notas se acham promptos para a impressão; porém tal é actualmente a indifferença que encontram em Inglaterra obras d'esta natureza, que não me animo a publicar o que tenho concluido. Receio achar-me sobrecarregado com a despeza de uma publicação infructuosa, o que de modo algum me convem. Assim faço pausa, e não continuarei com a outra metade, sem ter a certeza de que a obra me não fica em casa. Até tenho pensado em mandar a minha versão para a America, para ali ser publicada.» A morte inesperada do auctor atalhou de todo um trabalho tão importante, e privou a litteratura ingleza de um fiel interprete das bellezas do nosso Epico. Prefiro aqui apresentar, como mais competente que o meu, o juizo de um compatriota sobre o merito d'esta versão; é este o seguinte, e que foi lançado no jornal semanal inglez o Athenæum de 23 de Abril de 1822. «A traducção de Mr. Quillinan é obra digna de toda a recommendação; e mesmo assim incompleta como ė, e sem embargo de mostrar quer nå rima, quer na dicção que lhe não lançou por cima a ultima demão o auctor, eleva-se tão perto do nivel de uma boa traducção, que é muito para lamentar que a vida lhe não chegasse para dar á litteratura ingleza um dos seus disederata, uma fiel e fluente versão do Epico portuguez. Mr. Quillinan, seguindo a marcha de seu original, e obedecendo á primeira condição de bcm traductor, que consiste em reproduzir a propriedade original, maneja as difficuldades da oitava rima em inglez com vigor, e não sem graça;, conservando em geral a substancia da phrase de Camões com a devida fidelidade, e vertendo os melhores passos do poema com certo calor proprio de um animo culto e inflammado na admiração de uma nobre obra. Finalmente esta amostra, como agora se publica, quasi que justifica a persuasão de que Mr. Quillinan, se lhe durasse a vida, teria dado uns Lusiadas inglezes modelo. >> A litteratura portugueza é ainda crédora ao sr. Ed. Quillinan de um artigo sobre o nosso comico Gil Vicente, inserido no Quarterly Review de Agosto de 1846; eu lhe devo parte dos esclarecimentos e juizo critico sobre alguns dos escriptores inglezes que se incluem n'este meu catalogo, e o delicado mimo de alguns fragmentos autographos da sua, n'aquelle tempo, inedita traducção dos Lusiadas (Specimens of a Translation of the Lusiad by Edward Quillinan of Rydal, 1851), que apresenta algumas variantes e notas. Eduardo Quillinan nasceu no Porto, no anno de 1791, e ahi foi creado: em 1808, quando rompeu a guerra peninsular, entrou no serviço militar, e n'elle continuou até o anno de 1821. Combinava as occupações litterarias com os trabalhos da vida militar, e extremamente susceptivel, mais de uma vez teve que brandir a espada ou dar ao gatilho de uma pistola em duello, contra alguns criticos que fizeram censuras ás suas obras. Em 1817 casou com a segunda filha de Sir Egerton Brydges, e em 1824 largou o serviço militar. Tendo por esta occasião feito conhecimento pessoal com o celebre poeta inglez Wordsworth, que anteriormente admirava, se deu de todo á convivencia com outros auctores, e á composição das suas obras, distinguindo-se pelas suas disputas litterarias, principalmente em uma resposta dada a Mr. Walter Savage Lander, por occasião de uma satyra d'este auctor excentrico. Tendo ficado viuvo em 1822, passou a segundas nupcias no anno de 1841 com a filha unica de seu antigo amigo Wordsworth, a qual falleceu no anno de 1847, sobrevivendo-lhe ainda quatro annos, e vindo a fallecer no anno de 1851. Mr. Quillinan era catholico por nascimento. As suas poesias, dispersas em varias publicações, saíram reunidas em um só volume, e acompanhadas de uma memoria de Mr. William Johnston. Sobre Mr. Quillinan veja-se o Athenæum (jornal inglez hebdomadario) de 22 de Abril de 1853; e o artigo do sr. J. H. da Cunha Rivara, Eduardo Quillinan e a sua traducção ingleza dos Lusiadas de Camões, inserido no Panorama, III serie, vol. I n.o 23, fl. 177. MR. HARRIS (1844) A TRANSLATION OF THE EPISODE OF IGNEZ DE CASTRO. PORTO, TYP. DA REVISTA. UM FOLHETO EM 8.o 1844 Saiu anonymo, porém é escripto por Mr. Harris negociante britannico residente na cidade do Porto. SR. PETER WICHE K.TM (1664) THE LIFE OF DOM JOHN DE CASTRO THE FOURTH VICE-ROY OF INDIA. BY JACINTO FREIRE DE ANDRADA AND BY SR. PETER WICHE K., ETC. LONDON, 1664 É dedicada esta traducção á Rainha da Gran-Bretanha D. Catharina: o auctor esteve em Portugal, porquanto na dedicatoria diz que o seu primeiro emprego