logo em terra deserta, e deo a S. Theotonio, que ahi mandou fundar seminario de seus Conegos Regulares, Missionarios, que instruissem na fé e virtude os povos da provincia. Vieram de improviso os Mouros, queimaram na igreja os Santos Conegos, levaram captivos os moradores da praça, em cuja satisfação S. Theotonio mandou seu sobrinho D. João com os caseiros do Mos→ teiro de Santa Cruz, que sem armas avistando Arronches, praça fortissima dos Mouros, por milagre a renderam. Restaurou o Monarcha Portuguez Leiria, e continuou as conquistas.

Com igual facilidade rendeo os Mouros em Torres Novas. Entrou victorioso em Mafra, Cintra e outras praças. Para conquistar Lisboa o ajudou a esquadra de quatorze mil soldados Allemães, Inglezes e Francezes, que acaso ahi chegaram, com animo de militar contra os Turcos na Palestina. Dominado aquelle emporio do mundo, passou Affonso em triumpho o Tejo, rendeo Alcacere, Serpa, Moura, e as mais praças até Beja. Com sessenta lanças, tomada Cezimbra, descobria campo, quando se avistou com o Rei Mouro de Badajoz, a quem seguiam sessenta mil infantes, quatro mil cavallos: foram acommettidos e

rendidos ao instante por Affonso, sendo nelle o mesmo vêr e vencer.

Casou o Rei no anno de 1146 com a Rainha D· Mafalda, filha de Amadeo III, Conde de Saboia e Mauriana. Della teve os seguintes filhos: D. Henrique e D. João, que morreram meninos. D. Sancho, que herdou o o reino. D. Urraca, infanta de Portugal, Rainha de Leão, que por ser parenta se apartou do Rei D. Fernando II. D. Mafalda, que morreo estando justa para casar com o Rei de Aragão. D. Thereza, casada com Filippe, Conde de Flandes, e segunda vez com Eudo III, Duque de Borgonha, e D. Sancha. Fóra do matrimonio, teve este primeiro Rei de Portugal quatro filhos: Fernando Affonso, alferes-mór do Reino; D. Affonso, grão-mestre da ordem de S. João Baptista, que de Jerusalem passou a Rhodes e depois a Malta; D. Thereza e D. Urraca. O defeito que nesta, e em outras faltas Deos permittio no grande Affonso, bem fica riscado pela penitencia heroica, em que exemplarmente perseverou até a morte. Sua esposa mandou fazer a ponte de Canavezes, com um Hospital junto ao rio Tamega: edificou o Mosteiro da Costa em Guimarães de Conegos Regulares, que depois se deo á ordem de S. Jeronymo falleceo com opinião de Santa a 4 de Novembro anno de 1157; seu corpo se depositou em Santa Cruz de Coimbra.

Lançados os Mouros de Santarem, Obidos, Alemquer, Palmela, Evora, fez trasladar o Rei do Promontorio Sacro no Algarve o corpo de S. Vicente, Diacono Martyr a Lisboa, cujo Padroeiro é. Entrou Affonso em triumpho pelo Reino de Leão, para se despicar da má visinhança, que lhe havia feito seu genro, Rei d'aquelle Reino. Tomou aos Mouros Badajoz; seguido pelo genro D. Fernando, quiz apparecer Affonso, mas ao sabir da

cidade quebrou uma perna em o ferrolho. Preso dos Leonezes, lhes deixou as terras, que occupára naquelle Reino, aonde prometteo ir ás côrtes, montando a cavallo, o que nunca mais fez para manter sua real palavra, andando depois em carruagem. Sabendo Albojaque, Rei Mouro de Sevilha do infeliz successo do grande Affonso, veio com formidavel exercito sitiar Santarem: foi ao instante destroçado, antes de chegar soccorro dos Leonezes, que desejavam ajudar ao Rei de Portugal, esquecidas as desavenças passadas. Chegou á Sevilha o exercito dos Portuguezes, em que o Rei mandava seu filho o Principe D. Sancho por general, aonde desde a entrada dos Mouros em Hespanha, se não haviam visto armas Christas. Estas em breve espaço voltaram triumphantes de todo o poder dos barbaros, arrastadas suas bandeiras. Chegando a Porto de Mós, o Rei Mouro de Valença, ahi foi destroçado pelo valoroso D. Fuas Roupinho, que achou a imagem de Nossa Senhora de Nazareth, na Pederneira. O qual desfez tambem duas armadas inimigas, alimpou de Corsarios as costas do mar de Portugal, seguindo as ordens do Santo Rei.

Foi mais illustre o triumpho do grande Affonso, o anno precedente á sua morte. Veio Miramolim de Marrocos, e outros treze Reis, sitiar Santarem, aonde estava D. Sancho, ficando em Coimbra o invencivel pai. Corre este á noticia, de cuja vinda pasmam os barbaros, atacados pelo Rei de uma parte, da outra pelo Principe. Morre na batalha Miramolim e outros Reis, ficam muitas legoas juncadas de cadaveres de Mouros, ricos os Portuguezes com os despojos, seus Soberanos gloriosos com as victorias.

Disposto com os mais ternos sentimentos de piedade, recebidos os Sacramentos com exemplar devoção, entre

gou Affonso, em Coimbra sua alma a Deos, a 6 de Dezembro, anno de 1185, com 76 annos de idade, 57 de governo, e de Rei 46. Foi sepultado no seu Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, aonde tem culto immemorial de Santo, pendentes em seu tumulo insignias de milagres. Guarda-se a espada do Rei como preciosa Reliquia. Até depois de morto foi visto com seu filho D. Sancho ajudar ao Rei D. João I, a tomar aos Mouros Ceuta em Africa. Em Alcobaça, com paramentos de festa fazem-se as exequias ao Rei Santo, e como a Santo Bemaventurado, lhe rezavam a Antifona, e a oração, que anda escripta nos livros do côro, e a traz a obra Monarchia Lusitana, parte 3, liv. 11, cap. 39..

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Juramento que deo Affonso Henrique, ácerca da visão que vio.

EU DOM AFFONSO Rei de Portugal, Filho do illustre Conde Dom Henrique, Neto do grande Rei Dem Affonso: sendo presente vós o Bispo de Braga, e o Bispo de Coimbra,e o Theotonio, e os mais Magnates, Officioes, e Vassallos do meu Reino: Juro por esta Cruz de metal, e por este livro dos Santissimos Evangelhos, em que ponho a mão, que eu misero peccador com estes meos olhos indignos vi a Deos Nosso Senhor JESUS CHRISTO, posto em uma Cruz, nesta fórma. Eu estava com meu exercito nas terras de Alemtejo, no Campo de Ourique, para pelejar com Ismael, e outros quatro Reis dos Mouros, que tinham com. sigo infinitos milhares de homens. E a minha gente, atemorisada com esta multidão, estava enfadada e muito triste; em tanto, que muitos diziam ser temeridade começar a guerra. E eu triste por aquillo, que ouvia, co

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