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de Teive foi repellido do ensino, e a Grammatica do Padre Manoel Alvares começou a bestificar as intelligencias. O caracter de ensino litterario dos Jesuitas está lucidamente traçado n'estas palavras de Michelet:

«É deploravel ver protestantes e livres pensadores (Bacon, Ranke, Sismondi, Auguste Comte, etc.) louvarem os jesuitas como mestres e excellentes latinistas. Elles tiveram um conhecimento superficial da antiguidade. Evidentemente, nunca leram nem conheceram os verdadeiros, os grandes eruditos do seculo XVI. Nas mãos dos jesuitas tudo se tornou frouxo e falso. Estas linguas masculinas e altivas, o que ficaram sendo nos seus Collegios? Quão molles e feminisadas. O seu reinado de humanistas, póde chamar-se com toda a verdade, o predominio da chateza.

«Nunca o diabo fará a obra de Deos. O mais que faz são contrafacções ignobeis e caricaturas. O fructo jesuitico, derivado da Italia corrupta, do grotesco idyllio de Tirsis e de Corydon, envenenou a Europa.» (1)

que com seu Reytor são necessarios pera officiays e serviço do Collegio; quatro moços de serviço e huma besta.

«Os que faltam pera cumprimento dos setenta da obrigação são muytos que estão prestes pera sustituirem quando adoecem os mestres; outros que estão pera examinadores dos que passam de humas classes pera outras; outros que vão estudando pera d'elles se fazerem mestres. Ha dois guardas que levam de salario 248000 reis; hum porteyro, hum varredor, um tangedor do sino.» Ann. de D. João III, p. 454.

(1) Michelet, Nos fils, p. 149, 4.a ediç.

Quando Camões saíu de Coimbra ainda o ensino não estava corrompido pela roupeta; ainda levava comsigo uma séria erudição que o não esterilisava, e as doces saudades das suas primeiras affeições, e dos sitios que melhor o impressionaram,

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Epoca em que deixa os estudos de Coimbra. Primeiros amores em Coimbra. A cultura da erudição dá-lhe entrada na côrte. A Academia da Infanta D. Maria: Angela e Luiza Sigêa, Paula Vicente, D. Leonor de Noronha. - Camões escreve a tensão de Miraguarda, depois de Francisco de Moraes ter dedicado o Palmeirim de Inglaterra, á Infanta D. Måria.-D. João 1 pede a Camões algumas cançonetas. — Galanteios com as Damas em Cintra. A poetica palaciana no seculo XVI, segundo a Arte de Galanteria. A anedocta de Jorge da Silva, apaixonado pela Infanta D. Maria. — Comparação com a lenda do Beato Amadeo. Relações de Camões com D. Guiomar de Blaesfat. —Os amores no paço e o quietismo religioso. -- Origem dos amores de Camões. Como se achou o nome de D. Catherina de Athayde no anagramma de Natercia. Homonymas de D. Catherina de Athayde. - Primeira perseguição de Camões, revelada nos Epigrammas de Pero de Andrade Caminha. Camões confidente de D. Manoel de Portugal nos seus amores com D. Francisca de Aragão. — Ainda a poetica palaciana. Camões sáe da côrte em 1546; visita João Lopes Leitão, e Miguel Leitão de Andrade. - A vida na provincia no seculo xvi. A morte de D. Bento de Camões em 1547, faz com que Camões não vá a Coimbra e se demore no Ribatejo. — Determinação do logar do seu desterO cerco de Mazagão em 1547, provoca em Camões o desejo de militar em Africa.- Satyras contra a decadencia do valor portuguez em Africa. — Regresso de Camões a Lisboa em fins de 1549.- Caminha ridularisa Camões por ter perdido o olho direito. Como Camões allude a este desastre. Esperanças de se rehabilitar na côrte, em virtude da protecção que o principe herdeiro D. João prodigalisava aos poetas Sá de Miranda, João Rodrigues de Sá, Jorge Ferreira de Vasconcellos, Fernão da Silveira, D. Simão da Silveira, D. Manoel de Portugal, Jorge de Monte-Mór, e outros muitos.Camões acha-se desprezado na côrte. Suas relações com Jorge de Monte-Mór, Estacio de Faria, Antonio Ribeiro Chiado. - Costumes da aristocracia portugueza no seculo XVI: os

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6-TOMO I.

Camões na côrte de D. João III

CAPITULO IV

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―――

rufiões de magustos e os modernos fadistas. - Camões era um dos principaes valentões da côrte.— Influencia d'este caracter sobre o seu amor. - Soneto em que Camões explica a origem dos seus desastres. -O arrancamento com Gonçalo Borges, criado de D. João III, na procissão de Corpus. - Protecção que encontra no Bispo de Viseu, D. Gonçalo Pinheiro. Alista-se em 1553 para a India, como homem de guerra. Suas ultimas palavras ao abandonar a patria.

Convém primeiro que tudo fixar o tempo em que Luiz de Camões deixou os estudos de Coimbra e veiu frequentar a côrte; porque, fixada qualquer data, as circumstancias historicas já conhecidas explicam-nos a sua vida. O Bispo de Viseu, D. Francisco Alexandre Lobo, determinava esta vinda entre 1544 e 1545, mas sem apresentar fundamento; (1) porém ao snr. Visconde de Juromenha coube o descobrir um argumento que nos approxima o mais possivel da verdade. Na Carta I, escripta da India, em 1553, diz Camões: « Porque, quando cuido que sem peccado que me obrigasse a trez dias de purgatorio passei trez mil de más linguas, peores tenções, damnadas vontades nascidas de pura inveja...» Estes trez mil dias correspondem a outo annos e outo dias; e diminuindo-os de 1553, vem a dar 1545; mas antes da partida para a India, esteve Camões em Ceuta dois annos, (2) e pelo menos um anno no desterro de Ribatejo. D'aqui se conclue que o poeta abandonára Coimbra em 1542.

(1) Obras, t. 1, p. 31.

(2) Jur., Obr., t. 1, p. 25, e t. iv, p. 150.

Pela nobreza de seu nascimento, e pela sua completa educação litteraria, é de crêr que viesse Camões para a côrte, mais por calculo paterno do accrescentamento de seu filho, do que por intuito proprio de representação. Em uma côrte, onde havia o Infante D. Luiz, poeta e erudito, a Infanta D. Maria, protectora das boas letras, estadistas que tambem eram poetas, como o Conde de Sortelha ou o Conde de Vimioso, e condiscipulos das Escholas de Santa Cruz que andavam muito perto do throno e para quem choviam as graças regias, por certo que um mancebo como Camões, galante e atilado, tinha a esperar grandes vantagens, e podia-se afoutamente auspiciar-lhe um brilhante futuro. Mas a côrte, como a definiu Gil Vicente na Romagem de Aggravados, era um mar perigoso onde pesca muita gente; e já n'esse tempo Sá de Miranda accusava o erro economico de concorrer a Lisboa toda a fidalguia do reino. E estes perigos da côrte, vêmol-os mais claramente definidos por um amigo de Camões, o comico Antonio Ribeiro Chiado, no Auto intitulado Pratica de outo figuras. Aí diz:

Nam pode ser mór mofina
que se cego no peccado,
corpo de Deos consagrado
s'a mim o tempo m'ensina
porque vou ser enganado
bestial.

Oulha, conhece teu mal,
não te engane o bem do paço,
pois n'elle gastas o aço
e ficas no ferro tal.

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