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portador a S. Ex., o Ministro dos Negocios da Marinha, e Ultramar, para que na Real prezença conste o primeiro resultado dos ditos meus ensaios. Espero, que a outra folha, que ainda se acha em maturação, de Tabaco de muito melhor qualidade. Entretanto tenho a dizer a V. S.as que chegando a esta Ilha o Provedor da Caza da Moeda que ElRey Nosso Senhor foi servido mandar a S. Miguel a solicitações minhas, para coadjuvar a commissão, que se dignou dar-me no Decreto de 30 d'Outubro passado: e tendo elle visto a cultura e uso do Tabaco em França, me segurou que esse, que a V. S.as remetto, é tal qual se usa para fumar naquelle Reyno; e sendo elle mesmo acostumado a fumar, the pareceo este muito superior a todo outro, que ahi se vende pelo contracto para este fim, recommendando-me que no que se achava ainda na terra não fizesse nada mais do que seccar a folha como esta, sem mais preparação alguma. Destino seguir o seu conselho, mas sempre fazer preparar alguma folha, como no Brazil com mel, e outra em manchos, como tenho visto alguma d'America Ingleza, a fim de V. S.as verem por qual destes meios se conseguem melhores resultados. Rogo pois a V. S.as queirão fazer examinar o que lhes remetto agora, communicando-me quanto antes a resulta do dito exame, e o que parece melhor, se seccar simplesmente a folha como essa, se juntar-se-lhe o mel, como no Brazil.

as

O que tenho já visto pela grandeza, e grossura da folha aqui produzida em terrenos ricos, é: que a producção será extraordinaria, e que de 500 plantas, occupando 9:600 palmos de terra, espero remetter a V. S. 4 ou 5 arrobas de folha. Tenho outro igual ensaio em terreno fraco, cujas folhas não chegão nem á metade d'aquellas, e me dizem ser quaes as da cultura da Bahia, alguns Michaelenses, que as virão. A final veremos se a abundancia da producção deve ser descontada na inferioridade da folha, em quanto aos seus usos.

Offereço a V. S. as os protestos da minha consideração, e amizade ==Deus Guarde a V. S.as muitos annos-Valle das Furnas na Ilha de S. Miguel 18 d'Agosto de 1825.--De V. S.as Mt.° certo V."—-V. J. F. C. da Costa == III." mos Snr. José Ferreira Pinto Bastos, e José Bento Pacheco.

N 61

Copia da carta dos contractadores geraes do Tabaco ao Desem. J. F. C. da Costa accuzando o recebimento da amostra do Tabaco que lhe foi remettida com a carta do N.o antecedente.

mo

Ill. Sur. Confirmando o que tivemos a honra de escrever V.

S. em data de 9 do mez passado; agora nos achamos favorecidos. com a de V. S. de 18 do mesmo, noticiando-nos da expedição do seu primeiro resultado na cultura do Tabaco, consistindo em dois pequenos rollos, um encaminhado a S. Ex. o Ministro da Marinha, e o outro a nós; sendo ambos feitos da folha, que se antecipou a amadurecer d'aquella planta. Chegou felizmente um dia destes a embarcação que conduz as referidas amostras, mas apenas podemos dizer que fica recolhida na competente arrecadação a que nos vem dirigida, e que vamos dar as nossas ordens tanto para se conhecer, apreciar a qua lidade deste Tabaco, e o melhor uso que delle se pode fazer, coino tambem averiguar se convem preparal-o com mel, como se usa no Brazil, ou simplesmente seccar a folha como se fez com esta amostra, que acaba de chegar.

Daremos a V. S.a parte destas experiencias, logo que nos seja possivel; e por agora nada mais se offerece, que de novo certificar, o muito respeito, e consideração com que somos -De V. S.-I]].TM° Sur. Des.dor V. J. F. C. da Costa-Obsequiosos, e att.os Ven.res e C.dos --José Ferreira Pinto Bastos & C.--José Bento Pacheco & C.-Lisboa 13 de Setembro de 1825.

