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cencia Lopes, viuva de Estevão Lopes, por Alvará de 7 de Setembro de 4605, por espaço de máis dez annos, alem dos concedidos a seu marido, attendendo a ficarem-lhe cinco filhos e ao seu estado de indigencia. Desde esse tempo, se exceptuarmos a edição dos Lusiadas de 1612, e a das Comedias de 1615, impressas por Vicente Alvares, e a das Rimas de 1624, por Antonio Alvares, esteve a imprensa Craesbeckiana por espaço de um seculo na posse de imprimir as obras do nosso Poeta, até o anno de 1689; começando em 1702 a imprimi-las a typographia Ferreiriana, e isto por espaço de dezenove annos. Desde esse tempo se tem impresso varias e mui repetidas vezes em differentes officinas, tanto em Portugal como fóra d'elle; sendo os sitios, nos paizes estrangeiros, onde se deram á estampa: Madrid, Napoles, Roma, París, Avinhão, Hamburgo e Berlim. Comprehende este nosso catalogo, até hoje o mais completo, umas setenta e tres edições, e calculando cada edição, termo medio, a mil e quinhentos exemplares, o que não é muito, attendendo a que as edições antigas eram mais copiosas, e especialmente o deviam ser da primeira obra litteraria do paiz, se pode calcular que se tem gasto mais de um exemplar diariamente desde a publicação d'este Poema immortal. Vê-se mais que nos seculos XVI e XVII as edições foram muito repetidas, succedendo-se umas as outras com pequeno intervallo; o mesmo não aconteceu no seculo seguinte XVIII em que apparecem intervallos consideraveis de edição a edição, chegando até dois de dezoito annos, e tirando-se em todo o seculo apenas nove edições, o que admira durante um governo tão protector das letras, como foi o de D. João V. Ou o mercado estava sufficientemente provido ou o partido Tassista, que D. Francisco Manuel já havia rebatido no seu Hospital das Letras, e por ultimo José de Macedo no seu Antidoto da Lingua, provocavam este transitorio resfriamento. Com o principio do seculo XIX renasce a procura, e as edições se multiplicam, tanto no paiz, como fóra d'elle, havendo anno de se repetirem como no de 1827, 1836, 1846, 1857 e 1860, o que dá um resultado approximativo a uma edição em dois annos.

Que o reconhecimento nacional se traduza por esta fórma, fazendo gemer os prélos para reproduzir o Poema immortal, nada admira, porque por mais que se faça, por esta ou por outra qualquer via, sempre se ficará em divida para com o Cantor das nossas glorias; mas que elle por tal forma captive a sympathia dos estranhos, que de dia para dia se torne mais valido, como provam as repetidas e recentes traducções, é que é maravilhoso. Não podemos deparar outra causa senão, que o

Poeta do Tejo é o Poeta da gloria, do amor, do commercio e da civilisação, e que se o assumpto que elle cantou pertence exclusivamente a uma nação grandiosa as consequencias foram de uma utilidade universal. Por isso elle sôa já em treze linguas diversas, tantas foram aquellas que a minha diligencia pôde até agora descobrir, e setenta e um foram os interpretes, que por integra ou em fragmentos, a verteram para as suas respectivas linguas, a saber: Na hebraica, 1; grega, 1; latina, 7; hespanhola, 9; franceza, 17; italiana, 10; ingleza, 9; allemă, 9; hollandeza, 2; polaca, 1; dinamarqueza, 1; sueca, 2; russa, 2.

E ainda ha campo para novas explorações, pois nem na Suissa e Principados Allemães, bem como na America, nos Estados da União e Republicas Hespanholas, podémos ainda penetrar, o que mais tarde esperamos fazer, e o não julgâmos indifferente, pois nos consta que até na Occeania acaba o nosso Poema de ser vertido para a lingua ingleza.

