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BATALHA

DE ALJUBARROTA.

C'o som medonho os montes se abalaram,
O Tejo se turbou e o Guadiana,
Pavorosas as serras se inclinaram,
Tremeu a terra antiga Lusitana;
Os cavallos de Apollo se encresparam,
E elle negou o rosto á vista humana,
E retumbando o echo ao vão dos montes,
Fez responder gran' tempo os horisontes.

Torna-se o ar de settas logo escuro,
Nuvens de negro po ao ceo subindo,
As pedras resoando no aço duro,
E as lanças de arremesso vão zenindo :
Cerram-se as alas junctas, fica um muro
De lanças campo e campo dividindo,
Tudo em desiguaes vozes arrebenta,
Estrondo confusão, grita e tormenta.

Foram do som horrisono espantados
Muitos da primeira ala Lusitana

De alguns tiros aos nossos desusados,
Que vinham na vanguarda Castelhana;
Que até aquelles bons tempos celebrados,
Nos não monstrava a vil malicia humana,
Que com estrondo e fumo que faziam
Aos nossos forças e armas suspendiam.

Mas ja de Nuno a rigorosa espada
Com golpes sem medida, sem defeza
Fazendo entre os imigos larga estrada,
Abre caminho á gente Portugueza;
Valles fazendo vai de gente armada
Com desusada e estranha fortaleza,
Para uma e outra parte os golpes dobra,
E atrás d'elle a vanguarda esforço cobra.

Dom João Afonso, o valeroso conde
Que ante todos moveu com furia estranha,
Na patria gente a fera lança esconde,
E em gritos vem dizendo: «Viva Hespanha ! »
Da outra parte Nun'alv'res lhe responde
Que faz tremer com golpes a campanha :
<< Portugal, Portugal» e á voz, que lança,
Com a furia da espada se abalança.

Oh golpes n'ésta idade tam mal cridos,
Que os montes de Colippo em echo vão
Tiveram grande espaço repetidos,
E o Lis, que as crespas aguas teve então:

Uns cahem té os hombros divididos,

D'outros partido o corpo cobre o chão,
Partem-se arnezes, grevas e celadas,
Qual se foram de massa fabricadas.

Voavam pelo ar confusamente,

Rochas de lanças, malhas, settas duras,
Faíscando das armas, reluzente,
Linguas de fogo palidas e escuras:
Qual impellido vai, qual livremente
Atropellando os corpos e armaduras
Até parar n'aquelle estrago horrendo,
Que o grande dom Nun'alvr'es vai fazendo.

Nadando em sangue alheio, e carregado
De virotes de lanças e farpões,
Como o leão de Lybia magoado,
Bramindo vai cortando os esquadrões:
Um ribeiro de sangue corta o prado,
Tingem-se n'elle as plumas e pendões,
Lanças, braços, cabeças, pernas corta;
So lhe para diante a gente morta.

Com um grande tropel de cavalleiros
De Alcantara o mestre alli soccorre,

Rompendo em Nuno as lanças os guerreiros,
Como o mar quebra as ondas na alta tôrre,
De um golpe a seus pés chama os dous primeiros,
E entre elles estirado o mestre morre,

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Partido o elmo em dous c'uma ferida, Donde exhalada em sangue lança a vida.

D'estes golpes mortaes como aturdidos,
E da sombra luzente de aço fino,
Pisando corpos mortos sem sentidos,
Ja voltam os de atrás perdendo o tino ;
Alli a grita, as vozes e alaridos
Dos que guiava á morte o seu destino
O campo, o ceo e os montes atroavam,
E as espadas ardentes se encontravam.

N'este tempo dom Pedro o de Vilhana
Com a furia das gentes que trazia
Vai rompendo a vanguarda Lusitana;
Para onde o Mem Rodrigues se estendia
Alli se esforça a gente Castelhana,
Que em bando sobre as alas recrecia,
Mas de um crespo furor arrebatados,
Se involvem na batalha os namorados.

,

Mem Rodrigues ensopa a dura lança,
Rui Mendes, o irmão, emprega a sua,
Vasco Martins de Mello não descança,
Que elle so faz batalha fera e crua:
Aonde do braço seu o golpe alcança,
Deixa o sangue banhando a carne nua ;
E é tanta a gente armada com que intende,
Que nenhum golpe em balde se despende.

De ca move Antão Vasques, que batendo
Qual javali furioso os dentes vinha,

<<San Jorge!»> aos seus, «san'Jorge!» vem dizendo,
E a sua espada ás outras encaminha;
Per lanças, per espadas vai rompendo,
Nenhum dos seus tras elle se detinha,
Para onde o valeroso e bom Pereira
Arvora entre os imigos a bandeira.

Os valentes Inglezes, que desejam
Mostrar de seu valor toda a bondade,
Com esforço immortal por nós pelejam,
Que bem mostram nas obras a vontade :
Os contrarios Franceses os invejam,
Que, aindaque os anima e persuade
Número desigual de armadas gentes,
Desmaiam vendo os poucos tam valentes.

Tinha de negro sangue feito um lago
Que em ja defunctos corpos faz repreza,
Fazendo áquella parte grande estrago
Na gente amedrentada sem defeza;
Quando o mestre feroz de Santiago
Entra com nova força n'ésta empreza:
Oh Deus! que então se via em grande aperto
Nuno , que o ceo de lanças ve cuberto.

Andava o fero e Lusitano Marte
Entre nuvens de lanças e farpões,

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