62

Copia da carta do Desem.dor V. J. F. C. da Costa, aos contractadores geraes do Tabaco com outras amostras de Tabaco, depois de recebida a carta dos ditos Snr.3 que vae no N.o antecedente.

Ill.mos Sur.-Recebi a de V. S.as de 13 do passado. accusando o recebimento da primeira amostra, que lhes remetti do Tabaco produzido nesta Ilha, nos ensaios que tenho feito da sua cultura, e espero a participação que V. S. ine annuncião sobre o seu prestimo, e

usos.

Agora aproveitando a opportunidade do correio maritimo, remetto a V. S.as mais dois rollos, da folha proveniente da mesma cultura, mas com alguma diferente preparação. A que vai no caixão N.° 1. levou alguma pequena porção de mel ao tempo de se enrolar a folha para fazer a corda; e a que vai no caixão N.o 2.° depois de levar a dita pequena porção de mel ao dito tempo de se fazer a corda, levou por fora della uma outra pequena porção de mel em volta da mesma corda quando esta se passou d'um rollo para outro rollo.

Tinha sido informado de que o Tabaco da Bahia, quando vem dos campos para os trapichos, já com a corda feita em que se introduzio

algum mel ao tempo de a fazer para amaciar a mesma folha, se passa nos ditos trapichos d'um rôllo para outro, tornando a untar-se por fora a dita corda com algum mel antes de a metter nos coiros, em que costumava vir para Portugal: e por isso fiz os dois diversos rollos, um somente com a primeira preparação de mel, e outro tambem com a segunda. Em ambas as ditas occasiões fiz empregar o dito mel em muito menor quantidade do que sei que se emprega na Bahia.

V. S. as hão de fazer-me a mercê de empregar as suas experiencias separadamente em uma, e outra das ditas amostras para me communicarem os resultados tambem separadamente, em quanto a cada uma dellas, a fim de ajuisarmos o que produziu para bem, on para mal, o emprego do mel, e podermos tirar para o futuro uma regra sobre a conveniencia do mesmo emprego, em maior ou menor quantidade nestas preparações.

Cuido, que a folha ha de continuar com o tempo a entrar em menos fermentações, e que estas poderão tambem acrescentar-se com o calor do navio na passagem da linha, o que tudo ha de produzir effeitos, e resultados em quanto à dita folha: e por isso de ambas as ditas duas amostras deixei aqui um pequeno rollo, para vermos a differença que o tempo nelle produz, e d'aqui a mezes hei de tambem remetel-os a V. S.as para os fazerem fabricar, e termos tambem o conhecimento do influxo do tempo, e da antiguidade na folha, relativamente ao seu prestimo e usos.

A S. Ex. o Ministro do Ultramar mando tambem agora duas pequenas amostras tiradas de cada um dos ditos rôllos, que não passarão de 5, ou 6 arrateis: e os rollos que a V. S.as mando tem aqui. do N.o 4.o 4 arroba, 19 arrateis e 34; e o do N.o 2.o 2 arrobas e 5 arrateis, indo cada um delles em seu diverso caixão para maior commodidade, e perfeição do transporte, indo esta, bem como os ditos caixões pela mão do Snr. Commandante do dito correio maritimo, o Infante D. Sebastião, que a V. S.as ha de entregar uma e outra coisa. E concluo protestando a V. S.as toda a minha consideração, e amizade, offerecendo-me em tudo quanto for dos seus serviços. Deus Guarde a V. S.as muitos annos. S. Miguel 10 de Outubro de 1825De V. S.as-Muito certo V.or V. J. F. C. da Costa. José Ferreira Pinto Basto, e José Bento Pacheco.

Ill.mos Snr.

(Continua.)

UMA CRUZ HISTORICA

NA

JLHA GRACIOSA

Existe na Villa de Santa Cruz da ilha Graciosa um respeitavel monumento, que affrontando impavido o gelo dos seculos e a acção destruidora do tempo, ainda hoje attrahe a admiração do caminhante despertando-lhe profundo respeito e veneração.

A cruz, a que nos referimos, está collocada em frente do porto da Barra, ha mais de tres seculos.

