Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

Este penhor de minha castidade
Te venho apresentar, amado esposo;
Se esposa foi de pouca honestidade,
Força a rendeu, que não gosto aleivoso.
Nunca te adulterou minha vontade,
Se adultero traidor libidinoso

Te offendeu, me afrontou levando a palma
Mancha é do corpo, que não toca n'alma.

Quiz tua boa fortuna que o matasse,
Vingando minha afronta e teu respeito,
Porque se póde haver quem te afrontasse,
Não haja quem se gabe de o ter feito.
Se imaginas que o fiz porque corasse
Comtigo por tal feito meu defeito

Aqui verás, que a mim propria, homicida,
Pela honra salvar, desprezo a vida.

Disse, e mettendo a mão a um diamantino
E secreto punhal, que esconde em breve
Quatro vezes no peito alabastrino,
De rubis matizando a branca neve,
Que o braço varonil tão repentino
Foi, que já quando Eurilo lh'o deteve
Privada tinha, ó tragica agonia!
De vida a Ormia, a todos de alegria.

Sobem gritos ao céo, á terra descem
Lagrimas, como quando chove e venta,
Que de pesar as primas endoudecem,
Matar-se Eurilo com o punhal intenta;
Toma-lh'o Vandermilo, sem que cessem
Os desatinos, com que se lamenta
O' morte (disse) para que me guardas?
Se has de vir, tarde ou cedo, porque tardas?

Ai sem vintura, pois tão pouca tenho
Que nem morrer me deixa a desventura!
Aonde irei? se a tal estado venho,
Que ir-me não deixa a morte a sepultura!
Sem falta que de magoas me mantenho,
Pois vivo, ó vida chea de amargura,
Acaba já, ó morte, por que aguardas?
Se has de vir tarde ou cedo, porque tardas?

Desmaiou-se com tanto sentimento,
Que de todos por morto foi julgado,
Mas, conhececdo que inda tinha alento,
A outro quarto em braço, foi passado;
E com grã pompa, mais geral lamento,
Foi o sanguino corpo acompanhado

A um soberbo sepulchro, em que o puzeram,
E por fóra taes letras lhe escrveram.

A' Ormia Lusitana aqui te inclina,
Peregrino, que aqui tens Timocléa,
Dido, Camilla, Aspasia, Proserpina,
Timyres, Thysbe, Harpalyce, Panthéa,
Evadne, Europa, Helena, Clelia, Dina,
Andromada, Zenobia, Pasithéa,
Judith, Lucrecia, de Betulia, e Roma,
Pandora em summa a palina a todas toma.

(Mascarenhas).

Quinto Serviliano Cepio, autor de tão infame covardia, foi coagido a fazer pazes com os Portuguezes da Numidia, que, posto que estavam sem chefe, davam-lhe grandes cuidados.

Um homem de muito merito, e que era general dos exercitos romanos, sendo desterrado para fugir das perseguições e tyrannias de Sylla, como asylo passou-se á

Hespanha, e procurou acolhimento entre os Portuguezes, e os aliciando, tomou as armas contra Roma e marchou sobre ella: este homem insigne foi Q. Sertorius, natural de Nursea. Nos primeiros annos, sob as ordens do grande Mario, combateo os Cymbrios e Teutoneos. Quando Mario e Cinna entraram em Roma, assassinando os seus inimigos, Sertorio manifestou a sua magoa por ver morrer seus compatriotas. Isto bastou, para lhe adquirir odio perpetuo.

O senado Romano, sabendo que Sertorio á frente dos Portuguezes vinha contra elle, mandou quatro exercitos, commandados, além de outros, por Pompeo e Metello, que foram desbaratados. Caminhando sempre na perseguição contra Roma, Perpena, official seu e Romano, invejoso das glorias e valor de Sertorio, em um banquete que o illustre general deo em sua casa (70 annos antes do REDEMPTOR), teve a baixeza de se conspirar contra elle, e á falsa fé mandar a Antonio, outro official assassinal-o.

Este acontecimento estranho, praticado em Evora (1), feito na pessoa de um homem respeitavel por sua idade avançada e gloriosos feitos, foi geralmente estranhado e sentido pelos soldados de Sertorio e povo Lusitano. Perpena não logrou por muito tempo o fructo da sua cubiça, por que cahindo nas mãos de Pompêo, foi por este morto.

