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mandar alguma semente do sobredito pinhal, me daria n'isso um auxilio para satisfazer a minha boa vontade no serviço de S. Mag.de relativamente ao plantio de mattas em S. Miguel. Eu tenho recommendado a dita semente por intervenção do official maior da secretaria de V. Ex. ao encarregado do plantio da parte do dito pinheiral, que se queimou, e delle tive algumas no anno passado, que o dito Provedor da Casa da Moeda viu em excellente crescimento: mas careço este anno de mais, e heide obtel-a mais seguramente se as ditas minhas diligencias particulares se juntarem à intervenção de V. Ex." = Deus guarde a V. Ex. muitos annos S. Miguel 45 de Agosto de 1825 Sr. Joaquim José Monteiro Torres == V. J. F. C. da Costa.

De V. Ex. Ilm." e Ex. O mais rev.1 V.o, e fiel C.

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Copia do officio do Desembargador V. J. F. C. da Costa a Sua Ex.a o Ministro da Marinha para lhe ser entregue pelo Provedor da Casa da Moeda na sua retirada d'esta Nha.

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e Ex. Sr. O Provedor da Casa da Moeda, tendo concluido a analyse das Agoas das Furnas, e as suas indagações sobre este Valle, especial objecto da sua commissão, e tendo depois disso visitado toda a Ilha, e dado a sua attenção a tudo o que a pedia, resolven-se a partir n'este navio. incerto da chegada do Correio Maritimo. e eutendendo, que não tinha tempo a perder, chamando-o a Lisboa, quanto antes, a sua Repartição da Moeda, e o seu curso de chimica.

El-Rei N. Sr., e V. Ex. conhecerão pela conta que elle dará da sua commissão, o assiduo trabalho, que the seria preciso empregar, para no curto, espaço de dois mezes fazer a impertinente analyse de tres das ditas agoas, que lhe pareceram merecedoras disso: para levantar duas plantas, uma de toda a cratera das Furnas, e outra do lugar das Caldeiras do dito Valle: para colligir os productos d'este. que pela sua inalterabilidade podiam ser analysados no seu Laboratorio, atim d'elle interpor o seu juizo relativamente à conveniencia de trabalhos nas Furnas sobre enxofre, e pedra hume: e para correr toda a Ilha, apromptando os materiaes para a sua descripção physica. politica, que elle hade ter a houra de levar á Real presença pelas mãos de V. Ex.a.

Entendi que devia chamar a sua attenção a todos estes objectos para aproveitar o mais que fosse possivel, como V. Ex. me ordenava no sen aviso de 19 de Julbo passado, a sua vinda a S. Miguel, e a ex

a

tensão dos seus conhecimentos no serviço de S. Mag., e lisongeiome muito de segurar a V. Ex. que em geral a sua maneira de pensar nos artigos do trabalho, que elle hade apresentar a V. Ex a, é inteiramente conforme com a minba.

Fiz entrar na sua tarefa o exame dos projectos, que tinha havido para a construcção do Molbe n'esta ha; e na minha opinião o seu plano sobre esta obra é incontestavelmente o mais facil, mais expedito, menos arriscado, e menos dispendioso de todos aquelles, que tinha visto lembrar. Rogo a V. Ex. queira pedir-lhe as suas ideas ao dito respeito, e desde já supplico a S. Mag. licença para instar na Sua Real Presença pela execução da obra, segundo o seu projecto. que elle exporá a V. Ex. muito mais claramente do que eu o pode. ria fazer agora.

Elle finalmente examinon as agoas de que se provè esta cidade, e a melhor maneira da sua conducção, e aproveitamento: foi ver no hospital a machina, de que ali se fazia uso para choques electricos, e sobre tudo isto me deixou a sua opinião, que heide cominuaicar á Camara, e à Misericordia da Cidade, que me baviam pedido a attenção do dito professor a estes objectos; e viu os meus ensaios sobre a cultura do Tabaco, e do Cafe, podendo informar a V. Ex. da excellente vegetação d'estas plantas n'este clima.