Quando esta folha já estava composta, me chegou a noticia de uma nova traducção na lingua bohemia revelada pelo sr. Ferdinand Deniz, em carta sua, da qual extracto o periodo em que faz menção d'ella:

«Vous pouvez Monsieur le Vicomte joindre à vos listes déjà si nombreuses de traducteurs un nom que vous est probablement inconnu, c'est celui d'un hongrois. Mr. Pichl a traduit en langue bohème qu'il ne faut pas confondre, vous le savez, avec l'argot des bohémiens l'épisode d'Inez de Castro, et il l'a fait imprimer dans le Casopis Ceskeho Museum ou journal du Musée de Bohème publié il y a un vingtaine d'années à Prague et qui après avoir été dirigé par Mr. Palacky, historiographe des états du royaume, eût pour redacteur en chef Mr. Safarik, savant bien connu. Où n'a pas penetré la gloire de Camoens? »

NOTAS Á BIOGRAPHIA

Nota 1.a pag. 2

O extraordinario acontecimento da descoberta da India foi exaltado pelos estrangeiros contemporaneos: póde ver-se em Damião de Goes como estes affluiam a Lisboa mandados pelas suas côrtes ou espontaneamente para saberem noticias d'esta espantosa viagem. Alguns se empregaram em a descrever, como Maffei; formaram-se collecções de viagens, e as nossas obras que saíram sobre este assumpto foram promptamente traduzidas. Castanheda foi logo vertido em varias linguas, na franceza por Nicolau Grouchy apenas um anno depois de ter apparecido o primeiro livro (1552); em italiano por Affonso de Ulloa no anno de 1578, e na lingua ingleza por Nicolau Linchtfield no de 4582. No anno de 1587 traduziu Simão Goulard a continuação de Castanheda na lingua franceza, addicionando-lhe a traducção da Vida de D. Manuel pelo Bispo de Silves Jeronymo Osorio. Alem dos exaltados encomios prodigalisados por esta occasião a El-Rei D. Manuel pelo Papa Leão X, póde ver-se uma carta, dirigida sobre este assumpto, do Arcebispo de Toledo ao mesmo Rei.

Nota 2.a pag. 2

Estes são os versos onde Frascator allude a esta navegação dos portuguezes:

Hæc eadem tamen, hæc ætas (quod fata negarunt

Antiquis) totum potuit sulcare carinis

Id pelagi, immensum quod circuit Amphitrite.
Nec visum satis extremo ex Atlante repostos

Hesperidum penetrare sinus, Prassumque sub Areto
Inspectare alia, præruptaque litora Rhapti,

Atque Arabo advehere, et Carmano ex æquore merces,
Auroræ sed itum in populos Titanidis usque est
Supra Indum, Gangemque supra, quà terminus olim
Catygare noti orbis erat: superata Cyambe,

Et dites ebeno, et felices macere sylvæ.

Denique et à nostro diversum gentibus orbem.
Diversum cœlo, et clarum majoribus astris
Remigio audaci attigimus ducentibus et Diis.

Nota 3.a pag. 2

Foi este Francisco Bianchini na obra que publicou em 1728, intitulada: Hesperi et Phospori nova stenomena sive observationes in Planetam Veneris. Foi grande astronomo; nasceu em Verona no anno de 1662, e morreu em 1729.

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Esta carta de mercê pode ver-se por integra no interessante Roteiro contemporaneo da Viagem de Vasco da Gaina, que com este titulo Roteiro da Viagem que em descobrimento da India pelo Cabo da Boa Esperança fez Dom Vasco da Gama em 1497 publicára no Porto no anno de 1838 o Lente de Mathematica Diogo Kopke e o Doutor Antonio da Costa Paiva, para cuja publicação, a pedido do meu amigo Consul francez n'aquella cidade, Theodoro Pichon, hoje Ministro na Persia, enviei aos editores uma copia extrahida do Archivo da Torre do Tombo, onde encontrei aquelle interessante documento.

Nota 5.-pag. 6

Estes riquissimos panos existiam no tempo d'El-Rei D. Sebastião, e d'elles se faz menção na viagem e entrada n'esta cidade do Cardeal Alexandrino: a minuta para esta encommenda e a sua descripção existe no Real Archivo da Torre do Tombo.

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A descripção d'esta solemnissima embaixada póde ver-se na interessante obra da vida e pontificado de Leão X, onde vem a carta de El-Rei D. Manuel e outros documentos relativos á embaixada, e poesias latinas de varios italianos feitas em louvor do Rei, do Embaixador e da nação portugueza: podem tambem ver-se no Archivo Real da Torre do Tombo os documentos que existem sobre o mesmo objecto.

