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aos actores e actrizes, e fazia-lh'a beijar em reparação de todas as injurias vomitadas contra Homero. Appareceu tambem uma estampa, na qual se via um burro roendo a Iliada, e por baixo este verso satyrico contra a traducção de La Mothe que tinha refundido a Iliada em doze cantos:

Douze livres mangés et douze estropiés, etc.

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O resentimento que a Academia da Crusca nutriu contra o Tasso, por causa de uma memoria que appareceu na edição das suas obras, na qual o Poeta, por boca de seu pae, fazia dizer cousas injuriosas contra os florentinos, rompeu de uma maneira tempestuosa na injusta critica contra o seu Poema: todavia quando o Tasso, depois de resgatada a sua liberdade, foi attrahido a Florença pelo Grão Duque Fernando, empregando para isso mesmo a auctoridade do Papa; por occasião d'esta jornada os Academicos da Crusca para repararem a injustiça que The haviam feito, lhe fizeram tão grandes honras e o exaltaram com tantos louvores, quanto n'outro tempo o tinham insultado com vituperios. Entre as muitas criticas que appareceram no momento da publicação da Gerusalemme, publicadas pelos apaixonados do Ariosto, torna-se notavel a do celebre Galileo, que saíu á luz (posthuma) no anno de 1793 com este titulo: Considerazioni al Tasso de Galileo Galilei, etc. Venetia, 1793, in-12.° Ao mesmo tempo que estes fogosos partidarios do Ariosto derramavam tanto fel nas suas diatribes e criticas contra o pobre Tasso, era elle o primeiro admirador do Poeta de Ferrara, como com as expressões mais modestas elle se expressava em uma carta dirigida ao sobrinho do inesmo Ariosto, Horacio Ariosto, recusando a corôa com que este o queria coroar como primeiro Poeta da Italia, em prejuizo da fama de seu tio, coroa que tão bem assentava sobre a cabeça do Homero de Ferrara, e que jamais se lembrou de despojar das suas folhas e flores, não obstante confessar que o desejo de ganhar uma que se approximasse, ou que ao menos conservasse por muito tempo a sua verdura, sem receiar os gelos da morte, lhe houvera feito passar muitas vigilias.

Nota 92. pag. 158

Milton teve criticos ao seu Poema, entre os quaes se distinguiu Guilherme Lauder, que pretendeu mostrar que elle era um composto de plagiatos. Os ultimos dias de Milton foram passados em indigencia, ao ponto de não ter para pagar a um copista que copiasse o seu Poema, o qual foi copiado por amigos que alternadamente se prestaram a este serviço. Quando saiu pela primeira vez á luz, não lhe deram o menor apreço, e foi só então que os seus compatriotas o souberam avaliar, quando Lord Somers e o Bispo de Rochester, pela nitida edição que publicaram do seu Poema, e o celebre Adisson pela interessante Dissertação sobre o dito, lhes fizeram ver que a Inglaterra possuia um dos mais bellos Poemas Epicos.

Nota 93. pag. 159

Quando saiu o Cid de Corneille o accusaram de plagiario, e o celebre Cardeal de Richelieu capitaneava esta vergonhosa caballa. Corneille respondeu como se deve sempre responder a estes zangãos da republica das lettras, com o Pompeu, Horacio, Cinna e Polyeucte.

Nota 94. pag. 459

Faria e Sousa diz que Sá de Miranda mofava do Poeta com palavras e açções: não sei onde o Commentador achou esta noticia. Sá de Miranda, lisonjeado por todos os poetas do seu tempo, devia-lhe necessariamente custar descer do alto logar onde o tinham enthronisado, para ceder o passo a um poeta mancebo, que eclypsava os seus contemporaneos, e o mesmo devia acontecer aos outros poetas; porém nas obras de Sá de Miranda, é forçoso confessar, não se encontra refe

rencia alguma hostil ao nosso Poeta, o que me parece que não aconteceu nas dos outros seus collegas.

Bernardes é verdade que escreveu o soneto que começa:

Quem louvará a Camões que elle não seja, etc.

mas pelo primeiro verso d'este mesmo soneto parece que elle foi convidado a escreve-lo, provavelmente por D: Gonçalo Coutinho, pois no mesmo soneto é elogiado este fidalgo. A opinião ou antes a accusação que se fazia ao poeta do Lima de usurpar algumas poesias ao nosso Poeta, não o devia tornar muito seu amigo; nas oitavas a Santa Ursula, no soneto dedicado á Infanta D. Maria, se compara com Virgilio a quem furtaram os versos, dizendo que lhe roubára um vil engano a honra de fazer estas oitavas, e se roubadas e mal limadas foram tão aceitas, agora melhoradas mereçam a protecção de tão alta Princeza. É notavel que este soneto, sendo escripto no anno de 1594, não appareça em nenhuma collecção das suas poesias. A rivalidade que pretendem havia entre os dois poetas pela preferencia que se fez d'este, com prejuizo de Camões, para acompanhar El-Rei D. Sebastião à Africa, não tem logar como já mostrámos; mesmo a nomeação de Bernardes para pagem da toalha, foi muito anterior á expedição. Ha comtudo quem queira que os dois poetas eram amigos, e que o do Lima quizera ser enterrado ou o enterraram junto ao seu amigo Luiz de Camões, e o fôra no anno de 1596, em que pretendem fallecêra; se o foi, não foi certamente n'este anno, porque ainda era vivo, como mostraremos na sua Biographia, e a verdade é que o seu nome não apparece nos livros de obitos da freguezia da Pena que percorremos. É desagradavel confessar, porém não podemos deixar de o fazer, que encontrámos nas obras d'este Poeta referencias a Camões pouco lisonjeiras e repassadas de pouca affeição. Na Carta IV escripta a D. João de Castello-branco, estando fronteiro em Ceuta, ha uma carapuça adrede talhada para Camões :

