Petrificada, que nem ve, nem ouve; que fera, insensivel pouco logo Irmãos no berço irmanará na tumba!
A rainha entretanto, que em delirio Fería a nivea fronte contra as portas Do pavaroso carcere, é chamada Pelo rei, que n'um extasi d'espasmo Atélli a cathastrophe medíra; Volve ella á voz amada, por effeito D'um socegado, subito transporte, Que pareceu milagre : « Rei, e esposo, (Assim lhe torna) unido ao teu meu peito, De longos annos, que julguei minutos, Uma lei houve em ambos, um so gosto; E agora que me dás tam nobre exemplo Do valor de tua alma incomparavel, Deveria Antonieta desmentir-se !...
Oh! não, não! tanto ao rei, como ao vassallo Contados são os dias n'esse livro
D'eternos caracteres; transgredir-lhe Ninguem póde um so dia o fixo prazo : Vai completar-se o teu; o meu não tarda! Quando porêm transpor-lhe o termo curto Permittido nos fosse (o que sería
Por mais, ou menos anno b) alêm do prigo D'aggregar-mos mor côinputo d'angústias Quem sabe se, no apêgo d'uma sempre Vida incerta, illudir-nos poderiam
Para bem rematá-la o fausto e a pompa, Que nada tem c'o home' á dor sugeito, No burel, ou na purpura?... Oh! baldemos, Sim, frustremos a um povo encarniçado, Tornando-o a nosso bem um rancor louco, Ja que está n'isso a unica vingança, Que sem crime nos resta!... Eu pois comtigo Desde ja me conformo aos fados nossos, Sem que d'elles me fique alguma queixa Mais que a de não mandarem, que a um tempo Eu possa acompanhar-te... Ah troca, troca Um precario diadema por um sceptro, Onde os punhaes do mundo alçar não podem!...>>
E com isto a Luis os braços deita N'um longo amplexo, soffocados ambos D'um pranto, que não quiz a natureza Deixa-lo supprimir por vãos esforços
Inda eram abraçados, quando ruge Sobre os gonzos com rispido arruido A ferrea grade; e entra a chusma horrenda Que tragar deve a victima innocente! Retiram-lhe a rainha; e em leda face
Desce o monarcha, e sobe logo ao coche...
Eis ja se arrosta o cadafalso iniquo;
Alli lhe prende as mãos, as mãos sem culpa Carnifice maglino; alli lhe corta
Verdugo enraivecido os seus cabellos, Que, apos outro malvado erguer aos ares A frente dona sua, irão vender-se
Em público pregão a um povo insano!
<< Filho de san' Luis! ide com elle Gosar da palma que vos é disposta. Como por uma inspiração divina Lhe exclamou Adjuvort. Sobe o monarcha A passo magestoso, nem que fosse Para um triumpho seu! chega-se ao lado Do sinistro theatro, e em despedida Busca inda protestar em branda phrase Á ingrata nação seu nimio affecto Mas Santerre, maldicto commandante D'uma tropa maldicta, faz que um rufo Rebombe emtorno, a cujo som medonho Toma o rei seu assento, a vida entrega Aos nefandos, crueis executores!...
Mais caridosa, mais sensivel que elles, Hesita um pouco a máchina terrivel; Até que emfim se descarrega o golpe !... Ás sacrilegas mãos d'algoz protervo Luis perde a cabeça veneranda.....
Geme a virtude em sacrificio horrendo!...
Aqui Sydnei chegava, quando emtôrno Um lugubre gemido, d'esde muito Suffocado, o silencio alli quebrando, Interrompe o orador, que mais não ousa. SANTOS E SILVA, Braziliada.
Eis repentino o sol no ethereo assento Mostra dos ceos a cupula azulada:
Obra d'ingenho Luso, ergue o instrumento Alemquer, com que mede ao sol a estrada; O gran' genio astronomico fallece, E o mar que corta absorto desconhece.
Em quanto se affadiga, equoreo bando Das alcyoneas aves lhe resoa
Juncto ao bordo da nau, e o ar rasgando, que buscava a terra erguida á proa:
Balsamico vapor suave e brando
Sobre as asas dos zephyros revoa; Ceilão dest'arte ao longe o nauta sente Pelo espargido cheiro em cópia ingente.
Começam montes de chegar-se umbrosos, Que pelas nuvens vão metendo a fronte, E a dilatar-se os valles deleitosos; D'aqui d'alli rompendo argentea fonte: E, quando o sol de raios luminosos Do mais alto dos ceos enche o horisonte,
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