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Acabado o Poema, vem umas novas annotações com este titulo: «Seguem-se algumas annotaçoens, tocantes à Mathematica, & Geographia, importantes para os que navegão nas partes da India. As quaes se deixarão para este logar, pera melhor entendimento de tudo.»

Estas notas são especialmente tocantes ao canto x, e n'ellas se explica a allegoria do Poeta, á vista do systema astronomico seguido no seu tempo, e se faz a descripção de algumas terras de que no dito canto se faz menção.

Termina: «Impresso com licença do Supremo Conselho da Sancta Inquisição, por Manoel de Lyra. Anno de 1584.» Postoque pareça em 12.o, é em 8.o tendo as paginas numeradas de um só lado. Em uma nota á oitava 97 do canto 1, se faz allusão ao soneto de Camões, que começa:

Apollo e as nove Musas descantando, etc.

Em outra a oitava 135 do canto ш descreve a Fonte dos Amores em Coimbra: «Ha em Coimbra uma fonte que nasce ao pé do Vale de Inferno, que vem debaixo de uma lapa muito fresca e suave, e rega a horta de Santa Clara, e d'ahi passa pelos Paços da Rainha, onde esteve D. Ignez de Castro, e porque costumava D. Pedro ir recrear-se com D. Ignez, aonde nascia esta fonte, chamou-se fonte dos amores, o qual nome ainda hoje dura.»

É o primeiro que faz menção do naufragio do Poeta, mas de uma maneira muito laconica, commentando a oitava 80 do canto vi; e na annotação a oitava 81 do canto x, se esforça em desculpar o Poeta, explicando o motivo por que deu o nome de Deuses aos Deuses mythologicos.

Esta edição tem sido geralmente attribuida aos padres Jesuitas; Faria e Sousa é o primeiro que o diz em uma nota ao canto x, pag. 546. Por muito tempo estive persuadido que esta edição não fôra preparada pelos Padres; porém a imparcialidade que tenho procurado conservar durante este trabalho, me fez vacillar e ficar perplexo na opinião que formava á vista de um exame maduro que fiz sobre a mesma edição, e que deu em resultado encontrar na Mesa geral do Conselho do Santo Officio, como Deputado, o padre Jorge Serrão, Provincial dos jesuitas, que assigna a licença.

N'esta edição se fizeram mutilações e alterações consideraveis, tanto politicas como religiosas, parte das quaes o leitor poderá ver na Memoria Academica. Exame critico das cinco primeiras edições dos Lusia

das de S. F. M. Trigoso, inserta nas Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa e mais circumstanciadamente na mesma edição.

É notavel que o Censor d'esta edição é o mesmo Fr. Bartholomeu Ferreira, que o fôra da de 1572, e a quem a litteratura portugueza deve possuir hoje os Lusiadas sem deturpações. Não me quero persuadir que as absurdas alterações que se fizeram ao Poema fossem obra d'este religioso, e bem pelo contrario que sobre elle actuava força superior, que o constrangeu a subscrever a estas emendas de mão estranha, pois n'esta censura usa de termos differentes dos que usára na primeira edição, dizendo que vira esta por ordem do Arcebispo Inquisidor, o qual espontaneamente, ou influenciado, obrigou a estas emendas.

Não sabemos quem fosse o auctor das notas ou commentario, o qual consta que servira na India, e devia ter sido camarada e conhecido de Camões, pois em uma nota diz que se achára no cêrco de Chaul, e em outra que conhecêra o padre Gonçalo da Silveira, amigo do nosso Poeta, e o qual falleceu martyrisado na Africa no anno de 1560.

O auctor mostra conhecimentos, não só das linguas, entrando a grega, em Humanidades, Cosmographia e Astronomia; se o texto foi ridiculamente alterado e mutilado, as notas não são tão más como se tem pretendido, apesar da celebre nota dos Piscos, que deu nome a esta edição. A descripção das terras d'Africa e da Asia, quando commenta os logares onde Camões se refere a ellas, é feita com miudeza e com a côr de verdade do viajante que as visitou. Esta edição é mui rara; talvez depois da de 1591, a menos vulgar. O exemplar de que me sirvo pertence ao sr. João Felix Alves de Minhava, grande admirador do nosso Poeta, e o qual com a mais generosa amabilidade poz à minha disposição os exemplares que possue das obras de Camões.

