Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

Q

XVII.

Enlevado na doce vista da sua amante.

UANDO da bella vista e dôce riso

Tomando estam meus olhos mantimento,

Tão elevado sinto o pensamento,

Que me faz vêr na terra o Paraiso.

Tanto do bem humano estou diviso,

Que qualquer outro bem julgo por vento:
Assi que em termo tal, segundo sento,
Pouco vem a fazer quem perde o siso.
Em louvar-vos, Senhora, não me fundo;
Porque quem vossas graças claro sente,
Sentirá que não póde conhecellas.

Pois de tanta estranheza sois ao mundo,
Que não he de estranhar, dama excellente,
Que quem vos fez, fizesse Ceo e Estrellas.

XVII.

In deep admiration of his beloved.

HEN of the lovely sight my feeding eyes

WHE

Devour their joy, and of the honied smile, I feel my thoughts so lifted up the while, That earth to me appeareth Paradise : And human bliss so far, so separate lies, That any other bliss I deem but wind; So that in such a temper, to my mind But little wants it that the judgment flies. Lady, of praising thee I make not show, For he who doth thy beauties clearly prove,

Must prove that to conceive them 'tis not given;

So great a wonder art thou here below,

That, lovely nymph, no wonder can it move,

That He who made thee made the Stars and

Heaven.

LONDON, September 1880.

XVIII.

Queixa-se das suas proprias memorias, e do esquecimento da parte da sua amante.

D

OCES lembranças da passada gloria,

Que me tirou Fortuna roubadora, Deixai-me descansar em paz hum'hora, Pois comigo ganhais pouca victoria. Impressa tenho na alma larga historia Deste passado bem, que nunca fôra; Ou fôra, e não passara: mas ja agora Em mi não pode haver mais que a memoria. Vivo em lembranças, morro de esquecido

De quem sempre devêra ser lembrado,

Se lhe lembrara estado tão contente.
Oh quem tornar podera a ser nascido !
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente.

XVIII.

A complaint against his own memories and the forgetfulness of his beloved.

WEET memories of a glory past in vain,

SWE

Which Fortune, the despoiler, snatched full

blown,

Grant me to call one hour of peace mine own,
For conquest over me is small to gain.

My soul large story doth impressed retain

Of this past good which never should have shone, Or, having shone, ne'er fled; but, being flown, Nought but my recollections can remain.

I live in memories; being forgotten die,

By her whose memory should have held me fast, Had she those pleasing hours remembered still : Oh! that a new life were my destiny;

Well had I known to enjoy the good that's past, Had I but known to test the present ill.

FIUME, August 1880.

XIX.

A linda poesia, feita á morte de D. Catharina de Athaide.

LMA minha gentil, que te partiste

AL

Tão cedo desta vida descontente,

Repousa lá no Ceo eternamente,

E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Ethereo, onde subiste,
Memoria desta vida se consente,

Não te esqueças de aquelle amor ardente,
Que ja nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dôr que me ficou
Da mágoa, sem remedio, de perder-te;
Roga a Deos que teus annos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a vêr-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

« VorigeDoorgaan »