Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

Uns cahem té os hombros divididos,

D'outros partido o corpo cobre o chão,
Partem-se arnezes, grevas e celadas,
Qual se foram de massa fabricadas.

Voavam pelo ar confusamente,

Rochas de lanças, malhas, settas duras,
Faíscando das armas, reluzente,
Linguas de fogo palidas e escuras :
Qual impellido vai, qual livremente
Atropellando os corpos e armaduras
parar n'aquelle estrago horrendo,
Que o grande dom Nun'alvr'es vai fazendo.

Até

Nadando em sangue alheio, e carregado
De virotes de lanças e farpões,
Como o leão de Lybia magoado,
Bramindo vai cortando os esquadrões:
Um ribeiro de sangue corta o prado,
Tingem-se n'elle as plumas e pendões,
Lanças, braços, cabeças, pernas corta;
So lhe para diante a gente morta.

Com um grande tropel de cavalleiros
De Alcantara o mestre alli soccorre,

Rompendo em Nuno as lanças os guerreiros,
Como o mar quebra as ondas na alta tôrre,
De um golpe a seus pés chama os dous primeiros,
E entre elles estirado o mestre morre,

Partido o elmo em dous c'uma ferida Donde exhalada em sangue lança a vida.

D'estes golpes mortaes como aturdidos,
E da sombra luzente de aço fino,
Pisando corpos mortos sem sentidos,
Ja voltam os de atrás perdendo o tino;
Alli a grita, as vozes e alaridos
Dos que guiava á morte o seu destino
O campo, o ceo e os montes atroavam,
E as espadas ardentes se encontravam.

N'este tempo dom Pedro o de Vilhana
Com a furia das gentes que
trazia
Vai rompendo a vanguarda Lusitana;
Para onde o Mem Rodrigues se estendia,
Alli se esforça a gente Castelhana,
Que em bando sobre as alas recrecia,
Mas de um crespo furor arrebatados,
Se involvem na batalha os namorados.

Mem Rodrigues ensopa a dura lança,
Rui Mendes, o irmão, emprega a sua,
Vasco Martins de Mello não descança,
Que elle so faz batalha fera e crua:
Aonde do braço seu o golpe alcança,
Deixa o sangue banhando a carne nua ;
E é tanta a gente armada com que intende,
Que nenhum golpe em balde se despende.

De ca move Antão Vasques, que batendo
Qual javali furioso os dentes vinha,

[ocr errors]

<<San Jorge!>> aos seus, «san'Jorge!» vem dizendo,
E a sua espada ás outras encaminha;
Per lanças, per espadas vai rompendo,
Nenhum dos seus tras elle se detinha,
Para onde o valeroso e bom Pereira
Arvora entre os imigos a bandeira.

Os valentes Inglezes, que desejam
Mostrar de seu valor toda a bondade,
Com esforço immortal por nós pelejam,
Que bem mostram nas obras a vontade:
Os contrarios Franceses os invejam,
Que, aindaque os anima e persuade
Número desigual de armadas gentes,
Desmaiam vendo os poucos tam valentes.

Tinha de negro sangue feito um lago
Que em ja defunctos corpos faz reprêza,
Fazendo áquella parte grande estrago
Na gente amedrentada sem defeza;
Quando o mestre feroz de Santiago
Entra com nova fòrça n'ésta empreza :
Oh Deus ! que então se via em grande aperto
, que o ceo de lanças ve cuberto.

Nuno

Andava o fero e Lusitano Marte
Entre nuvens de lanças e farpões,

Correndo a uma parte e outra parte,
Sustentando na vista os esquadrões;
Aqui e alli ferindo se reparte,
Iguala os cavalleiros e peões:
Mas na confusa gente que recrece
Ja nem aos seus guerreiros apparece.

Mas o rei portuguez, que n'ella attenta
Em quem so tinha a patria sustentada,
Ante os seus animosos se apresenta
C'uina facha na mão dura e pesada;
E qual o sol na furia da tormenta
Alegra a gente nautica infiada,

Que sorver-se no abysmo viu mil vezes,
Tal o rei se mostrou aos Portuguezes.

«A elles, Lusitanos esforçados,

Que eu sou rei vosso, e vosso companheiro,
A elles (vai dizendo em grandes brados):
Vamos desenganar este estrangeiro.>>
Tras elle os Portuguezes animados
Seguindo o seu farol tam verdadeiro,
As fòrças renovando, os braços movem
Contra as gentes sem conto, que alli chovem.

Levaram com este impetu furioso

Do campo um grande espaço os esquadrões,
Qual costuma no hinverno rigoroso
Romper valles o Tejo e marachões,

Ja involtos no combate perigoso, Desamparava o sangue os corações. Vendo aos nossos e ao rei que sem receio Ferindo ousadamente anda no meio.

Dom João Afonso Telo, o conde ousado,
Vendo os seus ja de volta e de vencida
Do logar que esperou desesperado,
Honrando a morte certa deixa a vida;
Ante elle corre ja desenganado
Outro que á morte ousado se convida
Por não ver triumphar de aquella empreza
O defensor da patria portugueza.

Este é dom Pedro, o fero capitão
Por imigo da patria menos dino
De ser do grande Nuno caro irmão,
Que pelo esforço seu tam peregrino;
O qual vendo que anima os seus em vão,
Porque á morte os entrega o seu destino;
Tendo por affrontosa a vida cara,
Entre os contrarios fere, e não repara.

que uma grossa lança assás ligeira Sem se ver donde fora despedida, Derriba em terra o misero Pereira, Que c'o novo mestrado perde a vida. N'aquella fatal hora derradeira

O viu o irmão, porêm não homicida,

« VorigeDoorgaan »