1587

PRIMEIRA PARTE DOS AUTOS E COMEDIAS PORTUGUEZAS, POR ANTONIO PRESTES E POR LUIS DE CAMOENS, E POR OUTROS AUTHORES PORTUGUEZES CUJOS NOMES VÃO NO PRINCIPIO DE SUAS OBRAS. AGORA NOVAMENTE JUNTOS E EMENDADOS NESTA 4a IMPRESSÃO POR AFFONSO LOPES, MOCO DA CAPELA DE S. MAG. E Á SUA CUSTA. IMPRESSOS COM LICENÇA E PREVILEGIO REAL. POR ANDRE LOBATO IMPRESSOR DE LIVROS. ANNO 1587 4.°

Os dois Autos de Camões que vem n'esta collecção são o de Filodemo e o dos Amphitrioens, o primeiro a pag. 14, e o segundo a pag. 86.

Consta de doze autos dos quaes, alem dos dois do nosso Poeta, sete são de Antonio Prestes, e os outros tres, um de Henrique Lopes, outro de Jorge Pinto, e outro de Jeronymo Ribeiro. D'este rarissimo livro vem uma descripção na Revista Litteraria que se publicava no Porto: Antonio Maria de Sousa Lobo, auctor do Emparedado, teve um exemplar, que hoje possue seu filho. No catalogo de livros do livreiro Orcel vem apontado um exemplar; D. Francisco da Camara Manuel de Mello possuia outro; porém não se deve encontrar nos seus livros, porque me disse tê-lo emprestado ao Arcebispo de Lacedemonia: soube depois que o reclamára, por morte d'este, o Doutor Loureiro.

1591

OS LUSIADAS DE LUIS DE CAMÕES. AGORA DE NOVO IMPRESSOS

COM ALGUMAS ANNOTACOENS DE DIVERSOS AUTORES.

POR MANOEL DE LYRA, EM LISBOA ANNO 1591

É uma copia da edição de 1584, com a unica differença que as notas se cortaram consideravelmente, e foram postas depois do Poema, o que não acontece áquella edição. É mui rara: o sr. Conselheiro Joaquim José da Costa de Macedo possue um exemplar. A nota dos Piscos foi cortada n'esta edição.

1595

RHYTMAS DE LUIS DE CAMÕES DIVIDIDAS EM CINCO PARTES, DIRIGIDAS AO MUITO ILLUSTRE SR. D. GONÇALO COUTINHO. IMPRESSAS COM LICENÇA DO SUPREMO CONCELHO DA GERAL INQUISIÇÃO E ORDINARIO, EM LISBOA POR MANOEL DE LYRA. ANNO DE 1595. Á CUSTA DE ESTEVÃO LOPES MERCADOR DE LIBROS. 4 VOL. 4.0

É esta a edição Princeps das Rimas do Poeta. Na pagina do rosto tem uma vinheta com uma arvore com esta legenda: Mihi Taxus, empreza de D. Gonçalo Coutinho, e duas figuras de mulher ao lado, sustentando uma um ramo, e a outra um espelho. No verso d'esta pagina as licenças: a de Fr. Manuel Coelho, seguida pela do Bispo de Elvas, de Diogo de Sousa e de Marcos Teixeira, datada de Lisboa em 17 de Novembro de 1594, e ultimamente de João de Lucena Homem, em 3 de Dezembro de 1594.

Logo em seguida vem o Privilegio concedido por Filippe II. por

dez annos, para imprimir, não só as Varias Rimas poeticas de Luiz de Camões, que nunea tinham sido impressas, mas tambem o livro dos seus Lusiadas, attendendo ao grande trabalho que houvera em ajuntar as ditas obras, e á despeza que fizera para as imprimir. Continua a Dedicatoria a D. Gonçalo Coutinho, na qual allude ao melhoramento da sepultura do Poeta, feito por este fidalgo. Vem depois os dois epigrammas latinos de Manuel de Sousa Coutinho (Fr. Luiz de Sousa) ao Poeta e a D. Gonçalo Coutinho. Em seguida alguns sonetos em louvor do Poeta; de Luiz Franco em italiano:

Sopra la polve, & l'ossa regnar morte.

o de Bernardes:

Quem louvará a Camões que elle não seja.

e o de Diogo Taborda:

Spirito que ao Empyreo ceo voaste.