Em volta d'esta cruz, que parece à primeira vista feita de pedra, ha um gradeamento de madeira, de forma heptagona, e dentro um pedestal da mesma forma com cinco degraus, medindo todos 2m,17 de altura. Em um d'estes lê-se o seguinte: Foi posta em 1520. Removida em 1867.—0. P.

D'aqui eleva-se uma haste de 3,64 de altura tendo na parte superior uma esphera, parecendo tambem de pedra, com 0,50 de diametro, onde está gravado este nome: Antonio de Freitas. E' sobre esta esphera que se ergue uma cruz de primoroso lavor artistico, medindo 1,38 em todo o seu cumprimento.

Como dissemos, este elegante e antigo monumento parece à primeira vista feito de pedra, porém julgamos ser outra a sua natureza, parecendo-nos mesmo uma massa talvez composta de talco com alguns productos mineraes, porquanto segundo ouvimos, corta-se como zinco, e em dias de sol temos visto reluzir n'ella milhares de particulas metallicas, como brilhantes escamas douradas. E mesmo a admittir-se a natureza de pedra, como poderia esta cruz tam exposta aos rigores do tempo. chegar até nós, atravessando o não pequeno periodo de mais de tres seculos e meio?

Julgamos por isso que será outra a sua natureza.

Com respeito a este monumento refere a tradicção que antigamente aportára a esta ilha um navio trazendo tres cruzes, e que em consequencia d'um voto feito por occasião de naufragio imminente

deixára n'esta ilha aquella que ainda hoje existe, uma em Teneriffe e outra na Africa.

Effectivamente existe em Teneriffe uma cruz egual a esta junto d'una egreja. segundo nos informou testemunha ocular: na Africa não sabemos se tambem existe a outra a que se refere a tradicção.

Devemos porem notar primeiro que n'aquelle mesmo local e no anno de 1520, segundo consta, foi fundada uma ermida com o orago do martyr S. Sebastião, por Antonio de Freitas, que é naturalmente o mesmo, cujo nome se lê no globo da cruz. Devemos tambem attender a que a data da collocação d'aquella cruz coincide perfeitamente com a fundação da ermida, e por isso inclinamo-nos a acreditar que fora Antonio de Freitas que a comprou ao navio, ou effectivamente a trouxera de Guimarães, como tambem se diz, para a collocar junto da sua ermida, que resolvera fundar, como fundou, no mencionado logar fronteiro ao porto da Barra d'esta villa.

A pretendida conjectura de que fora esta cruz, que dera o nome tanto ao orago da egreja matriz, como á villa, não pode admittir-se : a chronologia dos factos repelle-a, como vamos demonstrar.

A egreja matriz d'esta villa foi fundada em 1500 e é n'este mesmo anno, que D. Manoel elevou à cathegoria de villa a povoação de Santa Cruz; portanto, temos, a serem authenticas estas datas, a collocação d'este monumento posterior 20 annos, tanto á creação da villa, como á edificação da matriz, que já existia necessariamente com O seu orago.

Faltam-nos os elementos necessarios para investigar devidamente tal ponto, e mesmo nos registos publicos da ilha infelizmente nada se encontra a este respeito: todavia acreditamos que o orago da matriz deriva talvez do dia em que a ilha foi descoberta, que se presume ter sido a 3 de maio de 1450 (a) dia em que se festeja a invocação de Santa Cruz, passando depois a ser o nome do orago, bem como e da villa. Vem agora a proposito uma ligeira observação.

Se a matriz, como se presume, foi a terceira egreja da ilha fundada em 1500, e se antes d'ella apenas existiam as duas ermidas de Santo André e S. Pedro, que o povo edificon à sua custa, como se explica o facto do infante D. Henrique no sen testamento feito em 1460 (b) declarar solemnemente que ordenou e estabeleceu uma egreja na Graciosa ?

Que egreja seria esta?...

Temos fé que o benemerito e erudito director do Archiro oppor

(a) Cordeiro-Hist. Ins.

(b) Arch. dos Açores--pag. 334.

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