Espero pois, que El-Rei N. S., se contentará com o desempenho dado pelo dito professor à commissão de que foi encarregado, e que d'ella virá proveito ao serviço do Mesmo Senhor, a que V. Ex.a se dignará apresentar a carta inclusa, que a Camara d'esta Cidade me dirigiu, para levar à sua Real Presença em nome d'esta Ilha, os seus agradecimentos pela solicitude do Mesmo Senhor, em beneficio d'ella, manifestada por esta commissão, que foi servido mandar a S. Miguel.

Contava de mandar n'esta mesma occasião a V. Ex. o principio da conta da minha commissão, relativa aquella parte das instrucções. que me foram dadas, que respeitava à real fazenda de S. Miguel, mas a brevidade com que sabe este navio. não pernittin concluil-a, e V. Ex. a receberá pelo Correio Maritimo, que esperamos em poucos

dias.

a

Concluo por isso professando a V. Ex.a todo o meu respeito e toda a minha obediencia Deos guarde a V. Ex. muitos aunos S. Miguel de Outubro de 1825 Ill.mo e Ex.mo Sr. Joaquim José Monteiro Torres

J. F. C. da Costa.

De V. Ex.
O mais rev.

a

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v. e fiel creado

V.

ARCHIVO DOS AÇORES

CENTENARIO

DE

CAMÕES

10 DE JUNHO DE 1880.

Festejos na Villa da Ribeira Grande

O Immortal cantor dos Lusiadas, aquelle a quem a patria offereceu em 10 de junho de 1580 uma cova raza, despida das gallas e dos apparatos devidos a tão grande genio, recebeu no tri-centenario da sua morte as maiores demonstrações do apreço em que era tido, principe dos poetas, por Portuguezes e Estrangeiros.

Não ha uma só cidade, uma só villa no Continente do reino que não dedique festas a Camões no seu tri-centenario.

Os Açores tambem commemoraram as glorias do grande epico, e esta villa tomou parte n'esses festejos tributados áqueile, que cantantando os Lusitanos, immortalisa-os com o seu poema. que é a maior riqueza litteraria de Portugal.

A narração d'esse tributo consagrado à memoria do cantor das nossas glorias é o assumpto d'estas linhas.

Os socios installadores do Gabinete de Estudo, creado em janeiro d'este anno, promoveram uma subscripção para commemorar o triCentenario de Camões, e com elle os seus grandes feitos, não só como poeta, mas ainda como soldado, em cujo peito batia ferventemente o nobre sentimento d'amor da patria.

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Eis como se houveram no desempenho de tão nobre missão.

Uma salva de vinte e um tiros, ás 5 horas da manhã, annuncion os festejos do dia 10 de junho n'esta populosa e liberal villa da Ribeira-grande, e em seguida a banda de musica---Voz do Progressopercorrendo varias ruas executando primorosamente um lindo hymno dedicado ao grande poeta, e producção do talentoso mancebo José de Frias Castro, inflammava em todos os peitos as grandezas patrias, e com ellas perpetuava-se a memoria do seu cantor.

A estas manifestações de regosijo seguiu-se o embandeiramento de toda a rua direita, onde está instalado o Gabinete de Estudo, rua de João d'Outeiro, continuação da mesma, Paços do Concelho e casa da Sociedade Fraternidade, que lhe é contigua.

A's 10 horas uma brilhante procissão civica, em que tomaram parte alguns dos srs. vereadores do municipio, auctoridade administrativa e seu substituto, empregados publicos e grande numero de cavalheiros, sahiu do Gabinete de Estudo e foi à magestosa egreja Matriz ouvir uma missa pelo eterno descanço do poeta-soldado, celebrada pelo Rev do Luiz Carlos de Faria; e findo este acto religioso a mesma procissão civica foi aos Paços do Concelho, e ahi pediu aos vereadores presentes para em sessão proporem que a rua, que parte da rua direita aos novos mercados se chame rua de Luiz de Camões-proposta que os vereadores presentes prometteram apresentar na primeira sessão. Findo este pedido. o Rev.do Luiz Carlos de Faria fez sentir que no mesmo edificio dos Paços do Concelho existiam privados da liberdade alguns miseraveis, cumprindo as pennas que a lei lhes tinha imposto; e que para elles pedia uma esmola; este reclamo de caridade foi por todos acceito, e em seguida distribuida pelos presos uma soffrivel esmola. D'aqui seguiu a mesma procissão civica para o Gabinete de Estudo; e como batesse as doze horas troou uma nova salva, dando-se em seguida por findo o acto religioso, o sr. presidente agradeceu a annuencia ao seu convite, e annunciou que ás dez horas da tarde, depois da illuminação publica, começava o serão musico-litterario.