Depois o Prologo aos Leitores de Surrupita, que se reimprimiu nas edições de 1779 e 1782.

Começam depois as Rimas com este titulo: Rythmas de Luis de Camões repartidas em cinco partes. A primeira, até pag. 22, contém os sonetos; a segunda, de pag. 22 a 51, comprehende Canções, Sextinas e Odes; a terceira, de pag. 51 a 71, as Elegias e algumas Oitavas; a quarta, de pag. 71 a 135, as Eglogas; e a quinta, de pag. 135 a 168, as Redondilhas, Motes, Esparças e Grosas. Segue-se a Taboa, e antes d'ella uns versos com este titulo: Sentenças do autor por fim do livro:

Vai o bem fugindo, etc.

Postoque Surrupita fosse um homem de letras, e poeta como tive occasião de ver em uma poesia sua manuscripta, esta edição não está muito correcta, o que se deve attribuir ao escrupulo, como confessa, de emendar estas poesias, apesar de as achar viciadas pelos copistas. Esta edição é mui rara.

Vi um exemplar que me franqueou, ha annos, o fallecido D. Francisco Manuel da Camara.

1597

OS LUSIADAS DE LUIS DE CAMÕES, PELO ORIGINAL ANTIGO, AGORA NOVA

MENTE IMPRESSOS. EM LISBOA, COM LICENÇA DO SANTO OFFICIO E PREVILEGIO REAL. POR MANOEL DE LYRA, 1597. Á CUSTA DE ESTEVÃO LOPES MERCADOR DE LIVROS. 4 VOL. 4°

No verso da pagina do titulo vem a licença para a impressão, datada de 15 de Novembro de 1594, e a informação do Censor Fr. Manuel Coelho. N'esta diz que viu estas obras de Luiz de Camões, as quaes foram já muitas vezes impressas e emendadas. Que não lhe riscou certos vocabulos de que o auctor ás vezes usa, e que alguns lhe notaram: como é, fallar em Deuses e fado, não só porque se encontram na Sagrada Escriptura, entendendo-se os Deuses falsos dos gentios, mas porque o mesmo Poeta assim o entende, e declara no canto x, estancia 82. Segue-se o privilegio, datado de 30 de Novembro de 1595, ao livreiro Estevão Lopes, por dez annos, para reimprimir os Lusiadas, por haver já poucos, e para poder imprimir as Rimas, attendendo ao trabalho que tivera para as ajuntar, e despeza que fizera com a impressão.

As amputações das duas edições anteriores deviam desagradar aos leitores, e fazer com que a primeira edição fosse avidamente procurada; assim o editor para armar ao consummo, estampou no frontispicio que ia conforme o original antigo: mas esta promessa não foi executada por que, não só se continuaram algumas das emendas já feitas, mas se fizeram ainda algumas novas. Estas se podem ver no já citado Exame critico das cinco primeiras edições dos Lusiadas, por S. F. M. Trigoso. Nesta edição apparece uma cousa que este Academico que a cotejou não adverte, isto é, a restituição da estancia cix do canto x, na qual se pretende que o Poeta alludia aos padres Jesuitas.

1598

RIMAS DE LUIS DE CAMOENS ACRESCENTADAS NESTA SEGUNDA IMPRESSÃO. DIRIGIDAS A D. GONÇALO COUTINHO. IMPRESSAS COM LICENÇA DA SANTA INQUISIÇÃO. EM LISBOA, POR PEDRO CRAESBECK. ANNO M.DXCVIII. Á CUSTA DE ESTEVÃO LOPES MERCADOR DE LIBROS. COM PRIVILEGIO. 4."

No reverso da pagina do titulo, vem a licença datada de 8 de Maio de 1597.

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