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Tal foi o resultado d'esta tentativa, que extractâmos dos proprios documentos autographos das duas Commissões, com que com toda a amabilidade fomos espontaneamente brindado pelo sr. Francisco Xavier Rodrigues, da Villa de Torres Novas, sabendo que nos occupavamos de indagações sobre o nosso Epico.

Parece que por esta occasião se havia encommendado uma Missa de Requiem ao compositor Domingos Bomtempo, que não sei se chegou a ser composta.

No anno de 1836 fez o sr. Antonio Feliciano de Castilho a proposta que atraz deixamos dita na Vida do Poeta, como no artigo que diz respeito a este escriptor, proposta que mais de uma vez renovou. A estreiteza a que somos obrigados a cingir-nos, por ir longo este nosso trabalho, não nos permitte trasladar a noticia minuciosa d'estas suas propostas; porém o publico as poderá ler na nota do seu Camões, Estudo Historico Poetico, e que corre desde pag. 224 com o titulo de Honras Posthumas.

Em 1854 propoz o sr. Ayres de Sá Nogueira na Camara Municipal, sendo Vereador, que na praça de Belem, outr'ora Rastello, se erigisse uma estatua a Camões. Appareceram logo depois alguns alvitres sobre o mesmo assumpto pela imprensa. No jornal intitulado Imprensa e Lei, n.o 85, de 23 de Novembro, appareceu esta lembrança: «Que na parte do Passeio publico que está por arranjar (cujo passeio passaria a chamar-se passeio de Camões) se fizesse um grande lago onde se collocasse a estatua de Camões no acto de salvar a nado o seu Poema dos Lusiadas. Outro alvitre apresentou o jornal intitulado Bibliotheca Lusitana, Archivo Administrativo e Industrial, n.o 3, de 5 de Fevereiro de 1855, e consistia este em collocar-se o monumento no local da sua sepultura, e sendo este á imitação da gruta de Macau, devendo no Convento estabelecer-se, com o titulo de Parnazo Lusitano, uma bibliotheca de Poetas nacionaes e estrangeiros, com um gabinete reservado onde se recolhessem todas as edições dos Lusiadas.

Tornou-se tambem a nomear uma Commissão, por Portaria de 30 de Dezembro de 1854, de que tive a honra de fazer parte, presidida pelo sr. Visconde de Monção, para renovar a exploração dos restos mortaes do Poeta; dos resultados que pôde obter a Commissão será o publico informado pelo Relatorio que se deve imprimir.

Em vereação da Camara Municipal de 20 de Setembro de 1858, 0 sr. Julio Maximo de Oliveira Pimentel reiterou a proposta para que no Cemiterio dos Prazeres se reservasse um espaço conveniente, para n'elle

se collocarem exclusivamente os jazigos dos homens celebres em letras e sciencias, e que tivessem feito serviços assignalados á humanidade. Esta proposta se póde ler no Jornal do Municipio de Lisboa.

Em 2 de Agosto de 1857 se propoz no Gremio Litterario Portugues do Rio de Janeiro, que se levantasse uma estatua a Camões em Lisboa; nomeou-se logo uma Commissão para apresentar o seu projecto para se levar á execução, a qual apresentou o seu programma em 8 do mesmo mez, e foi communicado ao Jornal do Commercio pelo Presidente e Secretario do mesmo Gremio, os srs. Francisco Gonçalves Braga e Antonio Xavier Rodrigues Pinto; este programma e conta foram inseridos no mesmo jornal n.o 1:221 (14 de Outubro de 1857).

Ultimamente está nomeada uma Commissão para levar a effeito este tantas vezes meditado pensamento nacional, e que parece vae ser auxiliada pela vontade omnipotente do bello sexo: é de esperar que ajudada a Commissão de tão poderoso e benefico auxilio, e animada da mais efficaz vontade e solicitude, encontre na sympathia nacional de todos os seus concidadãos tão constantemente manifestada, para o Cantor das nossas glorias, os elementos necessarios para ver coroado o resultado do nobre empenho que pesa sobre a sua responsabilidade.

EDIÇÕES

1572

OS LUSIADAS DE LUIS DE CAMÕES. COM PRIVILEGIO REAL. IMPRESSOS EM LISBOA, COM LICENÇA DA SANCTA INQUISIÇÃO, & DO ORDINARIO: EM CASA DE ANTONIO GOÇALVEZ IMPRESSOR. 1572. 4 VOL. 4.o -1572. SEGUNDA EDICÃO. 4 VOL. 4.°

Ignora-se se Camões imprimiu por sua conta o seu Poema, ou cedeu os direitos de auctor ao editor; comtudo no privilegio para a impressão salva-se esta eventualidade, prohibindo-se a contrafacção feita em dominios estrangeiros, e o introduzi-la no reino, a sua impressão ou venda em Portugal e o levar-se à India sem licença do Poeta, ou da pessoa que para isso seu poder tivesse. Os poucos meios pecuniarios do Poeta dão todo o logar a conjecturar, que elle fizesse tal ou qual concerto com o impressor que foi Antonio Gonçalves, em cuja officina se imprimiu em um volume de 4." de 186 pag. numeradas de um só lado, menos as duas primeiras que o não são.