A's seis horas da tarde, quando as torres das egrejas diziam aos laboriosos, cessai os vossos trabalhos do dia, na rua de Luiz de Camões, deu-se uma nova salva, annunciando aos povos que breve começava a illuminação publica. A's sete horas illuminou-se brilhantemente toda a rua direita e do João d'Outeiro, Paços do Concelho, e sociedades Gabinete de Estudo, Instrucção e Recreio, Voz do Progresso e Fraternidade; aquellas na rua direita, e esta no largo do municipio.

Numeroso concurso de povo percorreu aquellas ruas, e todos eram conformes em que não ha memoria d'uma illuminação tal; pois na verdade não admiramos só o seu brilhantismo, mas ainda a muita variedade, e o grande effeito que produzia em toda a rua, tornandoa ainda mais brilhante o grande concurso de povo que ali passeava,

seguindo muitos as duas bandas de musica Voz do Progresso e Trimpho, que percorriam aquellas ruas, ficando esta installada, ultimamente, em um palanquim na frente dos Paços do Concelho e aquella na sociedade Instrucção e Recreio, onde está o Gabinete de Estudo, e aonde tinha logar o serão musico-litterario.

Pelas oito horas em uma das salas da sociedade Fraternidade, que se achava muito bein decorada, e onde se via um lindo quadro de Luiz de Camões, devido ao habilidoso lapis do sr. Ezequiel Franco, abriu a sessão commemorativa dos festejos n'aquella casa, o sr. vicepresidente, Bento Joaquim Soares de Mello, relembrando os nobres feitos do cantor dos Luziadas. Em seguida usou da palavra o redactor d'esta folha, e em succinto quadro descreveu os heroicos feitos de Camões, já como soldado, já na sua epopeia, e ainda mais no seu amor pela patria; depois discursou brilhantemente o Rev.do Luiz Carlos de Faria, que agradou sobre modo, privando, por assim dizer, a todos os outros mancebos presentes de tomarem a palavra, porque s. s. tinha dito tudo, e por um modo tal, que ninguem se atreveu mais a fallar; e sendo nove e meia horas, e não havendo mais quem pedisse a palavra deu o sr. presidente por finda a sessão.

A's dez horas tocou a muzica Voz do Progresso em uma das salas do Gabinete o hymno a Camões; e em seguida na sala d'honra deslumbrantemente decorada tendo n'um rico painel o retrato de Luiz de Camões, tambem executado pelo talentoso mancebo Ezequiel Augusto Franco, e onde se achavam muitos cavalheiros e um grande numero de senhoras; abriu a sessão o sr. presidente do Gabinete de Estudo, Eugenio Ferreira Moniz, indo entralaçando-se a parte musical com a litteraria. Usaram da palavra os sr. presidente, Ezequiel Augusto Lopes da Silva, Manuel Duarte Silva Junior, e Manuel Victorino Moniz Junior, recitaram-se ainda duas poesias, uma o sr. Aristides Soares, e outra o sr. presidente. O sr. Manuel Victorino Moniz executou com todo o primor uma phantasia sobre Faust. Na parte musica tomaram parte os nossos melhores cantores, o que tudo engrandeceu aquelle dia consagrado á memoria do illustre poeta.

E assim finalisou um dia, grande pelo motivo da sua commemoração, grande pelo enthusiasmo que se divisava em todos os filhos d'esta villa, e maior ainda pelas provas de patriotismo que manifestamos, com a nossa adhesão, ainda que pequena e pobre, á grande festa nacional, tributo de gratidão para com o imminente poeta Luiz de Camões.

(Da Estrella Oriental, N.o 21 de 18 de Junho de 1880.)

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