n'este paiz fôra o transmittir na lingua ingleza aos seus compatriotas a gloria e as grandezas da corôa de Portugal. Á dedicatoria segue-se um prefacio, que consta de uma noticia sobre a historia portugueza até á restauração de D. João IV, elogiando os portuguezes pela maneira com que souberam sustentar a sua independencia, á custa de grandes esforços e combates sobre inimigos poderosos. N'este prefacio, alludindo á apparição de Ourique, cita os versos de Camões a quem chama o Virgilio portuguez: «... from that action also the Virgil of Portugal Luiz de Camões (in the 53 and 54 stanzas of his third Canto) derives the bearing of the Arms of the Kingdom, wich are five small shields Azure, in a great shield Argent, left plain by his father.» E logo depois juntando a traducção d'estas estancias por Fanshaw, chama a esta versão excellente. «Wich the Right Honourable Sir Richard Fanshaw, late Embassador to Portugal, in his excellent Translation of that Heroique Poem thus renders.» Traz pelo corpo da obra estancias do nosso Poeta com a competente traducção de Fanshaw, servindo de notas ao texto. J. MILTON (1667) Milton devia ter conhecimento dos Lusiadas, não só pela traducção de Fanshaw que saíu (1655) tres annos antes da morte de Cromwell, mas ainda no original, pois conhecia a lingua hespanhola como consta dos seguintes versos feitos por Antonio Francini, Florentino, ao poeta na sua viagem á Italia: Nel altera Babelle Por te il parlar confuse Giove in vano, Ch' ode oltr' alla Anglia il tuo piu degno idioma, Alem d'isto um poeta elogiado pelo Tasso, de quem Milton era admirador, e de quem devia haver noticia não só pelas suas obras, mas por intervenção do Manso, amigo do poeta Italiano, com quem communicou na sua estada em Italia, devia despertar a curiosidade de ler o Epico portuguez. Estes dois versos do Lycidas de Milton: Fame is the spur that the clear spirit doth'raise pareceram ao sr. Quillinan expressar exactamente o sentimento de Camões nos dois ultimos versos da est. xcii do canto v: Quem valorosas obras exercita, Louvor alheio muito o esperta, e incita. e com os mesmos versos do Epico inglez traduziu o sr. Quillinan os do portuguez. RICHARD TWISS ESQ. F. R. S. (1775) TRAVELS THROUG PORTUGAL AND SPAIN IN 1772 AND 1773 BY RICHARD TWISS ESQ. F. R. S., WITH COPPER-PLATES AND AN APPENDIX. LONDON, 1775: APPENDIX N.o V. SOME ACCOUNT OF THE SPANISH AND PORTUGUESE LITTERATURE. De folhas 375 a 386 trata de Camões e dos seus Lusiadas, servindo-se em parte das noticias, e traducção de Voltaire, e da de Fanshaw; falla na traducção de Mickle que se esperava com brevidade. R.DO P.E MIGUEL DALLY (1782) No prologo da edição das obras de Camões, de Thomás de Aquino, de 1782, vem uma analyse da traducção ingleza de Julio Mickle. O padre Miguel Dally era irlandez de nação, e muito versado na lingua grega; devia pertencer ao collegio dos Missionarios Irlandezes de Lisboa; foi um dos subscriptores para a publicação dos Lusiadas vertidos por Mickle. HUGO BLAIR (1783) HUGO BLAIR, LECTURES ON RHETORIC AND BELLES-LETTRES. Citado por Mickle e José Agostinho de Macedo como refutando o emprego do maravilhoso dos Lusiadas. Porém se o padre Macedo tivesse citado, como observa Mr. Quillinan, por integra a Blair, ver-se-ía que apesar d'esta critica, louva encarecidamente Camões. A sua critica porém em Inglaterra tem muito pouco peso, e a sua auctoridade póde dizer-se que é de nenhum valor. Hugo Blair era natural da Escocia, e foi professor de rhetorica. JAMES MURPHY (1795) TRAVELS IN PORTUGAL IN THE YEARS 1789 AND 1790. LONDON, 1795. 4.0 Descrevendo a sepultura de D. Pedro I e D. Ignez de Castro em Alcobaça traz a traducção do Episodio de D. Ignez de Castro de Camões. Ha uma traducção franceza d'esta obra por Lallemand, París 1797; a traducção do Episodio de que se serve é a de La-Harpe. GEORGE STAUNTONS (1792-94) STAUNTONS (GEORGE) AUTHENTIC ACCOUNT OF LORD MACARTNEY'S EMBASSY FROM THE KING OF GREAT BRITAIN TO THE EMPEROR OF CHINA IN THE YEARS 1792-94. LONDON. 2 VOL. Faz menção da gruta de Macau e traz uma gravura d'ella; parece-me que é a primeira vez que se reproduz esta estancia hoje tão celebrada. SIR WM. OUSELEY (1793) Uma estampa da gruta de Macau, com uma descripção d'esta seguida por um soneto, feita por Eyles Irwim, Esquire, 1793. LORD BYRON (1806) O satyrico Lord Byron, que com tão ridicula critica tratou os portuguezes, tinha em grande conta Camões como poeta. Conhecia no ori |