Hippomanes que atrás vai de Atalanta, Cephalo que madruga namorado; Bosques, batalhas e selvagens feras, Sulphureas gruttas, horridas chymeras. LUIZ PEREIRA, Elegiada.
Sentiu la no profundo e vitreo estrado, Onde com Thetys passa alegre sesta, Oceano este abalo desusado
Da fabricada subita floresta; E com tal novidade perturbado Deixa de parte o regosijo e festa, Tritão os deuses convocando, As aguas para cima foi cortando.
Neréo, pae das nymphas, mais ligeiro Do que a comprida idade consentia, (Se o tempo entra no mar) foi o primeiro Que os passos d'Oceano alli seguia : Ao lado esquerdo Glauco é companheiro, Pelo direito Prótheo apparecia,
Protheo, que os Neptuninos aconselha; Uma com outra Thetys emparelha.
Entre todas a bella Cymnoría
Corre veloz co'a linda Cimothóe
Logo tras ella a candida Amathía Com Dinamêne, Apsêudis e Amphitóe Cymódoce, Déxamene, Oritia, Amphínome, Melíte, Glauce, Thóe, Galathea formosa por extremo E Leucothóe vem c'o seu Palemo.
Ja se mostra Pherusa, e avante passa Climene porque ja perto a sentíra; Descobre-se Nisea e Callianassa, Spio, Actée, Nimétris e Janira; De mais longe vem Doris e Janassa, A quem accompanhou Callianira, Thalia, Panopea, Iera, Próto, Ethera, Agave, Idóthoa, Meia, Dóto.
Em calma n'este tempo o mar estava, E como rio manso parecia,
O vento em seu descanso repousava, Nenhuma tábua concava surdia: Oceano, que a frota divisava, De Lusitanos ser reconhecia,
E por se lhes mostrar ledo e contente Co'ésta voz faz attenta a humida gente.
<«<Ó bellissimas nymphas, ó marinhos Habitadores do crystal salgado, A ésta armada agora abri caminhos, Que em calma tem o vento socegado:
É justo festejemos taes vizinhos
Que tanto teem meu nome accreditado; Por elles sou famoso, e todo o humano A grandeza celebra do Oceano.
Cesse ja do Erithreu a glória antiga, E seus tropheus magnificos suspenda, Nem do Pontico mar louvor se diga, Que meu direito e pre'minencia offenda. Outras crescentes, outros estos siga Esse Mediterraneo se pretenda Igualar-se comigo; enfree o brio
O Mauritano, o Caspio, o Euxino frio.
Nenhum ceruleo reino se navega
De gente em paz e em guerra tam famosa, Nenhum com tal corrente cérca e rega Costa em viages tam maravilhosa ; Nenhum seus braços tam ufano entrega A cidade tam nobre e populosa, Que, se Ulysses lhe deu o fundamento É ja glória de Ulysses e ornamento.
Isto dizendo, os braços vai lançando Com seu compasso igual pela agua fria E a nau real c'os hombros inclinando Escumas levantava e dividia; Logo vai cadaqual outra afferrando, Por não ficar detras sem companhia :
O curso era tam destro e diligente, Que iam surdindo todos igualmente.
O navio do principe tirava
Com graça estranha a linda Galatea, Que por descuido a vezes se mostrava Mais alva que o crystal da propria vea; Os olhos após si todos levava
E corações tras elles senhorea :
Quantos a culpam de ligeira e leve,
Pois tal vista lhes faz assim mais breve!
QUEVEDO, Afonso Africano.
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