Diz a historia que Espartaco com outros escravos rebeldes, moveram a guerra que Pompeo e Cassio haviam supprimido. Cicero sendo consul se conspira contra Lucullo e Catilina. Pompeo, alliado de Cezar, por inveja se separou; e derrotado na Pharsalia, fica Cezar se

(1) Vêde as antiguidades de Evora por A. de Rezende, D. M. de Vasconcellos, G. Estaço, e M. S. de Faria.

nhor do Imperio Romano. Portugal por todo esse tempo soffreo o pesado jugo dos dictadores e consules de Roma, por que sem os seus famosos capitães, apenas aqui ou ali acommette a seus oppressores. C. Pisão, legado Romano, governou a Hespanha, Galiza e Portugal. Sob este tempo soffreo a Peninsula um medonho terremoto. Os Portuguezes, depois de Pisão, rebelando-se contra o pretor Q. Calidio, este os venceo.

C. Julio Cezar, entrando na Lusitania, 59 annos antes do nascimento de JESUS CHRISTO, sugeitou os seus natuturaes, e mandou por seu turno governal-a Publio Lentulo, Metello Nepos, Cicilio Dentato, Cicilio Metello Nepos. Por este tempo são mortos na Africa Sipião, Catão, e o rei Juba, emulo de Cezar, que depois foi morto por Bruto e Cassio, 44 annos antes de JESUS CHRISTO.

Quando Augusto, já feito Imperador, veio á Hespanha, os Portuguezes não lhe quizeram obedecer, porém reduzindo-os por meio de affagos, conseguio fazer da Hespanha e de Portugal provincia Romana, introduzindo logo ahi os costumes, leis, ritos, colonias e linguagem Romana. Só ficou, affirma a historia, a lingua vasquense nas provincias Vascongadas, onde Biscáio Octavio começou a governar como Imperador, e morreu 13 annos depois da vinda de JESUS CHRISTO.

Octaviano, dous annos antes de JESUS CHRISTO, dividio a Lusitania em quatro comarcas, ou chancellarias, que foram Merida, Béja, Santarem e Braga. Affirma-se que os Portuguezes adoravam a Octavio, e lhe erigiram templos a ser reverenciado, como fosse em Lisboa, Evora, Mertola e Santarém.

Octavio, ou antes Augusto, comprehendendo estar a felicidade desses povos na paz, julgou conveniente sustental-a e garantil-a, e assim os manteve em quanto viveo.

Estado de Portugal até a entrada dos Godos.

Sujeita ao imperio Romano a Peninsula, diz um compillador, e como provincias suas a Hespanha e a Lusitania, e sendo governadas por Pretores ou Consules, subindo ao throno Constantino o Grande, e indo a combater Maxencio, um dos seus inimigos, viu uma cruz no céo, com esta inscripção ER TOUTRO VIXA in hoc signo vinces esta visão o fez converter ao christianismo, e alcançar uma facil victoria. Constantino, assim compenetrado, cuidou em favorecer o christianismo e a defendel-o por toda a parte; instituio na Lusitania um vigario, sujeito ao prefeito do Pretorio, que então residia em França.

[ocr errors]

De então começou o governo dos Condes em Portugal (1). Havia, diz a historia, no entanto alguns regulos ou reis sujeitos ao imperio. Depois de Augusto governaram Portugal: Tiberio, que entrou para o poder 14 annos depois da vinda de JESUS CHRISTO, e governou 22 e meio. Era este homem de pessimas qualidades, sendo cruel, vingativo, desconfiado, e assassino de seu sobrinho. Caligula, filho do Germanico, cruel incestuoso deshonrando suas irmãs, deu a dignidade de consul a seu cavallo; amou a Herodes estando preso em Roma, com a liberdade deu-lhe uma cadeia de ouro e o reino da Galiléa. Reinou 3 annos e 10 mezes, e 41 depois de JESUS CHRISTO.

Entrou, diz a historia a luz do Evangelho em Portugal, trazida pelo Apostolo Santo Iago Maior, que fundou a Igreja primaz de Braga, com o titulo de Santa Maria Virgem Mãi de Deos. Deixou a S. Pedro Rates por seu primeiro bispo, e a Torquato por bispo de Citanea, junto do rio Ave, entre Braga e Guimarães.

-(1) O titulo de Conde se derivou de Cometes ma Manoel Severino de Faria (Noticias de Portugal).

segundo affir

« VorigeDoorgaan »