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Na carta vIII, escripta a Pero de Lemos, em que propõe ao dito que cante os engenhos poeticos mais illustres das Musas portuguezas, o nome de Camões não é nomeado. Esta carta devia ser escripta entre o anno de 1558, em que falleceu Sá de Miranda, a cuja morte se allude n'esta composição, e antes de 1569 em que falleceu Ferreira de quem se faz menção. Os Poetas que se nomeiam n'esta carta são: Sá de Menezes, Ferreira, Castilho, os dois Andrades (Pedro e Francisco), Silva, Silveira (Miguel da) e D. Manuel de Portugal, e entre todos estes lumes das letras portuguezas, não coube um pequeno cantinho para aquelle, que apesar de não ter ainda publicado o seu immortal Poema epico, já era o rival de Petrarcha na poesia lyrica; muito póde a inveja!

Na carta XXVII ao Conde de Monsanto, em que faz menção dos principaes auctores antigos e italianos, Petrarcha, Sanasaro e Torquato Tasso, preferiu não fazer menção dos Poetas nacionaes, por conhecer que seria cousa reprehensivel, escrevendo esta carta depois do anno de 1581 e da publicação dos Lusiadas, o omittir o nome de Camões.

Dos nossos deixo alguns dignos de gloria, etc.

Na carta xxx dirigida a Gaspar de Sousa, sobrinho do celebre D. Christovão

de Moura, promette fazer um Cancioneiro dos poetas portuguezes mais insignes: era curioso ver se excluia o nosso Poeta.

Passemos agora a Ferreira; na egloga 1, cujo theatro é Coimbra, louva elle um novo poeta, cujos versos são lidos por Sá de Miranda, e deprime outro que, pela descripção, é o mesmo a quem se refere Bernardes, e que todos louvavam.

Pastores coroay, que vai crescendo,
Este novo poeta de hera e flores,
E Magalio de inveja este morrendo
Que a todos para si rouba os louvores.

Será este Magalio o nosso Camões? Esta egloga é escripta antes do anno de 1557. Vide a carta vIII a Pedro de Andrade.

Nota 95.-pag. 160

São nem mais nem menos uma novena de epigrammas desde 140 até 148 inclusive. Ou eu me engano muito, ou estes epigrammas têem allusão a versos de Camões, por exemplo o epigramma 145:

Dizes que o bom Poeta hade ter furia, etc.

Não terá isto relação com estes versos de Camões:

Dai-me huma furia grande e sonorosa, etc.

Epigramma 141:

Que na doudice só consiste o siso, etc.

De não serem teus versos caballinos
E parecerem versos de cavallo.

Não terá isto alguma analogia com este verso de Camões:

Posso escusar a fonte caballina, etc.

As outras arguições são nem mais nem menos, de não saber a medida do verso, não se sujeitar as leis dos outros Poetas, emfim não lhe concede que seja, nem Poeta, nem douto, e o que é mais, nem mancebo. Tal era a censura severa que o archi-poeta Pedro de Andrade Caminha fazia ao poetastro Luiz de Camões. A pouca affeição de Caminha pelo Poeta póde explicar-se com alguma probabilidade; elle era creado da casa do Infante D. Duarte, de quem era muito valido, e onde exercia o logar de Mordomo mór D. Antonio de Lima, pae de D. Catharina de Athaide; a amisade para com este faria com que elle partilhasse o resentimento do pae da dama. Estas relações existiam, e elle fez o epitaphio d'esta senhora, que é um dos seus mais felizes, e no qual ha a singularidade da analogia de um verso de um sóneto de Camões ao mesino assumpto:

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É evidente que existia uma caballa contra o Poeta; alem do silencio dos poetas contemporaneos, alguns escreveram expressamente criticas, como foi D. Francisco Rolim, Senhor da Azambuja, Manuel do Valle de Moura e outros. D'estes criticos nos dá noticia Fernão Alvares do Oriente na Prosa x da Lusitania Trans

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formada, por esta fórma: Muitas estatuas estavam pelas columnas do templo alevantadas, mas consumidas de maneira que quasi se não deixavam conhecer. nem ainda ler os letreiros que declaravam cujas fossem. Mas entre todas a estatua do Principe da nossa idade, que cantou a larga navegação dos Lusitanos, a qual se devisava das outras com este letreiro: Principe dos Poetas, titulo que d'aqui parece trasladou á sua sepultura um peito illustre e generoso; estava só com toda a sua perfeição com que seu esculptor ati a posera de principio; comquanto um esquadrão de Bavios e Zoilos, que lhes ficavam aos pés, com muitos tiros pretendiam damnifica-la.» Fernão Alvares do Oriente era amigo do Poeta e seu camarada nas expedições militares. Diogo do Couto repetidas vezes faz menção d'elle nas suas Decadas, de uma maneira sempre honrosa.

Da sua amisade e admiração por Camões apparecem muitos logares na obra do poeta do Oriente:

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Glosou alem d'isto algumas composições do Poeta, e o imitou de tal arte que mostrava bem que desejava que apparecesse saliente a imitação.

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