Nota 7.-pag. 7

Alludimos a um interessante manuscripto que existe na Torre do Tombo intitulado Lendas da India, de Gaspar Correia, que hoje está publicando a Academia Real das Sciencias de Lisboa; consta de quatro volumes em folio, com os retratos dos Governadores e as plantas das fortalezas da India. É para sentir que falte o autographo do 1.° volume, que aliás foi supprido por una copia antiga que pôde obter o zeloso Official Maior do Archivo, ficando assim a obra completa. Ó auctor esteve muito tempo na India, para onde foi logo no principio da descoberta, e a sua obra, alem do interesse historico, é muito anecdotica.

Nota 8. pag. 7

Nas peças de Gil Vicente respira mais de uma vez o espirito patriotico e nacional; mas é principalmente no Auto da exhortação da guerra que este se revela com mais fogo, e que o auctor por vezes chega a attingir a sublimidade da ode pindarica em algumas das suas redondilhas.

Nota 9. pag. 8

De Homero a Virgilio medearam, segundo se julga, cerca de uns oito seculos; e de Virgilio a Camões, que resuscitou novamente a epopea na Europa, mil quinhentos noventa e quatro annos. Tal é a rotação lenta d'estes astros luminosos da poesia!

Nota 10.8-pag. 8

Foi este poeta Pedro de Ronsard, que nasceu no anno em que nasceu Camões. isto é, no de 1524, e falleceu no de 1585, cinco annos depois da morte do nosso Poeta. Foi reputado o legislador do Parnaso na sua patria, onde lhe deram o titulo de principe dos poetas do seu tempo, e foi mui apreciado dos Reis seus contemporaneos, Henrique II, Francisco II, Carlos IX e Henrique III; a municipalidade de Toulouse lhe fez presente de uma Minerva de prata massiça, e a infeliz Rainha de Escocia Maria Stuart de um bufete do valor de 2:000 escudos, em o

qual havia um vaso onde se via representado o Parnaso, e n'elle se lia esta inscripção em verso:

A Ronsard l'Apollon de la source des Muses.

Communicou com Torquato Tasso quando este esteve em França acompanhando o Cardeal d'Este: contrahiram ambos os poetas amisade e mutuamente se elogiaram. Compoz um poema intitulado a Franciada, que hoje não é lido, bem como tem decaido o poeta da exagerada elevação onde o haviam collocado os seus contemporaneos. De todos os seus admiradores um dos mais enthusiasticos foi Carlos IX, que chegou a compor versos em seu louvor. No Real Archivo da Torre do Tombo existe uma carta assignada do proprio punho do Rei para o Cardeal Regente, em que lhe pede queira mandar lançar o habito de Christo ao poeta seu valido.

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É este a carta de perdão pelo ferimento feito na pessoa de Gonçalo Borges em defeza de uns amigos.

Nota 12. pag. 9

Camões, descrevendo nos Lusiadas no canto In esta villa. parece fazê-lo com certa predilecção e conhecimento do local:

Obidos, Alemquer, por onde soa

O tom das frescas aguas entre as pedras.
Que murmurando lava, e Torres Vedras.

Quem esteve já em Alemquer não pode deixar de reconhecer a exactidão da descripcão: no seu termo existia uma quinta, propriedade dos Marquezes de Sabugosa, conhecida com o nome de Quinta de Camões.

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Para a genealogia do Poeta seguimos a Fernão Lopes (Chronica); Armas e triunfos, hechos heroicos de los hijos de Galicia, por Fr. Felipe de la Gandara (4672); os documentos do Archivo, onde se acham lançadas na Chancellaria de El-Rei D. Fernando as mercês feitas a Vasco Peres de Camões, e alguns titulos genealogicos d'esta familia, e entre estes um do seculo XVII, porém todos mui imperfeitos e copiando-se uns aos outros.

Nota 14. pag. 11

É o porphyrion dos antigos, de que trata Alciato no Emblema 47:

Porphirio domini, si incestent in ædibus uxor.
Despondetque animum præque dolore perit
Abdita in arcanis naturæ est causa: sit index
Sincera hæc volucris certa pudicitia.

Eliano, liv. XIV cap. 35.o, trata d'esta ave dizendo ser mui formosa, ter a cabeça cor de oiro, e que se enforca presenceando em casa de seu senhor um tal crime. Não nos diz à região onde habita, que deve ser a mesma onde existe a ave Phænix.

Nota 15. pag. 13

São os dois sonetos CCXC e CCXCI:

Alá en Monte Rei en Bal de Laca, etc.
Porque me fas amor inda aca torto, etc.

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