O titulo está mettido em uma tarja que representa um portico, e na parte superior ao centro tem um pelicano. Na segunda pagina vem o Privilegio dado ao Poeta pelo espaço de dez annos, e datado de 24 de Setembro de 1574, o qual deixámos publicado na Vida do Poeta, Documento D, e no reverso d'esta pagina a informação do Censor e Qualificador do Santo Officio, o padre Fr. Bartholomeu Ferreira. Na pagina em frente principiam os Lusiadas; os titulos dos Cantos, a primeira regra de cada um d'elles, e a inscripção do alto das paginas são em letra romana, e o resto em italico.

Aindaque à primeira vista estas duas edições pareçam identicas, com

tudo encontram se differenças sensiveis quando se examinam, e consistem estas principalmente, em que na segunda edição, que assim chamaremos aquella aonde abundam menos erros, a tarja do rosto está collocada em sentido contrario á da primeira, com o pelicano voltado para o lado esquerdo; os caracteres do titulo, o privilegio, são menos grossos; a letra da informação do Qualificador é irmã da do texto, e a da assignatura é mais pequena, o que succede pelo contrario na outra edição.

Alem d'isto a orthographia das duas edições é differente uma da outra, postoque nenhuma siga um systema constante. Emquanto ao texto ha mudança de palavras, e emendas no exemplar que viu o Academico Sebastião Trigoso, ao qual se póde consultar mais largamente sobre esta edição, e as quatro subsequentes; encontrou a pag. 40 a transposição de seis oitavas, a saber: em logar das estancias 21, 22, 23, 24, 25 e 26, a estancia 57 e as cinco seguintes e vice versa, estando comtudo os reclamos dos fins das paginas, exactos; no exemplar que temos á vista da primeira edição que pertence ao sr. J. F. Minhava, não se dá esta alteração.

Sobre estas duas edições tem-se suscitado uma questão, isto é, se a segunda foi realmente uma nova edição que saiu no mesmo anno, ou contrafacção da primeira. Eu estou persuadido que foi uma contrafacção d'esta, porém ordenada pelo mesmo auctor ou editor, retratada quanto foi possivel da edição Princeps, com os mesmos typos para se não distinguirem d'aquella, que saiu no mesmo anno de 1572; podia tambem sair em epocha differente á da data marcada no frontispicio. O que deu logar a esta subtileza foi porventura a necessidade de evitar as delongas das licenças e censuras, ou alguma caballa que se levantasse contra a integral reimpressão do Poema sem as amputações que soffreu na edição seguinte (1584). Exemplos d'estas edições do mesmo anno, parecendo identicas no typo, mas com variantes no texto, se encontram de outros auctores, e os motivos podiam ser os mesmos. Na edição das Rimas do nosso Poeta, de 1607, se encontra a mesma circumstancia de apparente identidade typographica, porém variantes como faremos observar quando tratarmos d'esta edição.

Faremos aqui menção de tres exemplares d'esta edição, que offerecem alguma curiosidade: O primeiro, o que pertenceu ao Mosteiro de S. Bento da Saude, e que hoje está em poder de Sua Magestade o Imperador do Brazil, e que tem por baixo do privilegio escripto em letra antiga: Luiz de Camões seu Dono- este livro está cheio de notas,

mas conforme a opinião do sr. Trigoso, que o viu, não pertencem a Camões. O segundo, o que pertence a Lord Holland, e tem a nota de Frei José Indio relativa aos ultimos momentos de Camões. O terceiro, o que pertencia ao Conde de Vimioso, o qual, segundo a asserção de Thimoteo Lecussan Verdier, que d'elle tirou copia, estava cheio de emendas da propria letra de Camões.

1584

OS LUSIADAS DE LUIS DE CAMÕES, AGORA DE NOVO IMPRESSO, COM ALGÚAS ANNOTAÇOENS DE DIVERSOS AUTORES. COM LICENÇA DO SUPREMO CONSELHO DA SANCTA & GERAL INQUISIÇÃO, POR MANOEL DE LYRA. EM LISBOA, ANNO DE 1584

Na pagina do rosto, entre o titulo e a declaração das licenças, está uma vinheta representando Apollo tocando em uma rabeca, e aos seus pés um leão e uma corça, que parecem domados pela musica; e em torno da figura de Apollo esta inscripção: Non vi sed ingenio et

arte.

Na pagina em seguimento ao titulo ṣe lê esta licença: «Vi por mandado do Illustrissimo e Reverendissimo Senhor Arcebispo de Lisboa, Inquisidor Geral destes Reynos, os Lusiadas de Luis de Camões, com algumas glosas, o qual livro asi emmendado como agora vay não tem cousa contra a fee & bons costumes, e póde-se imprimir. E o autor mostrou nelle muito engenho & erudição. -Fr Bertholameu Ferreira.» Logo abaixo na mesma pagina, a licença para a impressão assignada (15 de Maio de 1584) por Manuel de Quadros, Paulo Affonso e Jorge Serrão. Segue-se no verso da pagina: «Tavoada pella ordem A, Be C de todas as cousas que o autor tocou neste livro, sobre que se fez annotação. »>

No fim d'esta Tavoada repete-se a mesma vinheta, mas mais ricamente ornada. Em cima tem uma Diana reclinada, com um brazeiro com chammas, e uma inscripção que não pude ler; por baixo da Diana: Musis sacrum- aos lados duas figuras de guerreiros, um que monta uma aguia, e outro tem aos pés uma figura; em baixo as duas iniciaes do livreiro M. L.

Começa o Poema depois em caracteres romanos, e as notas, as quaes estam juntas á oitava a que se referem, são em italico; cada canto é precedido de um argumento em prosa, e comprehende o Poema todo 280 pag.

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